Não é em apenas um jogo que a percepção do mercado do futebol irá se alterar sobre a ordem internacional do jogo. Mas tornaram-se tão raros os choques entre os poderosos europeus e os clubes sul-americanos, fornecedores de jogadores para o Velho Continente, que cada encontro virou uma régua para perceber tamanho da distância que, por vezes, parece um abismo. Esta é uma final de Mundial como nenhuma outra, com condições especiais para as duas realidades se medirem.
A era moderna do Mundial da Fifa coincide com uma galopante progressão do processo de globalização no futebol, com a Europa concentrando dinheiro e astros importados da América. Mas, por outro lado, desigualdade à parte, nunca nesta era moderna a América do Sul se fez representar por um time com as características do Flamengo. A começar pela reunião de talentos e pelo investimento inédito de quase R$ 280 milhões para formar a equipe. O que gera duas expectativas distintas.
A primeira, diz respeito à possibilidade de, mesmo assim, a partida se revelar um mero trâmite para o campeão da Champions. Se acontecer, soará como a evidência de que talvez a distância seja ainda maior do que se supõe, a definitiva constatação de que há dois mundos no futebol atual.
Mas as condições que cercam o time rubro-negro geram uma outra expectativa. Não só de que “dê jogo”, mas de que pela primeira vez se veja um sul-americano disposto a ser protagonista ou, ao menos, dividir protagonismo de uma partida com um europeu que vive o auge de sua era de vitórias. E, mesmo sem ser favorito, com possibilidades reais no jogo.
São Paulo, Internacional e Corinthians venceram o Mundial da Fifa defendendo e apostando em poucas bolas no ataque para ganhar o jogo.
– O que o Flamengo tem feito nestes seis meses é olhar sempre para o gol, para o espetáculo. Nós europeus somos formados com a ideia de que ganhar não basta, é preciso proporcionar espetáculo. No Flamengo temos a sorte de ter jogadores que sustentam a ideia e amanhã vamos olhar para o jogo da mesma forma que nestes seis meses – disse Jorge Jesus.
O Flamengo atual reúne traços que os últimos desafiantes dos europeus não reuniam. Rafinha e Filipe Luís estavam, há seis meses, em plena atividade em clubes do topo da pirâmide da Europa. Gabigol chegou ao Velho Continente como grande esperança e voltou em um ano e meio, mas ainda alimenta esperanças de retornar; Rodrigo Caio foi alvo de clubes europeus; Gérson tem passagem recente pela Itália. E Jorge Jesus comanda uma comissão técnica europeia, com métodos contraculturais no Brasil.
– Quando se chega a uma final de campeonato mundial, o europeu tem os melhores jogadores do mundo, enquanto o time brasileiro tem os melhores do Brasil. Mas os do Flamengo são tão bons que podem vencê-los – disse Jesus.
Ao saber do elogio do rival e da citação à bola parada, Jesus brincou:
– Ele está atento ao Flamengo, está em cima. Ele é também um criador de táticas, criou um 4-3-3 diferente de tudo que já se viu. Há técnicos que são criadores, outros que só imitam.