Secretário espera um ano sem paralisações na Educação e lamenta ter estudantes em facções

Um ano letivo sem greve de professores e outros profissionais da Educação, com escolas funcionando em tempo integral, a garantia de duas refeições por turno e com professores mais descansados e motivados com gratificações e reposições salariais que serão pagas. São estes os projetos da Secretaria de Educação do Estado (SEE) para 2020, segundo revelou o titular da pasta, professor Mauro Sérgio Cruz, em entrevista exclusiva ao ContilNet.

Na semana em que as escolas estaduais, 625 estabelecimentos em todo o Estado, retomaram as atividades, movimentando um contingente de mais de 160 mil estudantes, com idade a partir dos seis anos, na pré-escola, a anciãos que estudam no Ceja (Centro de educação e Jovens e Adultos), o secretário Mauro Sérgio admitiu que o ensino vem perdendo alunos para as facções criminosas. O abandono escolar varia de 9 a 11 por cento, por outros motivos também, como a gravidez na adolescência.

É contra isso, buscando qualidade de ensino, inclusive o profissionalizante, que o governo Gladson Cameli tem se movimentado, disse o secretário, doando fardamento e adotando a estratégia de alunos melhor alimentados e com escolas transformadas em espaços atrativos. O secretário também não acredita que o sindicato dos professores e trabalhadores em educação consiga parar a categoria em greves porque o governo vem negociando e está pronto para pagar as vantagens merecidas pela classe. “Os recursos já estão reservados”, garantiu.

Professor Mauro em entrevista ao jornalista Tião Maia, para o ContilNet/Foto: Reprodução

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O ano letivo foi reiniciado sem problemas, professor? Mesmo com o movimento sindical dos servidores em Educação em pé de guerra com o Governo?

Mauro Sérgio Cruz – Está tudo tranquilo neste reinício. A gente tem conversando com o movimento sindical para tranquilizar a categoria. Existe uma situação referente à Lei de Responsabilidade Fiscal, que foge ao nosso desejo de valorizar ainda mais e de fazermos pelo menos o repasse da inflação para os funcionários, mas existe, por parte do Governo, boa vontade de que durante este ano algo de bom aconteça na vida dos professores.

O que por exemplo?

Na Secretaria de Educação, teremos agora no mês de março a chamada “puladinha” [a progressão excepcional de professores, servidores de apoio administrativo educacional e técnico-administrativos educacionais], que é algo que eles têm direito e a gente vai manter, além da VDP [Valorização do Desempenho Profissional], que será paga integralmente e para isso já reservamos o dinheiro. O nosso problema para atender todas as reivindicações do Sindicato, quanto ao repasse da inflação, não compete só à Secretaria de Educação e exige uma discussão mais ampla com a equipe econômica do Governo. Creio que, ainda esta semana, a própria Articulação Política do Governo já estará conversando com representantes do Sinteac [Sindicato dos Trabalhadores em Educação do estado do Acre] para que, baixando esse limite em que a Lei de Responsabilidade Fiscal coloca do Estado do Acre, o Sinteac, com representantes do Governo, sobretudo com gente da Secretaria da Fazenda e da Secretaria de Educação, cheguemos a um cronograma para que esses repasses, lá na frente, possam acontecer. Agora, tudo depende da situação econômica do Estado. A abertura e a boa vontade do Governo existem para que tudo isso possa ser superado e que possíveis greves não venham a dificultar o ano letivo.

Ao que parece, fazia muito tempo que não se começava um ano letivo tão cedo, não é?

Sim. Durante muito tempo não se começava um ano letivo tão cedo. Começamos no último dia 10, sem, claro, a totalidade de toda a rede. Afinal, são 625 escolas, com 160 mil alunos, da pré-escola, aos seis anos de idade, aos Centros de Jovens e Adultos, que pode ir até a idade que o aluno se permitir estudar, além da educação básica e outros segmentos de ensino. Começando o ano letivo mais cedo, a gente acredita que teremos um calendário escolar mais sadio para os professores, porque todas as vezes que a gente começa o ano letivo tardiamente, os professores e todo o pessoal de apoio são obrigados a trabalhar sábados, feriados e dias santos. Assim, teremos também a possibilidade do recesso de duas semanas e a gente acredita que, com isso, teremos professores mais descansados e mais motivados também. Além disso, estaremos também com outras ações buscando sobretudo melhorar a questão e qualidade de ensino. Esta é a questão primordial do nosso trabalho na busca de melhoria dos índices educacionais. A gente precisa diminuir o quantitativo de alunos que abandona as escolas.

