A presença do mais temível predador dos mares, o tubarão, em rios de águas doces como o Amazonas e os seus afluentes, detectadas por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que tem sede em Manaus (AM), não é surpresa para pelo menos dois acreanos. Jonas Filho, paleontólogo, ex-chefe do departamento de paleontologia e ex-reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac), e Alceu Ranzi, professor aposentado da mesma instituição e atualmente vivendo em Santa Catarina, já haviam se deparado com esses animais em território amazônico, inclusive no Acre, já faz algum tempo, em suas pesquisas de campo. Pelo menos em fósseis.
Ossos e esqueletos fossilizados desses animais seriam claros sinais de que os predadores estavam na Amazônia quando a região era, na verdade, um grande lago único. Estudos indicam que os animais vieram do Atlântico por um curso de água salobra que ligava o oceano ao grande Sistema Pebas, um mega-pantanal com lagos, rios e igarapés, entre 23 a 10 milhões de anos atrás, informa o professor Jonas Filho.
Depois que esse grande lago secou e a conexão com o oceano foi desfeita, os tubarões e raias ficaram presos e restritos. “As raias adaptaram-se e estão até hoje. Os tubarões não tiveram a mesma sorte”, disse o professor Jonas Filho.
De acordo com Jonas Filho, além dos tubarões, andavam pela região também as raias e as quimeras. “São um interessante grupo de peixes que se diferenciam dos demais conhecidos, porque o seu esqueleto é predominantemente formado por cartilagem. Excetuando-se estes, todos os demais peixes que você conhece possui esqueleto ósseo”, disse Jonas Filho, segundo o qual a formação óssea diferenciada desses animais lhes permite à adaptação a um novo habitat.
De acordo com o professor, as quimeras são as mais raras e somente são encontradas nos oceanos. Os tubarões e as raias, além dos mares, também podem habitar em águas doces do planeta. “Embora o número de tubarões encontrados em água doce seja infinitamente menor do que aqueles que habitam águas salgadas e salobras, eles não são raros”, disse Jonas Filho.
Os tubarões podem invadir temporariamente os ambientes de água doce bem como passar toda sua vida neles, acrescentou o pesquisador. “Entre os tubarões de água doce, o mais comum encontrado é o Carcharhinus leucas, popularmente conhecidos como tubarão touro, ou tubarão cabeça chata. O registro desses tubarões no rio Amazonas não é raro. Existem espécies que adentram o rio, por vários quilômetros, caçam e retornam para o mar”, disse.
“Outras espécies vivem permanentemente na água doce. Alguns nem são tubarões. São morfologicamente muito parecidos, mas não são tubarões. Isso muitas vezes causa relatos equivocados”, acrescentou o professor.
Os tubarões, quando caçam em água doce, não se trata de escassez de alimento, é adaptação. “Eles possuem um controle osmótico que permitem resistir a água doce e se aventuram na caçada. Essas espécie como essa encontrada em Manaus, tubarão touro ou cabeça chata, também já foi á foi capturada em Iquitos, no Peru”, disse o paleontólogo.
Para o professor, não existem registros ou relatos da existência de tubarões atuais nos rios do Acre. “Entretanto existem achados de tubarões fósseis (dentes), que aqui teriam vivido a cerca de 8,5 milhões de anos. As possibilidades de se encontrar tubarões nos rios acreanos não pode ser considerada nula mas sim diminuta. Encontrando-se, provavelmente será um tubarão de pequeno porte, ou daqueles que são parecidos mas que não são verdadeiramente tubarões”, disse o pesquisador.