O acreano não gosta de futebol? Um paraense tenta analisar a situação in loco

Vim morar no Acre bem na época do “estouro” do Flamengo, o maior time do Brasil, que passou a ganhar quase todas as partidas disputadas esse ano, culminando com dois títulos importantes ao fim da temporada (brasileiro e libertadores). As ruas, que já tinham o vermelho e preto como vestimenta de muitos cidadãos locais, passaram a ter ainda mais camisetas do time carioca, conforme os meses iam passando, para o desgosto do vascaíno que vos fala.

Daí veio a pergunta: o acreano não gosta de futebol? Digo isso pelo inoperante futebol local. Não tenho a intenção, nesse artigo, de ter qualquer base jornalística, nem vou atrás de dados exatos e estatísticos, apenas relatar minha opinião sobre o assunto.
Na minha cidade natal, a torcida do Flamengo é forte, mas tem concorrentes de peso no coração dos belenenses, a começar pela dupla RexPa. Remo e Paysandu, que disputam o “Clássico Rei da Amazônia”, possuem boa parte das atenções dos amantes de futebol, com pelo menos 70% de público, que lotam os estádios em vários jogos da temporada.
Corinthians, São Paulo, Vasco e demais times grandes de Rio-SP também possuem suas torcidas. Aí vem o Flamengo. A equipe centenária da Gávea tem milhares de adeptos no Pará, mas acaba “engolida” pela concorrência.
No Rio de Janeiro, pude presenciar dois clássicos contra meu time (Vasco da Gama), sempre com maioria de flamenguistas, e nas ruas também observei “quem é que manda” na cidade. Porém, em termos proporcionais, nada parecido com o que vi no estado do Acre em 2020. Aqui, ser rubro-negro faz parte do pacote do acreano padrão. Como torço pro rival e tri-rebaixado, fico incomodado em dias de jogos, sobretudo com os vizinhos. A gritaria e fogos eram tão altos que parecia jogos do Brasil na Copa do Mundo.
Isso me fez refletir sobre a pobreza do futebol local. Fui para alguns jogos do Atlético Acreano na Série C – contra Remo, Paysandu e Juventude -, e o que vi foram públicos inferiores a 300 pessoas. Dava pra ouvir o que os jogadores e comissão técnica falavam no campo, situação esta que jamais presenciei em mais de 20 anos frequentando jogos de futebol.
Como pode um povo apaixonado por um clube distante 4 mil quilômetros dar tão pouco valor ao que acontece em sua própria terra?
Analisando o cenário atual, é fácil responder, pois nenhum clube acreano disputa alguma das três principais divisões nacionais. O Rio Branco FC, que possui o maior número de campeonatos estaduais e torcedores, encontra-se em franca decadência. Chega a dar dó ver a fachada do clube, na Avenida Ceará. Ainda há outros clubes, mas só tenho conhecimento desses dois.
Fico imaginando como seria se todos os flamenguistas do Acre migrassem para as torcidas de Atlético-AC e Rio Branco, com estádios lotados, receitas altas, times competitivos, disputa de campeonatos relevantes, títulos nacionais… Como isso nunca irá acontecer, o que me resta é acompanhar todos os jogos que puder no Acreanão, pois amo futebol e tenho necessidade orgânica de assistir partidas in loco. Vou comprar as camisas oficiais de RB e ATL e me juntarei aos familiares e amigos dos jogadores, alguns malucos como eu e outras pessoas aleatórias na Arena da Floresta ou Florestão, sempre acompanhado de uma cerveja bem gelada. Só assim pra aguentar o sofrível nível técnico das partidas (risos).
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