Na imensidão da floresta amazônica, o Acre abriga algumas das serpentes mais venenosas e temidas do Brasil. Entre as espécies que mais preocupam especialistas estão a Jararaca-da-Amazônia (Bothrops atrox), a Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) e a Coral-verdadeira (Micrurus spp.). As três são consideradas de alta relevância médica e estão entre as principais causadoras de acidentes ofídicos na região.
Segundo o biólogo Adriano Martins, especialista em herpetologia, em entrevista ao G1, ele disse que essas cobras possuem glândulas que produzem veneno e dentes adaptados para injetá-lo, o que pode causar sérias complicações à saúde. Por isso, é essencial conhecer as características dessas espécies, onde vivem e como se proteger.
A Jararaca-da-Amazônia é a principal responsável por acidentes com cobras em toda a região amazônica, incluindo o Acre. Com hábitos terrestres, ela costuma ser encontrada em áreas de floresta, margens de rios, plantações e até em zonas urbanas periféricas. Seu veneno tem ação proteolítica e coagulante, causando dor intensa, inchaço, necrose e sangramentos. Em casos mais graves, pode levar a choque e insuficiência renal. A espécie é predominantemente noturna e ataca quando se sente ameaçada.
A Jararaca-da-Amazônia é a principal responsável por acidentes com cobras em toda a região amazônica, incluindo o Acre / Reprodução
Já a Surucucu-pico-de-jaca chama atenção por ser a maior serpente peçonhenta das Américas, podendo ultrapassar 3 metros de comprimento. Rara e de comportamento mais discreto, ela vive em florestas densas e pouco alteradas. Seu veneno, semelhante ao da jararaca, também causa hemorragias e necroses, mas possui efeitos adicionais no sistema cardiovascular, como queda de pressão arterial. Uma curiosidade é que, diferentemente da maioria das cobras venenosas da América do Sul, a surucucu é ovípara — ou seja, bota ovos.
Surucucu-pico-de-jaca chama atenção por ser a maior serpente peçonhenta das Américas, podendo ultrapassar 3 metros de comprimento / Reprodução
A terceira da lista é a Coral-verdadeira, uma serpente de pequeno porte e coloração vibrante, com anéis vermelhos, pretos e brancos. Apesar de raramente causar acidentes, seu veneno é extremamente tóxico. De ação neurotóxica, pode levar à paralisia muscular e respiratória se o socorro não for imediato. Essas cobras têm comportamento fossorial, vivem enterradas e evitam o contato com humanos.
Coral-verdadeira, uma serpente de pequeno porte e coloração vibrante, com anéis vermelhos, pretos e brancos / Reprodução
Essas serpentes vivem em diferentes nichos ecológicos dentro do Acre, como florestas densas, áreas alagadas, campos abertos e bordas de matas. A maioria dos acidentes acontece em zonas rurais, durante atividades como agricultura, coleta de frutos, caça ou pesca. Ainda assim, o especialista destaca que as serpentes são fundamentais para o equilíbrio ambiental, atuando no controle de pragas como ratos, além de serem presas de aves de rapina e felinos.
Além de sua importância ecológica, as serpentes também têm grande valor científico. O veneno da jararaca, por exemplo, deu origem ao medicamento captopril, usado no tratamento da hipertensão. Pesquisas atuais investigam o potencial dos venenos para promover a regeneração de tecidos, coagulação sanguínea e até tratamentos neurológicos com neurotoxinas.
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Para evitar acidentes com serpentes peçonhentas, é fundamental adotar medidas preventivas, como o uso de botas e perneiras, evitar caminhar à noite em áreas de mata e sempre prestar atenção ao solo, evitando folhas secas, buracos e troncos caídos. Também é importante não tentar manusear serpentes e manter distância caso aviste uma.
Em caso de picada, o recomendado é lavar o local com água e sabão, manter o membro afetado elevado e procurar imediatamente atendimento médico. A pessoa deve permanecer calma, hidratada e imóvel até a chegada ao hospital. Não se deve fazer torniquetes, cortes ou aplicar medicamentos caseiros. Se possível, uma foto da cobra pode ajudar na identificação para o tratamento adequado. Após o acidente, é indicado repouso de 10 a 14 dias.