24 de abril de 2024

País pode perder até 4 anos de aprendizagem na educação básica em 2020

A pandemia pode levar o ensino fundamental brasileiro ao patamar de aprendizagem menor do que o atingido em 2015. Essa é a conclusão do estudo “Perda de aprendizado no Brasil durante a pandemia de Covid-19 e o avanço da desigualdade educacional”, encomendado pela Fundação Lemann e liderado por André Portela, economista e professor de Políticas Públicas da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP).

Portela explica que as estimativas elaboradas podem ter aumentado, visto que a análise foi até outubro e não levou em conta a evasão.

— Isso tudo pesa para ampliar a perda de aprendizagem na média do brasileiro — explica Portela.

Em 2015, os alunos brasileiros atingiram 252 pontos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) no final do ensino fundamental. Quatro anos depois, na última avaliação realizada, a média subiu para 260. Em Matemática, o salto foi de 256 para 263.

Segundo a pesquisa, a perda no aprendizado em alunos do final do ensino fundamental poderá ser de até 9,5 pontos na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) em Língua Portuguesa e 7,9 em Matemática.

Assim, no pior cenário projetado pelo estudo, as médias de aprendizado do Brasil cairiam para 250 em Português e 255 em Matemática.

— As redes de ensino precisam fazer seus diagnósticos e o governo federal pode ajudar com programas nacionais, como compra de materiais e treinamento de professores — sugere Portela.

A perda de aprendizagem pesou diferente entre os estados. A pesquisa fez uma projeção do cenário intermediário e descobriu que, no Paraná, a perda de aprendizagem em relação a um ano típico foi de 27%, enquanto no Pará atinge 50% no ensino fundamental.

Diferentes realidades

A realidade do ensino remoto adotado em cada estado pode explicar o atual cenário. Naiff Sauaia, moradora de um bairro da periferia de Belém, passou 2020 vendo a agonia do filho, de 12 anos, sem aula. Arthur não teve nenhum tipo de atividade escolar entre março e dezembro, mesmo a família tendo acesso à internet.

— O ano letivo de 2020 do meu filho não aconteceu. Minha filha de 8 anos estuda em outra escola. Lá ela tem aula de segunda a sexta, pelo Whatsapp. Dá um desespero, como mãe, ver um filho progredindo, e outro não — conta Naiff, esteticista que, sem poder trabalhar na pandemia, abriu um delivery de quentinhas.

Questionada, a Secretaria de Estado de Educação do Pará informou que, desde a suspensão das aulas presenciais na rede, a secretaria disponibiliza conteúdos e atividades não presenciais através de videoaulas pela TV Cultura do Pará, áudios educativos, conteúdos de aprendizagens, além de uma plataforma educacional, a Enem Pará.

A três mil quilômetros dali, Santiago Kosloski, de 15 anos, teve uma rotina muito diferente em 2020, no último ano do ensino fundamental. Ele estudou todas as manhãs por aulas no YouTube. À tarde, fazia exercícios e podia tirar dúvidas em aulas ao vivo por aplicativos ao mesmo tempo em que matava a saudade dos colegas pela tela do computador.

— A parte que mais gostamos eram os encontros on-line — revela. — Esse era o momento que estávamos com nossos amigos e professores.

O estudo de Portela também considerou os alunos do final do ensino médio. Num ano típico, os estudantes brasileiros aprendem 8,8 pontos em Língua Portuguesa e 7,1 em Matemática. No entanto, em 2020, podem perder até 6,3 e 5,1 pontos, respectivamente.

Na avaliação de Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial, a recuperação de aprendizagem passa pelo reforço do ensino remoto, com acesso de alunos a equipamentos digitais e pacotes de dados, e o retorno presencial às aulas em locais com a pandemia controlada.

— Nos ajuda muito o fato de a maior parte do país ter currículos municipais já definidos. Isso significa que os gestores conseguem saber o que os estudantes não aprenderam para priorizar em 2021 — ressalta. — Também é preciso identificar os alunos que precisam de uma recuperação mais forte e priorizá-los, deixando mais tempo na escola ou com mais dias no rodízio de aulas presenciais.

A pesquisa comandada por Portela considerou três variáveis para a simulação: a quantidade de aprendizagem de um aluno brasileiro num ano típico; o tempo de interrupção das aulas no momento da pesquisa; e o quanto o aluno pode ter aprendido no ensino remoto.

Para calcular a terceira variável, os pesquisadores criaram três cenários: otimista, intermediário e pessimista. O primeiro considera que os alunos aprenderiam através do ensino remoto tanto quanto no presencial, desde que realizassem as atividades escolares; no segundo, aprenderiam através do ensino remoto proporcionalmente às horas gastas com atividades escolares; por último, não aprenderiam com o ensino remoto.

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