O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) revelou, nessa quarta-feira (11/12), a adulteração de produtos lácteos com substâncias perigosas à saúde em uma fábrica da Dielat, localizada em Taquara, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Durante a 13ª fase da Operação Leite Compensado, foi constatado o uso de soda cáustica, água oxigenada e a presença de “pelos indefinidos” e sujeira em embalagens de leite UHT, leite em pó e compostos lácteos.
As substâncias identificadas são utilizadas para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados. Tal ação representa um risco significativo à saúde pública.
Segundo o MPRS, a soda cáustica é empregada para mascarar a acidez e ajustar o pH dos produtos, enquanto a água oxigenada tem efeito conservante. Ambas as práticas dificultam a detecção das fraudes em análises preliminares realizadas por órgãos de fiscalização.
Prisão de empresários e “mago do leite”
Quatro pessoas foram presas na operação, incluindo Antonio Ricardo Colombo Sader, sócio-proprietário da Dielat; Tales Bardo Laurindo, diretor da empresa; Gustavo Lauck, supervisor; e Sérgio Alberto Seewald, engenheiro químico apontado como o “alquimista” ou “mago do leite”.
Este último já havia sido identificado como figura central em outras fraudes apuradas em fases anteriores da operação.
A operação incluiu o cumprimento de 16 mandados de busca e apreensão nas cidades de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé — no Rio Grande do Sul — e na capital de São Paulo.
Distribuição de produtos no Brasil e exterior
A Dielat tem forte presença no mercado nacional e internacional. No Brasil, distribui as marcas Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall.
Já na Venezuela, os produtos são comercializados sob a marca Tigo. A empresa também já venceu licitações para fornecer lácteos a escolas e órgãos públicos de ao menos sete cidades gaúchas, como Porto Alegre, Taquara, Gravataí e Canela, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Fraude cada vez mais sofisticada
As autoridades destacaram a sofisticação das fórmulas fraudulentas, que têm dificultado a identificação das substâncias adulterantes durante as inspeções.
De acordo com o promotor Mauro Rockenbach, as práticas de fraude se tornaram mais complexas, permitindo que produtos contaminados escapem de detecções iniciais realizadas por órgãos de fiscalização, incluindo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
“Ajustar o pH e mascarar a acidez do leite com essas substâncias visa ocultar a deterioração dos produtos, permitindo a reintrodução de alimentos vencidos no mercado”, explicou Rockenbach.
Ele também alertou para os riscos à saúde, já que as substâncias envolvidas podem ter potencial carcinogênico.
Exames laboratoriais mais detalhados estão em andamento para identificar os lotes contaminados. A Justiça ainda não autorizou a divulgação das marcas específicas afetadas.