Há estatísticas sobre o abandono escolar?

Temos estudos que mostram o abando em torno de 9 a 11 por cento, que é um quantitativo grande em nosso Estado .

Há estudos sobre os motivos dessas desistências, pelo menos de sua maioria?

A grande parte decorre do movimento das famílias. Mudanças de bairro, de município, com as famílias procurando melhoria de vida. Há também a questão do aluno que abandona porque muitas vezes a escola já não é mais interessante para ele. Há, ainda, a questão do trabalho, já que alguns jovens começam a trabalhar e acabam abandonando os estudos, a gravidez e, não podemos esconder isso também, a cooptação pelas facções criminosas…

Já deu para sentir essa cooptação? Muito s alunos deixaram, de estudar para se matricular nas escolas do crime?

Infelizmente, sim. Muitos, que acabaram deixando a escola e acabaram deixando tudo para trás e acabaram se envolvendo com o crime.

E qual a estratégia para combater isso?

Tudo o que estamos fazendo, como, por exemplo, servir agora duas refeições, com um bom cardápio, conforme estabeleceu o nosso governador Gladson Cameli. Nós pensamos que com alunos melhor alimentados, com escolas mais bem cuidadas, climatizadas, com professores mais motivados e mais preparados, com um trabalho em rede que a gente vem procurando fazer desde o ano passado, com a experiência das escolas integrais, a gente possa enfrentar o poderio dessas facções.

Como é e como está sendo a experiência das escolas integrais?

É uma experiência que começa a ser aplicada no Acre inteiro, com escolas funcionando em dois turnos. Na Cidade do Povo, aqui em Rio Branco, em breve estaremos inaugurando duas experiências com crianças do primeiro ao quinto ano o dia inteiro na escola. Teremos o Fundamental agora na Cidade do Povo que vai do primeiro aninho até o nono ano. Então, a gente acredita que o trabalho com as escolas integrais, a gente possa ter mais tempo do aluno dentro da escola e distante dos riscos de aliciamento para práticas criminosas. Aquelas escolas que não são ainda integrais, nós estamos levando, sobretudo para as escolas de ensino médio – onde a gente tem o maior número de alunos que abandonam os estudos – a formação técnica profissional, que é uma exigência e um eixo para que o aluno conclua o ensino médio não só se preparando para ingressar no ensino superior, mas que termine o ensino médio já certificado profissionalmente para o mercado de trabalho. Fizemos uma parceria com o Ifac (Instituto Federal do Acre), que é um grande parceiro nesta área, e também com o Instituto Dom Moacyr, que é um órgão da Secretaria de Educação, e a partir de agora já começamos a desenvolver ações voltadas para a formação técnica e profissional dos alunos que estão nas integrais e nas escolas que estão aderindo o novo ensino médio para que eles possam, tanto nas cidades como nas áreas rurais, se capacitar para o mercado. É nisso que a gente acredita, que, com formação e oferecendo uma escola que possa ser diferenciada para que o aluno permaneça lá dentro e possa se preparar para o mercado de trabalho, a gente possa vencer. Assim a gente estará atacando aquelas motivações que levam os alunos a abandonarem a escola.

O que o senhor tem a dizer sobre a atitude do seu colega lá do Estado de Rondônia que teria mandado, o que ele negou depois, recolher ou censurar grandes obras da literatura brasileira e até universal?

Penso que aquilo lá foi um ato isolado. Inclusive alguns jornalistas me procuraram querendo saber se a gente iria seguir a mesma orientação e eu disse que, muito pelo contrário, a gente quer é incentivar os alunos a lerem. Discordo totalmente desta ideia porque os livros citados são obras que nós lemos na nossa adolescência, na infância. Eu passei pelo seminário e li essas obras. Penso que a gente não pode criar nenhuma possibilidade de censura para que os nossos alunos possam se qualificar ainda mais para a vida e ampliar os seus conceitos em relação ao mundo. A Escola é este espaço onde o aluno precisa se preparar para conviver com o mundo e aqueles autores citados são que nos inspiram ainda hoje nas nossas atividades acadêmicas e profissionais. Nós queremos é que mais alunos se tornem leitores. Mais alunos leitores significa mais alunos preparados para a vida.

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