Jorge Viana: “Estamos no fundo do poço e temos que sair desta situação cavada por nós”

Durante uma entrevista coletiva em seu gabinete, na tarde da última sexta-feira (8), onde falou da seca do Rio Acre e da chegada da ex-tucana Socorro Neri a Frente Popular , o senador Jorge Viana, que é vice-presidente do Senado Federal, conversou alguns momentos com a equipe da ContilNet, abordando diversos assuntos, dentre os quais a falência do modelo político atual e sua ação na política do Estado. A seguir os principais momentos da conversa com com o enviado da coluna Pimenta no Reino, o repórter Regis Paiva.

Momento Político

* Estamos no fundo do poço e temos de encontrar formas de saímos desta situação cavada por nós. Vivemos um momento político difícil, onde todos os partidos estão sendo afetados pela ação do Judiciário via Operação Lava Jato. Todos fomos afetados e estamos em uma transição. Todos os líderes de ontem, hoje estão citados e investigados.

* A ação da Lava Jato veio em boa hora, desmascarando mitos e expondo realidades, mas não deve ficar somente no PT, mas deve seguir e expor os demais envolvidos em erros e crimes. Não pode ficar somente em um foco, deve buscar a verdade e punir onde quer que tenha havido falhas. Mas também revela o fracasso do modelo político. Este é o ponto principal e que precisa ser encarado de frente.

JORGE

Jorge Viana, vice-presidente do Senado/Foto: Divulgação

Todos erramos

* Como disse, todos erramos, mas estes erros se deram principalmente pela nossa ineficácia quanto parlamentares, pois ao invés de legislarmos, ficávamos perdendo tempo em embates jurídicos e discutindo com o Supremo Tribunal Federal [STF]. Se fizéssemos as alterações legais necessárias, muito disso teria sido evitado e, talvez, o país não estivesse como está, ingovernável.

* Essa nossa inercia, e aqui a responsabilidade é de todos os que estão no parlamento, permitiu que outros setores passassem a pautar a questão política.

Modelo esgotado

* A grande verdade é que o nosso modelo político está falido e não há condições de governabilidade, seja quem for o presidente. Não existe como se ter coalizão no Congresso com tantas legendas. Lula governou como três, quatro partidos. Dilma com seis a sete. Temer já passou dos 11. É praticamente impossível conciliar tantos interesses e ainda manter um foco em um projeto de desenvolvimento. Algo vai se perder no caminho.

* Hoje existem muitos partidos, basta uma pequena cisão interna e um novo surge. Na minha visão deveria haver algo em torno de cinco a seis partidos no máximo, contemplando as correntes de pensamento político da esquerda à direita.

Proposta de saída

* Uma das saídas e possível solução seria a realização de uma Assembleia Constituinte, onde os parlamentares seriam eleitos exclusivamente para realizar as adequações legais necessárias e não poderiam ser reeleitos, sendo que os senadores que estão ou estiverem no cargo também teriam de respeitar o impedimento a reeleição, de forma a não contaminar o processo.

* Nesse novo momento, toda a estrutura está carcomida. Todos nós nos valemos em algum momento, em maior ou menor grau, dos financiamentos então legais, hoje proibidos pelo STF. Na próxima campanha somente pessoa física pode fazer doação para campanhas política e limitada ao contido no Imposto de Renda declarado. E isso tudo precisa ser revisto com parlamentares eleitos dentro desta nova regra de financiamento, os quais vão legislar com esta nova ótica de impedimento do recurso das empresas.

Esquecido na aldeia

* Eu não estou esquecido ou esquecendo meu Estado. Não me sinto assim. Apenas a função de senador e agora como vice-presidente do Senado, em um momento tão crítico para a Nação e o meu partido, tornam a minha presença mais importante em Brasília.

* Eu não sou governador ou prefeito. Ao Tião [governador] e ao Marcus [prefeito de Rio Branco] é quem cabe a condução do processo político. É claro que eu participo, mas eles têm o comando e são eles que devem decidir.

* Neste momento, o meu trabalho político no Estado é mais de bastidor, de conversas, ajudando na construção política. Não estou distante da base, ainda que a atual função me afaste um pouco, mas não há o ostracismo que alguns insistem em tentar impor. Esse suposto distanciamento é natural quando se exerce o cargo de Senador.

Seca no Acre

* Esta seca está expondo as mazelas de um desmatamento descontrolado. A questão não é a produção bovina, mas a forma como foi implantada, sacrificando as nascentes e olhos d’água. Quando fui governador entendi que o desenvolvimento deveria ser de uma forma, explorando racionalmente a floresta, o Tião [governador] de outra, aproveitando as áreas já degradadas, mas existe esta herança perversa do desmatamento descontrolado, que impactou as nascentes e assoreou os rios.

* Hoje temos a previsão de uma seca muito forte e com os maiores reflexos no vale do Rio Acre e cidades vizinhas, razão pela qual cidades como Bujari, Senador Guiomard e Acrelândia foram incluídas no decreto de emergência, ainda que não necessitem diretamente das águas deste rio. Estamos agindo agora, pois o pico da falta de água será a partir dos primeiros dias de setembro.

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