O gentílico acriano, que começou a fazer parte da nova regra ortográfica, causa discussões dentro e fora do Acre. Com a obrigatoriedade das novas regras, os acreanos agora são “acrianos” desde o dia primeiro de janeiro.
No Acre, os veículos de comunicação se dividem quando o assunto é a adesão das novas regras. A polêmica, que acontece desde 2012, segue até os dias atuais, com uma diferença: agora, o único termo que deve ser usado, de acordo com a Academia Brasileira de Letras, é “acriano”.
O jornalista Altino Machado faz parte do time de jornalistas que se posiciona contra a mudança. Hoje, ele afirma ser a favor do uso dos dois gentílicos. “Sou a favor que possamos usar os dois, acreano e acriano, como usávamos antes”. Em 2012, época em que a polêmica teve seu ápice, o jornalista já havia se posicionado. “Independente disso [da decisão], este blog [seu blog pessoal] e eu seguiremos sendo acreanos”.
Órgãos como a Academia Acreana de Letras já se posicionaram contra a decisão e, desde 2012, a entidade luta contra a mudança: o documento “Gentílico Acreano: Consagrado por História” teve adesões importantes, como a do poeta e escritor Clodomir Monteiro.
“O habitante natural do Acre tem como gentílico, desde 1878-1880, acreano. Aqui, nesta parte do país, como em outras, há traços regionais fortes. E uma língua é assim: uma riqueza na pluralidade de normas: culta, familiar, literária, popular, técnica etc. A Língua Portuguesa seria muito pobre se apresentasse apenas uma forma para seu léxico, para sua sintaxe”, diz um trecho do documento.
Em outro trecho, a academia considera a atualização no gentílico como equivoco cultural. “Até mesmo os dicionários respeitáveis do idioma pátrio, como Nascentes, Aulete, Aurélio e Houaiss, trazem as duas formas, ou seja, duas variações: acreano e acriano. Mesmo assim, a população sempre elegeu acreano como a forma de denominar aquela pessoa nascida no Acre. E agora, vem o Acordo Ortográfico retirar o uso consagrado pela cultura do lugar, justificando tratar-se de vogal átona que recebe a formação –iano. Assim, trata da formação dos adjetivos derivados dos Antropônimos (Camilo, camiliano; Camões, camoniano etc) da mesma forma que trata os gentílicos derivados do topônimo como Acre (acriano), um equívoco cultural”.

A professora Luísa Galvão Lessa Karlberg/Foto: Reprodução
Em entrevista ao Bom Dia Amazônia, da TV Acre, veiculada em julho de 2015, a presidente da entidade, Luísa Galvão Lessa Karlberg se mostrou a favor do uso do gentílico acreano. Luísa é pós- doutora em lexicologia e lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; doutora em língua portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; membro da Academia Brasileira de Filologia e membro imortal da IWA.
“Sou uma guardiã dos costumes da língua portuguesa. São 137 anos de uso do gentílico. Isso não é brincadeira, para o novo acordo vir e dizer: pela etimologia, seu gentílico se constrói com –iano. Isso é purismo. A língua é uma marca de identidade, de cultura de um povo”, diz Luísa que, assim como Altino, defende o uso dos dois gentílicos.
Veículos como a ContilNet também defendem a conservação da cultura e identidade do Acre através do gentílico. Para a sócia-proprietária e editora-chefe do veículo, Wania Pinheiro, a obrigatoriedade imposta pela nova regra não deveria existir.
“Como editora de um site como a ContilNet, tenho contato com o grande público e posso garantir que a maioria da população acreana não aceita essa imposição. Sou a favor do uso dos dois gentílicos; acho que cada um deve usar o que melhor lhe agradar, mas tenho certeza de que o termo acreano é melhor aceito, por questões culturais e históricas. Penso que devemos nos unir, somar forças e ver uma forma de derrubar essa proibição, que soou como uma decisão antidemocrática”.
Wania conta que um abaixo-assinado, em apoio a Academia Acreana de Letras, será organizado, a fim de que a situação se reverta.