No Acre, fotos de exposição ‘derretem’ e viram arte e reflexão sobre efeitos climáticos

“Resolvi assumir isso e recriar um conceito”, diz a criadora da exposição

Neste sábado (11), às 19h, na Usina de Artes João Donato, tem a abertura da exposição “Acre em -Desconstrução- Ebulição”, idealizada pela artista visual Hannah Lydia, 27. O título do evento, estilizado, reflete os acontecimentos inesperados que anteciparam sua realização, já que, as fotos que seriam expostas foram derretidas graças às ondas de calor recentes, fato que não acabou com a vontade da artista, pelo contrário, a renovou.

Hannah Lydia é artista visual. Foto: Reprodução

Hannah se vê como artista visual, fotógrafa, no fim de tudo, apenas artista. Segundo ela, a fotografia a acompanha na vida desde muito cedo, ela não consegue se separar deste mundo em sua trajetória:

“Eu lembro que com 13 anos, eu já gostava muito de fotografia. E aí, eu queria muito uma câmera e eu ganhei uma, mas antes disso eu já gostava, só que eu não tenho muitas lembranças, eu tenho lembranças de fazer foto com celular, tirar foto de tudo, porque eu sou muito apaixonada por memória, sabe?”

A fotografia sempre esteve atrelada a Hannah, nasceu com ela, segundo ela. O que se registra no seu jeito de falar manso e hipnótico, seu olhar curioso, sua admiração por insetos mortos, entre outras características que mostram como a arte não está só na sua câmera, mas no seu corpo. Como ela fala: “A arte está no despropósito”. Ou seja, no inesperado, no imprevisto. Algo que, pelo menos nesta exposição, ela experimentou muito bem.

Foto: Reprodução

“Para chegar nessa exposição, eu tenho muitas fotos do Acre, do cotidiano. E essas fotos são todas com celular, às vezes eu vou lá no centro e tiro um tempo para fotografar. Vou andando e todas essas fotos da exposição são o resultado disso, de andanças minhas pelo Acre.” Relata a artista.

Hannah usa o celular pois acha menos impositivo que uma câmera. Porém, para a exposição, a fotógrafa se utiliza de uma técnica que já utiliza faz tempo: a foto híbrida. Que é “tirar a foto e depois usar técnicas na própria foto para transformar em outra coisa”. Queimando, cortando, colando, tudo vale. Com experiências passadas na cabeça, ela inscreveu o projeto para o Sesc, passou e essa seria a ideia, “seria uma desconstrução de algo que já estava ali”, como diz.

Até que tudo derreteu. Hannah explica o que aconteceu:

“As fotos já estavam impressas e eu deixei dentro do carro. O meu carro passa o dia inteiro no sol e quando eu entrei no carro, saindo do trabalho, as fotos estavam todas deformadas, eu levei um susto muito grande. Nunca tinha visto isso na minha vida! E aí eu pensei e falei: Ah, eu vou usar elas assim mesmo, porque elas sofreram alterações. Não por mim, mas pelo tempo que a gente está sofrendo, um calor enorme no Acre e no Brasil todo”.

Para ilustrar a situação, Hannah lembra uma foto que tirou que exemplifica bem a situação – a que está no cartaz da exposição.

“É uma foto de uma cheia. A água chegou em um lugar que nunca tinha chegado antes e tem uma árvore que eu fotografei na enchente, quando a árvore estava praticamente coberta de água e ela num dia comum de sol”.

A foto usada no cartaz da exposição. Foto: Hannah Lydia

A artista diz que, como não sabia se poderia mudar o título da exposição – por já estar inscrita no edital -, ela decidiu mudar no cartaz, tachando o “desconstrução” e substituindo por “ebulição”, fazendo referência à ebulição global que o planeta está passando. E assim, um novo conceito, não tão distante do primeiro, se desenhou.

A vida de Hannah é cheia de coincidências. E não poderia ser diferente em seu trabalho, segundo ela.

“A arte se recria todos os dias, é viva, é um órgão vivo que se transforma e isso que aconteceu comigo, as coisas se transformaram e eu ao invés de desistir da exposição e me desesperar. Eu resolvi assumir isso e recriar um conceito, recriar a exposição”.

A exposição estará disponível de 11 de novembro a 11 de dezembro. Com curadoria de Rafaela Zanatta e Rosilene Nobre.

Vale conferir, afinal, a vida pode ser cheia de imprevistos, mas a arte, como mostra Hannah, a artista, pode ser parte e resultado deles.

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Matéria produzida sob supervisão do editor-chefe do site, Everton Damasceno.

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