Conheça a história de Luis Almeida, o astrofísico de Rio Branco que já trabalhou para a NASA

Professor Luis é professor de Física na Ufac

O professor Luis Gustavo de Almeida é muitas coisas, professor do curso de Física da Universidade Federal do Acre (Ufac), pai, astrofísico, mestre e doutor em astronomia. Bacharel em astronomia e Mestre e Doutor em astrofísica nuclear pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Desde 2009, ele dá aulas na Ufac/Foto: Cedida

O cientista conversou com o ContilNet sobre sua carreira, inspirações e a importância da ciência estar sendo debatida e divulgada em espaços mais abertos da sociedade, fora das academias. O pesquisador foi convidado pela Nasa, a Agência Espacial Americana, para participar como revisor de projetos de pesquisa em um edital aberto pela instituição em 2018 e 2023.

Ele começou pesquisando sobre neutrinos em estrelas de nêutrons e a formação de estrelas de quark. Agora, ele estuda relatividade deformada e energia escura. Desde 2009, ele dá aulas na Ufac. Inicialmente, no campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, e em 2017, mudou-se para o campus principal, onde continua dando aulas, fazendo parte do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza.

Os heróis que o inspiraram

“Desde criança, sempre gostei de ler quadrinhos e assistir desenhos, me interessando bastante pelo mundo lúdico dos super-heróis dos quadrinhos. Eu achava fascinante e pensava que os cientistas sabiam de tudo. Sempre fui curioso e acreditava que, se me tornasse um cientista, saberia de tudo”, revela Almeida.

Desde então, Almeira tem se dedicado à criação de um curso de física a distância, que foi lançado apenas em 2020/Foto: Reprodução

O professor fala que sempre, nos quadrinhos, o cientista era um físico ou químico, o que sempre lhe chamou o interesse. Desde os primeiros anos de vida, ele já demonstrava um interesse peculiar pelo desconhecido. Essa fascinação infantil logo se transformou em uma determinação crescente para explorar os mistérios do universo.

Sempre que ouvia falar de cometas e asteroides, ele se interessava. Logo, ele voltou para a astronomia. 

“Eu terminei o bacharelado na UFRJ e acabei me especializando em mecânica celeste, trabalhando com órbitas de asteroides no sistema solar. Após o mestrado, migrei para a astrofísica nuclear, mudando meu foco de atuação. Mudei de instituição e fui para o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Realizei meu mestrado nessa área e também meu doutorado, fazendo a transição para as estrelas de Quark”, detalha em sua trajetória.

Quando o astrofísico decidiu fazer o doutorado, surgiu uma oportunidade de prova na Universidade Federal do Acre em 2009. Passou e deu um tempo para concluir seu doutorado. Terminou sua pesquisa e defendeu sua tese em 2015, após alguns atrasos causados pela universidade.

Desde então, Almeida tem se dedicado à criação de um curso de física a distância, que foi lançado apenas em 2020. Apesar de enfrentar problemas de saúde, como uma perda de visão parcial, e ter que sair da coordenação, o curso continua e já abriu novas turmas, recebendo novos alunos. 

“Tem novos alunos e, se Deus quiser,  vamos continuar formando nesse curso à distância. Eu ajudei a gestão desse bebê, mas não tô mais cuidando, né?”, revela.

Experiência na NASA

Em 2018, Almeida revisou projetos do painel “Objetos Colapsados” (buracos negros e estrelas de nêutron, entre outros), área em que possui vasta experiência para Agência Espacial Americana, NASA:

“Eles pagaram a passagem e a estadia, além de me oferecerem um pagamento pró-labore pelo meu tempo, que chamamos de honorário. Fui para Portland e lá fizemos a avaliação dos projetos, julgando os melhores. Assim, eles foram selecionados para receber verba do edital, embora a maioria não tenha sido contemplada. Agora, em 2023, eles me convidaram novamente, mas desta vez como presidente da banca”, revela.

