Duas mulheres isoladas, separadas por uma parede, vivendo contextos distintos e semelhantes ao mesmo tempo. É assim que o espetáculo cênico “Circularidades”, que será apresentado nos dias 15,16,17 e 18 de setembro, na Usina de Arte João Donato, às 20h, busca refletir e indagar sobre os ciclos e formas que ditam nossas vidas, intimamente e em sociedade. Devido à pandemia do novo coronavírus, a quantidade de pessoas na plateia é limitada e a presença deve ser agendada pelo telefone (68) 99961-7599. A entrada é gratuita.
Com um tom existencialista e poético, a performance transforma o espectador em um voyeur que acompanha momentos particulares de duas mulheres (Lília Pontes e Sacha Alencar) em tempos de isolamento social. Durante suas rotinas e devaneios, cada uma com sua personalidade, elas evocam questões sobre o cotidiano, as relações sociais, o feminino, o corpo, a casa, a vida.
O impulso inicial que inspirou a criação do espetáculo surgiu em um dos piores momentos da pandemia do novo coronavírus, enquanto a atriz Sacha Alencar, em crise, teve um insight ao observar o relógio da cozinha. “Eu fiquei fixa com essa ideia do relógio e das formas circulares, de como tudo era muito circular e cíclico na vida. Eu percebi que dava para fazer alguma coisa, precisava escrever”, recorda a artista, que escreveu o texto e gravou um áudio sobre a reflexão.
Foi quando ela se juntou às amigas, também artistas, Roberta Marisa e Lília Pontes, dando início à realização de uma performance, que foi transmitida ao vivo online em novembro de 2020. A partir daí, veio a vontade de transformar aquele produto em algo maior: o projeto foi aprovado no edital da Lei Aldir Blanc, por meio da Fundação Elias Mansour. O processo, que se desenvolveu ao longo de nove meses, agregou Ágatha Lima Rosa (dramaturgia, direção, arte e design de cena), Luck Aragão (produção geral) e Jorge Anzol (criação de trilha sonora).
Além do relógio, símbolos da geometria sagrada, referências de artistas clássicos visionários e a contemporâneos digitais foram incorporados na composição criativa do universo narrativo e visual da peça, que busca retratar certa distopia. A estética e a dramaturgia de “Circularidades” brinca com a relação entre passado, presente e futuro, uma vez que a noção de tempo é foi uma das questões mais distorcidas nos últimos anos.
“As personagens tem essa busca da circularidade, como uma inconsciente reconexão com elas mesmas, um movimento de resistência da natureza circular intrínseca, apesar de limitadas entre quatro paredes”, explica Ágatha.
Parte deste confinamento vivido fora de cena foi essencial para que a atriz Lília Pontes conseguisse compreender como elas poderiam trilhar a concepção do espetáculo, que é totalmente autoral e coletivo em cada detalhe. O ambiente conflituoso e, a princípio, nada criativo da pandemia, transformou a própria casa em laboratório cênico.
“Eu foquei muito na minha casa, saí da linha de criar por criar e passei a focar na casa mesmo, em pintar uma parede, na cozinha, em estudar culinária, no alimento. Muitas pessoas começaram a ter um olhar assim também, para dentro, e muito disso eu trouxe pro texto e pra interpretação”, comenta a atriz.
Para o produtor Luck Aragão, são justamente estes olhares que fortalecem e destacam o projeto. “O ponto mais forte foi entender que a dramaturgia parte de uma vivência do agora, mas quando vai para o palco, torna-se atemporal e as pessoas se identificam”, comenta.
Durante os meses de criação, por meio de poesias, músicas, imagens, vivências e experiências sensoriais de todos os envolvidos, “Circularidades” nasce como uma performanarratividade instigante, reflexiva e inspiradora.
Além das apresentações presenciais, o projeto conta ainda com o registro em vídeo durante as sessões, que será transformado em um produto audiovisual publicado nas redes sociais para o público geral.
Ficha técnica
Dramaturgia: Sacha Alencar, Roberta Marisa, Ágatha Rosa e Lília Pontes
Atuação: Lília Pontes e Sacha Alencar
Direção, Arte e Design de Cena: Ágatha Rosa
Produção: Luck Aragão
Assistência de Produção: Juliana Albuquerque
Criação/execução de trilha sonora : Jorge Anzol
Criação e operação de luz: Karen Viana
Registro audiovisual: Alexandre Nunes
Assessoria de Imprensa: Daniel Scarcello