22 de abril de 2024

Ex-merendeira da prefeitura de Rio Branco comemora aprovação em Direito na Ufac

A vida da ex-merendeira escolar Siwandressa Cibelle dos Santos mudou em 2009 após grave acidente de trânsito em Rio Branco. Depois de fraturar o fêmur e a bacia, ela teve de ser internada e, durante o processo, contraiu tromboembolia pulmonar e outras complicações clínicas. Devido a isso, a jovem precisou ser entubada e colocada em coma induzido.

Após sete dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), começou a apresentar melhoras. Cibelle passou dois anos sem andar e só depois de intenso tratamento é que conseguiu superar a limitação. Porém, as marcas e sequelas desse acidente são perceptíveis até hoje. A jovem teve a perna esquerda encurtada e passou a sofrer de leve insuficiência respiratória.

Mas a ex-merendeira não deixou sua condição abalá-la. Pelo contrário. Aproveitou a segunda chance para ressignificar a vida e vem dando a volta por cima com muita força de vontade. Hoje com 30 anos, realizou um antigo sonho: foi aprovada em Direito pela Universidade Federal do Acre (Ufac) no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“Quando fiz o vestibular pela primeira vez, em 2008, queria me inscrever em Direito, mas minha mãe sugeriu que tentasse inicialmente um curso menos concorrido para entrar logo na universidade, e, nos anos seguintes, ir tentando passar na faculdade que eu queria. Assim, fui aprovada e me formei em História na Ufac. Agora, com a aprovação em Direito, começa uma nova fase na minha vida”.

Cibelle e os colegas do novo emprego de motorista de ônibus escolar / Foto: Acervo pessoal

Novas vitórias

As conquistas de Cibelle não param por aí. Após três anos exercendo o ofício de merendeira em escolas públicas, foi aprovada no último concurso da Prefeitura de Rio Branco para motorista e será a primeira mulher a dirigir ônibus escolares no poder público municipal. Ela afirma que ama dirigir e tem um gosto peculiar por veículos pesados.

A jovem pediu exoneração da antiga função na semana passada. Como merendeira, chegou a trabalhar em três escolas infantis, onde cozinhava cinco quilos de arroz, cortava sete quilos de carne semi-congelada e preparava saladas e sucos. Ao final, ainda tinha de lavar quase 200 pratos sujos.

Cibelle (de branco) tem apenas 30 anos e coleciona histórias de superação / Foto: Acervo pessoal

“Minhas melhores lembranças serão da alegria e felicidade de cada rostinho na hora da merenda. Cada elogio sincero que recebia trazia a sensação de dever cumprido. Aprendi a gostar de fazer comida, mas o que eu amo mesmo é dirigir”, disse. “Meu primeiro sonho realizado foi tirar a carteira de habilitação. Foi o que fiz com meus primeiros salários, assim que completei 18 anos. É uma coisa que nasceu comigo”, continua.

A jovem aguarda apenas o começo do ano letivo municipal, em 2 de março, para botar os pés no acelerador. Coincidentemente, é a mesma data do início das aulas na Ufac. “Estou muito ansiosa e empolgada com essa nova fase da minha vida. Serão momentos de mais batalhas pela frente”.

Batalhadora

E de batalhas Cibelle entende. De origem humilde e filha única de mãe solteira, ela mora sozinha com o filho de 12 anos em uma pequena casa de madeira no Benfica, região rural na Vila Acre.

A jovem conta que precisou fazer um empréstimo para construir o lar e que todo seu salário de merendeira, inferior ao mínimo, servia para quitar a dívida com a financeira. “Agora vou ganhar um pouco mais e ficarei mais aliviada”, comemora.

“Estamos colhendo os frutos de tantas batalhas” / Foto: Acervo pessoal

A futura motorista de ônibus revela que chegou a passar necessidades por conta do empréstimo. Em alguns momentos, ela deixava para fazer suas refeições na escola onde trabalhava, junto das crianças, ou comia na casa de uma amiga, que também a ajudava com sacolões. “Foi uma fase muito difícil, mas a gente sempre vai se virando”.

Após a aprovação no concurso, precisou vender sua moto para quitar os exames médicos solicitados pela prefeitura e a carteira de habilitação para condução de ônibus. Ela tem aproveitado parte do dinheiro que sobrou da venda para se manter.

“Casei muito cedo e logo engravidei. Assim que meu filho nasceu, o pai dele nos deixou e eu segui como mãe solo, o que nunca foi fácil. Somente hoje, após 12 anos, estamos colhendo os frutos de tantas batalhas, conquistando aprovação em concurso público, casa própria e a graduação dos sonhos, comemora”.

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