O Ministério Público do Acre (MPAC), por meio do promotor Dayan Moreira, informou com exclusividade ao ContilNet nesta segunda-feira (4) que irá instaurar notícia-crime e abrir inquérito para investigar os influenciadores e os financiadores do ‘joguinho do tigre’.
A decisão do MPAC surgiu após a matéria exibida pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo (3), em que revelou um esquema milionário envolvendo influenciadores que aliciam outras pessoas a investir dinheiro no jogo on-line.
Mesmo não havendo casos no Acre que chegaram ao conhecimento do Ministério Público, a promotoria decidiu abrir o processo investigativo.
“A partir do momento que a gente tomou conhecimento, vai ser instaurado procedimento. O fato é um fato criminoso. Vai ser requisitado instauração de inquérito policial, que fica a cargo do delegado e vamos buscar e averiguar quem está divulgando, inclusive patrocinando. Por trás dos divulgadores, tem a empresa e pessoas que bancam”, disse o promotor.
No Acre, há uma série de influenciadores que divulgam o jogo on-line que promete rendimentos absurdos.
Um deles é o influenciador é ‘Arcanjo Slots’. Slots é um termo utilizado nos jogos de cassinos on-line. Com mais de 12 mil seguidores, ele divulgou ganhos que ultrapassam os R$ 18 mil. Além disso, também nas redes sociais e de forma pública, ele declarou que já comprou casa, carros, moto e celulares de última geração. Tudo isso com os valores do ‘jogo do tigrinho’.
“Obrigado meu Deus por mais uma conquista. Nada disso seria impossível sem a sua permissão. Tiger [tigre em inglês] tornando meus sonhos em realidade”, escreveu em post sobre a compra de um carro novo, avaliado em mais de R$ 80 mil.
A influenciadora Luhana Diniz é outra que também divulga as plataformas nas redes sociais. Em um post, inclusive, a acreana oferece ‘gerenciamento de banca’ do jogo on-line, com dicas de apostas. No perfil, ela disse que está ‘realizando sonhos através das apostas’.
Nem Arcanjo e Luhana são investigados pelo MP. Os posts de divulgação do jogo foi feita de forma aberta e pública nos perfis.
Inquérito
A polícia suspeita de ligação do jogo com esquema de pirâmide financeira. Ou seja, pessoas são recrutadas para participar com promessa de retornos elevados, mas poucas, de fato, recebem grandes pagamentos.
Segundo reportagem do Fantástico, os influenciadores ganhavam entre 5 mil e 15 mil por campanha de sete dias de divulgação da plataforma.
Nos perfis na internet, eles trocavam dicas sobre como jogar. Além de criar promoções e rifas eletrônicas na tentativa de atrair mais participantes. Isso porque, segundo a polícia, o grupo recebia entre R$ 10 e R$ 30 por cada novo cadastro nas plataformas.
No Acre, há inclusive, grupos de WhatsApp, criados pelos influenciadores que justamente servem para dar dicas sobre horários, métodos e os caminhos para conseguir ganhos extraordinários.
Com esses grupos, os influenciadores divulgam ‘links’ das plataformas dos jogos. Quanto mais acesso e pessoas se cadastrando nesses links, mais ganhos os influenciadores têm.
Os acusados podem ser investigados por crime contra à economia popular, associação criminosa, exploração de loteria sem a autorização legal e lavagem de dinheiro.
Tigrinho no Acre
Em um levantamento do Google Trends, o joguinho do Tigre liderou as pesquisas por jogos no mês passado. De acordo com o site, o Acre é um dos estados líderes no ranking de interesse pelo jogo.
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O Jogo do Tigre é uma versão brasileira do Fortune Tiger, e funciona de forma on-line, em smartphone e computador. A plataforma foi alvo de investigações policiais por supostas fraudes e endividamentos de pessoas.
Na página oficial de Fortune Tiger na KTO é explicado que a aposta média dos brasileiros é de R$1,78, que a aposta mais colocada é de R$ 0,50 e que a média de apostas diárias é de 75. Para atrair os jogadores, o site ainda informa que supostamente uma pessoa teria sido premiada em R$ 270 mil.
Em entrevista ao TecMundo, a advogada Beatriz Alaia Colin, do escritório Wilton Gomes Advogados, afirma que o Jogo do Tigre é ilegal no Brasil. Ela pontua que os cassinos online são considerados jogos de azar — em que o ganho ou perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte — e por isso não são permitidos.
A especialista pontua que tanto quem joga quanto quem oferece o serviço pode ser penalizado. Segundo ela, a legislação brasileira prevê penas de 3 meses a 1 ano de prisão a quem “estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele”. Também há previsão de multa de até R$ 200 mil para quem for encontrado jogando.