Nas florestas de Tarauacá, no coração da Amazônia, os índios Yawanawá fizeram o lockdown à sua maneira. Eles coletaram pedaços de troncos de árvores e montaram um cercado entre uma margem e outra do rio Gregório, impedindo a passagem de embarcações.
O manancial é a única via de acesso entre a cidade e a terra indígena. A ideia do povo da queixada é impedir que os 370 moradores da aldeia Sagrado circulem pela zona urbana do município, que já tem mais de 100 infectados, e levem o vírus paras as matas.
A medida é um endurecimento dos procedimentos adotados anteriormente pelos Yawas. No início de abril, eles haviam proibido a visita de “brancos” às aldeias, sob o mesmo intuito. A Terra Indígena Yawanawá do Rio Gregório é uma das mais visitadas por estrangeiros no Acre, sobretudo na época do tão aguardado festival tradicional, realizado anualmente.
“Vendo essa situação que está acontecendo não teve outro jeito. Nós estamos correndo muito risco e se isso chegar a acontecer aos nossos povos pode virar um colapso, um massacre total”, disse o cacique Biraci Brasil, em entrevista ao site Amazônia Real.
A preocupação de uma das maiores lideranças dos “queixadas” é, sobretudo, com os mais velhos, que estão no grupo de risco para a doença. O tempo de viagem entre as aldeias do rio Gregório e a cidade pode chegar a 8 horas, a depender da época do ano, o que pode ser fatal em um possível caso grave da enfermidade, que já matou dois tarauacaenses.
“Os anciões são nossos guardiões dos saberes, das nossas medicinas e histórias. Para nós, povos Yawanawá, se perdemos nossos velhos, perdemos nosso maior tesouro. A única forma que encontramos de dizer para o mundo que estamos preocupados foi fechando o rio”, justificou o cacique.
A medida é temporária, vai até o final de maio, mas pode ser prorrogada a depender do avanço da pandemia de coronavírus no município.