O homem considerado o número dois na rede terrorista al-Qaeda, Abdullah Ahmed Abdullah, foi morto em agosto nas ruas de Teerã, em uma operação secreta realizada em conjunto por Israel e Estados Unidos, e revelada apenas nesta sexta-feira (13) pelo New York Times.
Segundo o jornal, Abdullah, também conhecido pelo nome de guerra Abu Muhammad al-Masri, foi baleado por um grupo de motociclistas no dia 7 de agosto, quando estava ao lado da filha, Miriam, viúva de Hamza bin Laden, filho do fundador da al-Qaeda, Osama bin Laden.
Os rumores sobre a morte de Abdullah circulavam em núcleos jihadistas há alguns meses, mas jamais foram confirmados pela própria organização terrorista. Pela sua captura, o governo americano havia oferecido uma recompensa de US$ 10 milhões.
De acordo com o New York Times, informações de inteligência dos EUA mostravam que ele era mantido “sob custódia” dos iranianos desde 2003 — apesar do fato da al-Qaeda ser na prática uma inimiga de Teerã, em termos religiosos e militares, há indícios de que vários integrantes do grupo são mantidos no país como uma espécie de “seguro” contra ataques, algo negado por Teerã. Desde 2015, aponta o jornal, o líder terrorista vivia com relativa liberdade no distrito de Pasdaran, na capital do país.
Inicialmente, o caso foi reportado como um ataque contra dois cidadãos libaneses, aparentemente ligados ao Hezbollah, o que não levantou muitas surpresas. Afinal, o Irã vivia dias de muita instabilidade provocada pela onda de misteriosas explosões e uma intensa disputa diplomática com os EUA.
O governo do Irã não se pronunciou.
Nascido no Egito, Abdullah seguiu o roteiro de milhares de jihadistas nos anos 1980, se juntando às forças que combateram as forças soviéticas no Afeganistão, e que foram o berço para o surgimento da al-Qaeda na década seguinte. Ele atuou ao lado de milícias extremistas na África, em especial na Somália, e cultivava uma proximidade com Osama bin Laden, atuando no planejamento de ataques contra alvos dos EUA no continente africano.
Em 1998, foi um dos responsáveis por planejar os atentados contra embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, que deixaram 224 mortos. Nos anos seguintes, esteve por trás de ataques similares na região, até fugir para o Irã, em 2003, ao lado de outras lideranças do grupo terrorista. Como aponta o jornal, ele era um dos últimos integrantes “originais” da cúpula da al-Qaeda, praticamente o fim de uma era.
“Se isso for verdade, vai cortar ainda mais os laços entre a velha al-Qaeda e a jihad moderna”, afirmou, ao New York Times, Nicholas Rasmussen, ex-diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo. “Isso só contribui para a fragmentação e descentralização do movimento da al-Qaeda”. [Capa: Federal Bureau of Investigation/NYT]