Pesquisadores correm contra o tempo para salvar botos no Amazonas

Cassandra Castro

As imagens de dezenas de botos encontrados mortos em rios do Amazonas são uma face cruel dos impactos das mudanças climáticas sobre a fauna da região. Um conjunto de fatores tem ocasionado este triste cenário, uma tragédia anunciada que mostra uma das faces mais cruéis da série de fenômenos que se espalham pelo planeta.

Desde o dia 23 de setembro, botos vermelhos e tucuxis têm aparecido mortos no lago Tefé, no Amazonas, e nas proximidades. De lá para cá, o Grupo de Pesquisa de Mamíferos Aquáticos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDS) tem vivido uma verdadeira corrida contra o tempo para tentar salvar os animais que ainda estão vivos, antes que seja tarde demais.

A coordenadora do grupo, Miriam Marmontel, explica que agora existem três prioridades concomitantes no trabalho: contar, resgatar, amostrar e destinar os mortos; capturar alguns animais vivos afetados, monitorá-los e coletar amostras e analisar as amostras para entender as causas da mortalidade.

Todo este processo é muito importante antes de tomar qualquer decisão sobre o destino dos mamíferos que forem achados vivos, afirma a pesquisadora. “ A decisão de manejo ( dos animais) será tomada após termos subsídios suficientes, o que implica recebermos respostas das análises laboratoriais. Não podemos translocar animais a outros locais sem antes estarmos certos de que não foram acometidos por alguma doença infecciosa”.

Amostras colhidas dos animais vão passar por análises laboratoriais/foto_Stéffane Azevedo/Instituto Mamirauá

O tradicional período de estiagem que tem seu ápice em outubro, já está afetando 59 municípios do Amazonas com a redução do nível de água em seus rios, impactando a navegabilidade e consequentemente questões de logística e insegurança para a coleta e consumo de peixes. É esperado que a situação se agrave nos próximos 15 dias com a forte seca e acometa outras regiões do médio Solimões resultando em mais mortes de botos e tucuxis em zonas sem equipes disponíveis para resgate. Isso faz com que o evento tome proporções ainda maiores e mais impactantes em um dos locais de maior densidade e abundância de golfinhos de rio da América do Sul.

Mariana Paschoalini Frias, especialista em Conservação do WWF-Brasil chama a atenção para especificidades relacionadas aos botos. “Os estudos que realizamos com os botos amazônicos indicam que eles sofrem inúmeras pressões, como o impacto das hidrelétricas, contaminação por mercúrio, o conflito com humanos (pescadores e ribeirinhos) principalmente em atividades de pesca, considerada uma das mais graves ameaças atuais. Agora, esses pequenos golfinhos de água doce são impactados de maneira mais direta pela questão climática. Precisamos de uma ação efetiva de proteção imediata, mas a longo prazo faz-se necessário mais pesquisas para sabermos como eles são e serão afetados pelas constantes mudanças do clima e a redução dos corpos d’água”.

nível baixo das águas no lago Tefé, no Amazonas, pode ter contribuído para mortalidade dos botos/foto: Huéferson Falcão dos Santos

Na avaliação de Miriam Marmontel, as ações para mitigar o que está acontecendo com os botos da Amazônia passa pelas ações emergenciais de captura e colocação dos mamíferos em um local mais apropriado (mais fundo e com temperatura mais baixa) e a médio e longo prazo a realização de um trabalho para capacitar outras equipes em outros locais da Amazônia porque esses episódios se repetirão nos próximos anos.

O trabalho de resgate dos animais tem recebido apoio de diversas frentes, destaca Miriam. “ É importante salientar o tremendo apoio que temos recebido de todos os lugares desde o nível municipal, estadual, nacional e internacional para auxiliar na elucidação e solucionamento desta crise”.

Segundo informações do IDS, na manhã desta segunda-feira, 2, a equipe de busca não identificou nenhum novo boto morto. Foram recolhidas cinco carcaças para passarem por necropsia. À tarde, a equipe responsável iria tentar resgatar as 25 carcaças que ainda faltam ser retiradas do lago Tefé.

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