Emboscada no rio
Quando Meirelles foi flechado, em 2004, já fazia 15 anos que ele vivia na base da Funai na confluência do igarapé Xinane com o rio Envira, responsável por vigiar um vasto território onde se estima haver três ou quatro etnias jamais contatadas.
Ele saía de canoa para pescar quando um grupo de Tsapanawa, etnia ainda isolada naquela altura, armou-lhe uma emboscada. Depois da primeira flechada, certeira, Meirelles aportou o barco e fugiu pela margem, correndo em zigue-zague. Ouviu o zunido e sentiu o vento de uma segunda flecha passando por cima de sua cabeça. Desviou de outras flechadas, deu um tiro para o alto e gritou por ajuda. Só então foi resgatado e salvo por colegas da base.
Dez anos depois, os Tsapanawa buscaram o contato com o mundo exterior, passaram a viver perto da base da Funai e explicaram a Meirelles o motivo da emboscada.
Os índios lhe contaram ter sofrido um ataque de “uns caras assim que nem tu, meio vermelhão, de cabelo meio branco, barbudo”. “‘Quando a gente viu você, pensou: olha ali o parente do cara que matou a minha mulher’. Foi aí que eu peguei a flechada. Simples.”
Meirelles diz que os povos isolados da região lidam há vários anos com agressões de madeireiros e narcotraficantes que trazem cocaína do Peru para o Brasil. Quando levou a flechada, ele imaginou que o grupo estivesse encurralado e aproveitou o episódio para defender, em entrevistas à imprensa e em Brasília, a importância de proteger aquele território.
Depois do diálogo revelador, o sertanista foi procurado pelo autor da flechada. O homem “estava desconfiado, achando que eu ia querer vingar, perguntando se eu não ia matar ele”. Meirelles respondeu que não e o perdoou pelo ataque. “Eu disse: ‘esquece isso aí, foi sem querer’. Não sei se ele ficou envergonhado ou se ficou com medo.”
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