Esta energia é uma interação desconhecida, que faz o universo se expandir/Foto: Reprodução

Hoje, o astrofísico se debruça na pesquisa sobre a chamada “energia escura”. Esta energia é uma interação desconhecida, que faz o universo se expandir. Apesar de não conhecer sua natureza, mas é possível sua quantificação:

“Nós estamos, justamente, tentando criar uma teoria em cima dessas propriedades que nós conseguimos observar”, diz.

Aplicações para o futuro

Almeida conta que existem dois tipos de ciência. A básica e a aplicada. A básica é a que vemos na escola e a mais conhecida, onde se debruça sobre conhecimentos fundamentais. Já, a aplicada são pesquisas que, no presente, podem não ter um impacto imediato, porém, no futuro, terão aplicações úteis para a sociedade. O professor disserta sobre:

“Hoje, você tem travesseiros desenvolvidos há mais de 60 anos com tecnologia da NASA e canetas que escrevem de cabeça para baixo na gravidade zero, usadas por astronautas em órbita. O transistor, cujo descobridor não sabia sua utilidade na época, é fundamental para computadores, celulares e chips integrados. Da mesma forma, a tecnologia do laser, inicialmente sem aplicação conhecida, acabou sendo crucial após a descoberta de como produzir um feixe de luz concentrado”.

Luis Almeida na NASA/Foto: Reprodução

Contudo, Profº Luis fala como, ao longo dos anos, no Brasil o investimento na ciência vem diminuindo e como isto é preocupante. Para ele, a base da economia é a tecnologia e não existe tecnologia sem ciência. Por isso, ele acha essencial a divulgação da ciência.

Luis Gustavo de Almeida

“Eu tenho muito orgulho do meu pai por nunca ter desistido. Ele enfrentou muitas oportunidades e problemas pessoais, incluindo a deficiência visual, algo que impactou profundamente sua vida. Ele poderia ter simplesmente desistido e se isolado em casa, mas ele superou tudo isso. Tenho muito orgulho dele por persistir nesse meio, que ainda é muito desvalorizado, tanto pelas pessoas quanto pelo governo”, fala Carmem Luisa, filha de Luis.

Carmem é discente do curso de Física e é aluna de seu pai. Ela fala como criança tinha uma visão diferente do que tem de seu pai hoje em dia. E que, com o passar dos anos, o orgulho sempre aumentava em relação à sua trajetória. 

Luis Almeida e sua família/Foto: Reprodução

“Eu tenho certeza que meu pai tinha capacidade de passar por um desses cursos que são considerados melhores, mas ele escolheu sua felicidade. Isso me faz ter muito orgulho dele”, conclui Luisa.

“Tô fazendo algo que eu gosto e ainda sou pago por isso, né? Eu só acho que eu sou mal pago, mas tirando esse fato eu gosta”, revela Almeira, “Eu me formei em algo que eu queria e tô fazendo algo que eu gosto como pesquisador e professor”.

Por exemplo, o professor diz como ama dar aula de astronomia.

Ciência e Futuro

Eduardo de Lucas, aluno de Luis Almeida, também faz coro para a importância da ciência e física para conhecimentos práticos e presentes em cada esquina na vida cotidiana. Ele cita como câmeras de celular só existem pelas pesquisas da astronomia, além de:

“Conceitualmente, a física oferece respostas para muitas questões. Como mencionei anteriormente, o movimento do carro, que hoje é algo comum, em algum momento exigiu um estudo e compreensão para o desenvolvimento da tecnologia do motor. Portanto, não apenas a física, mas também o ensino dela, é crucial para a sociedade”.

O professor garante que a solução para mais cientistas e mais investimentos vem de trabalhar na base, das crianças:

“Eu já dei palestras em escolas e fui convidado para falar em feiras de ciências. Palestrei para crianças do ensino fundamental e jovens do ensino médio. Posso te dizer, quando falamos com eles sobre astronomia desde cedo, seus olhos brilham. Se conseguirmos despertar neles a curiosidade científica, isso será para sempre. Acredito que uma vez contaminados por esse vírus, nunca mais mudarão”, finaliza.

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