De olho na reeleição de Bolsonaro, governo deve aceitar mexer na política de preços da Petrobras

Para dar fôlego à tentativa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, o governo federal deve aceitar a mudança na política de preços da Petrobras, que vem sendo defendida por outros pré-candidatos à Presidência da República.

Nesta segunda-feira (7), Bolsonaro criticou a paridade no preço do petróleo e disse que o governo tem uma reunião nesta tarde para discutir medidas para a Petrobras não repassar toda a alta dos combustíveis para o consumidor. No entanto, a previsão é que o encontro aconteça nesta terça (8).

Fontes do governo disseram ao blog que as últimas conversas internas entre ministros e o presidente vão na direção de que é preciso segurar a escalada dos combustíveis, que já ocorre por causa da guerra na Ucrânia — a Rússia é um dos principais países exportadores mundiais de petróleo.

Ainda, segundo fontes, o governo acredita que a melhor forma de segurar o aumento dos preços seria reduzir impostos e fazer com que a Petrobras absorvesse parte das perdas pela ampliação no prazo de reajustes dos preços praticados pela empresa no Brasil. A estatal já está há 54 dias sem reajustar o preço dos combustíveis e há quem defenda, no governo, até 100 dias para que a paridade ocorra.

Discussões internas

 

A previsão é que nesta terça-feira (8) o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, retorne ao Brasil e se reúna com representantes da Petrobrás e do Ministério da Economia, além de lideranças do Congresso.

As divergências e ruídos dentro do governo são tão intensos que o presidente Jair Bolsonaro enviou na manhã desta segunda-feira (7) uma mensagem de whatsapp aos seus ministros determinando que não dessem declarações à imprensa sobre o tema e que apenas Albuquerque se manifestasse em nome do governo. A informação foi confirmada ao blog por três ministros.

Na área política do governo, a defesa era de que um subsídio para os combustíveis fosse instalado para cobrir a flutuação do diesel e da gasolina. Rechaçada pela área econômica, a proposta acabou sendo temporariamente colocada de lado por Bolsonaro, que aceitou apostar na aprovação de dois projetos que estão no Congresso, relatados pelo senador do PT Jean Paul Prates, os PLs 11 e 1472.

No projeto de lei 1472, o governo concordou em apoiar o artigo 68, que estabelece que o governo pode definir a paridade dos preços com base no valor internacional do petróleo, nos custos de importação e na produção.

Na prática, o governo irá pressionar a Petrobras a arcar com parte dos custos da alta dos combustíveis, quebrando uma política de paridade internacional que estava em vigor desde o governo Michel Temer e que ajudou na recuperação da empresa.

Como forma de pressão, o governo usa a argumentação de que o mandato do presidente e dos conselheiros da empresa terminam nas próximas semanas e o governo, como controlador, poderia trocar o comando da Petrobras.

O fato de o preço dos combustíveis estar com defasagem de mais de 40% — com o barril batendo US$ 130 — levou à queda nas ações da Petrobras, apesar da valorização das principais petroleiras ao redor do mundo.

Entre os principais argumentos ouvidos no governo, está o de que outros dois pré-candidatos à Presidência – o ex-presidente Lula e o ex-ministro Ciro Gomes – vem acenando com uma intervenção no preço dos combustíveis.

“De que serve se manter fiel à paridade de preços e perder a eleição”, disse ao blog um ministro. “É preciso criar uma forma de lidar com momentos excepcionais, como uma guerra. A Petrobras seguirá lucrativa, só não precisa lucrar tanto”, afirmou.

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