Rede quer Marina Silva disputando mandato de deputada federal para escapar da cláusula de barreira

O nome da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, atualmente mornado em Santos (SP) mas ainda eleitora do Acre, em Rio Branco, começa a ser cogitado pela direção da Rede Sustentabilidade, Partido criado por ela, como candidata a deputada federal. A eleição de deputados federais em 2022, com uma bancada de no mínimo 11 parlamentares, é uma questão de vida ou morte para a sigla, já que, abaixo disso, o Partido pode ficar fora do rateio do fundo partidário e sem espaço no rádio e na TV durante o horário eleitoral gratuito. Daí a prioridade em relação à eleição de deputados federais e Marina é apontada como um dos nomes potenciais para obter mandato, assim como a ex-senadora Heloisa Helen, de Alagoas, que já confirmou sua candidatura ao cargo.

A vida pública de Marina Silva foi iniciada na década de 1980, no Acre, ainda no movimento estudantil e como fundado do PT e militância na clandestinidade do Partido Revolucionário Comunista (PRC), uma sigla posteriormente assimilada pelo PT. Candidata derrotada a deputada federal constituinte, em 1986, ela só viria conquistar um primeiro mandato, o de vereadora por Rio Branco, em 1982. Em 1990 se elegeu deputada estadual, e em 1994 foi eleita senadora da República, e reeleita em 2002, quando assumiu o Ministério do Meio Ambiente, no primeiro mandato do Governo Lula. Em 2010. Já rompida com o então presidente, que apoiaria a candidatura de Dilma Rousseff, e com o PT, ela tenta chegar à presidência da República pela primeira vez e fica em terceiro lugar. Disputou o cargo novamente em 2014, em substituição ao candidato Eduardo Campos, que morreu num acidente de avião. Ela era candidata a vice e, com a morte, foi escolhida para concorrer em seu lugar. Em 2018, definhou eleitoralmente ao ponto de não aparecer nem entre os cinco primeiros colocados na disputa e em 2022 seria, portanto, a primeira vez que seu nome não aparecia entre os postulantes à presidência, desde 2010.

Mas a presidência da República não é a prioridade da Rede. Em relação à Marina Silva, cuja candidatura seria uma exigência prioritária da Rede, na definição da porta-voz da sigla, a ex-senadora alagoana Heloísa Helena, seria uma forma de a sigla se manter viva em relação ao futuro. O problema é que, no Acre, dificilmente a ex-ministra repetiria a performance eleitoral dos anos 90 e começam a surgir especulações de que ela poderia ser candidata a deputada federal por outros estados, como Rio de Janeiro ou Distrito Federal, onde é bem conhecida. Marina ainda não sinalizou se aceita ou não a exigência do Partido.

A luta da Rede Sustentabilidade para firmar-se como partido político ou ser um movimento preocupado com as questões ambientais é o que deve ser apresentado à sigla quando as urnas de 2022 forem abertas, na eleição do ano que vem. E, para que se chegue à resposta para encerrar esse dilema, o desempenho na disputa por vagas na Câmara dos Deputados será fundamental. “Quando digo que é o combate de vida ou morte da Rede, não é frase feita para a militância. É porque existe uma necessidade objetiva”, diz a ex-senadora Heloisa Helena, a porta-voz nacional da Rede, cargo que seria equivalente ao de presidente de partido. “A gente vai vendo, as pessoas vão saindo, vão desanimando.”, acrescenta.

A sigla surgiu na esteira da força do desempenho de Marina Silva nas eleições presidenciais do início da década passada. No entanto, a Rede sofreu mais um baque nesta semana, quando perdeu mais um senador em sua bancada no Congresso. É o quinto senador da sigla a deixar o Partido. Resta agora um: Randolfe Rodrigues (AP). que não deve disputar a reeleição e ser candidato a governador do Amapá. As perdas são explicadas pelo fato de que, os que saíram, faziam parte da chamada cota de “candidaturas cívicas”, que o partido permite para que “pessoas da sociedade civil” possam participar dos pleitos, explica Wesley Diógenes, também porta-voz nacional do partido. Segundo ele, se não fosse a Rede, “dificilmente” Alessandro Vieira (hoje no Cidadania), Flávio Arns (hoje no Podemos), Styvenson Valentim (também no Podemos) e Fabiano Contarato (agora no PT) teriam conseguido espaço para disputar a última eleição geral. “Eram nomes que vinham surfando na onda de renovação política, que nunca foram políticos.”, disse Diógenes.

Para Heloisa, a Rede “não pode reclamar” da saída deles. “Eram lideranças que representavam setores sociais importantes e que foram chamadas pela Rede na condição de candidaturas cívicas.”. Na opinião dela, seria “hipocrisia” que o partido determinasse um prazo mínimo para que eles ficassem no partido. “Até porque seria muita presunção nossa a gente sair por aí dizendo que essas pessoas não existiam e que nós elegemos eles. Ficamos constrangidos [com as saídas]. Mas, repito, não cabem lamentações ou resmungos”, disse Heloisa Helena.

A Rede, na Câmara, tem hoje apenas uma representante do partido: a deputada e liderança indígena Joenia Wapichana (RR), que disputará a reeleição. A quantidade de deputados é fundamental para que o partido consiga ultrapassar a cláusula de barreira. Por isso, ela será “prioridade absoluta” do partido, segundo Diógenes. “Em um país de dimensões continentais, não ter um segundo do horário eleitoral, para nós é uma situação de clandestinidade muito grande. Para nós, nem é o fundo. O pior é não ter acesso ao horário eleitoral”, disse Heloisa Helena. “É uma questão de sobrevivência superar a cláusula de barreira. A meta é alcançar ao menos 11 parlamentares na Câmara. Por isso, o partido deixará de lado outras disputas. A próxima eleição será a primeira. Nas disputas majoritárias nos estados, apenas duas participações, com as candidaturas ao governo de Randolfe, no Amapá, e de Audifax Barcelos, no Espírito Santo. “Se a gente fica o tempo todo convencendo as pessoas de que elas devem disponibilizar os seus nomes para a chapa de deputado federal, isso significa que devemos dizer para nós também”, fala Heloisa, que será candidata a deputada. “Eu vou ter que ser. E digo isso para Marina, para todo mundo.”

A Rede também quer resolver as questões sobre federação partidária, uma novidade que ainda tem deixado alguns partidos em dúvida. Na federação, dois ou mais partidos se unem. Ao contrário das coligações, que estão proibidas, a federação obriga que os partidos atuem de forma conjunta durante os quatro anos da legislatura. Segundo Heloisa, nas negociações, não se pode “ceder ao oportunismo vulgar para fazer qualquer federação”. A dificuldade, de acordo com ela, será reunir condições que sejam favoráveis para cada um dos estados. “Não pode ser algo que seja bom para um e aniquile politicamente outros.” Por isso, hoje, algumas das direções estaduais da Rede não estão favoráveis à federação, de acordo com a porta-voz, para que não se atrapalhe a chapa que está sendo formada para as disputas por vagas na Câmara. “Muitos dos estados não querem.” Com a federação, os partidos deverão dividir o total de candidaturas permitidas por estado, diminuindo os espaços para seus filiados. A Rede estabeleceu que, até janeiro, precisará ter uma definição sobre esse tema. Se passar desse período, o processo de formação das chapas para a Câmara pelo país ficaria prejudicado.

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