Depois de sete anos de queda, o número de casos de malária avançou 50% no último ano e tem gerado alerta na região Norte e em alguns outros Estados do país.
Segundo informações do Ministério da Saúde, foram apontados cerca de 194 mil registros em todo o ano de 2017 – um aumento de 50% em relação ao ano anterior. Em 2016, para efeito de comparação, o país chegou a alcançar o menor número de casos já registrado nos últimos 37 anos: 129 mil.
Neste ano, dados de janeiro, ainda preliminares, apontam que o avanço continua: são 17 mil confirmações. Deste total, 99% são em estados da região amazônica, que é endêmica para a doença, em especial Amazonas, Acre e Pará. No Acre, foram mais de 35 mil casos ano passado, e já foram registrados 4.042 em janeiro deste ano.
O número de mortes ainda não foi atualizado. Foram 11 de janeiro a maio de 2017, o que não permite comparações com todo o ano de 2016. A doença, causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles, ocorre em regiões rurais e acomete principalmente populações mais vulneráveis, em locais com más condições de saneamento e invasões em áreas de mata, por exemplo.
Entre os registros, também cresceram casos de malária falciparum, nome dado à forma da doença causada pelo protozoário Plasmodium Falciparum, mais grave.
READEQUAÇÃO DE ESTRATÉGIAS
Neste caso, o aumento foi de 37% no último ano se comparado ao anterior – passou de 15 mil para 21 mil. A situação ameaça o Plano de Eliminação da Malária assumido pelo Brasil em 2015, com foco principal na malária falciparum.
Na época, cerca de 500 cidades da região amazônica já estavam havia mais de três anos sem registro de transmissão da malária falciparum, e a meta era eliminar a doença até 2030.Agora, só entre 2016 e 2017, o número de municípios com registros dessa forma da doença cresceu 68%, passando de 124 para 208.
Questionado, o coordenador substituto dos Programas Nacionais de Controle e Prevenção da Malária e doenças transmitidas pelo Aedes, Cássio Peterka, reconhece que parte das ações do plano terão de ser revistas devido ao aumento.
Com a mudança da situação epidemiológica da malária, “as metas e pactuações do plano estão sendo avaliadas com estados e municípios da região Amazônica, para a readequação das estratégias, a retomada da redução dos casos e a sustentabilidade das ações”, diz.
Apesar disso, ele afirma que as metas estão mantidas: “Todos os programas de malária, nacional, estadual ou municipal, estão comprometidos com a eliminação da malária falciparum e trabalham em conjunto para o cumprimento das metas”.
Para o epidemiologista Pedro Tauil, professor emérito da UnB (Universidade de Brasília), a situação preocupa. “Como se lança um plano de eliminação e tem um aumento de casos?”, questiona. O professor também destacou que em países do Sudeste Asiático já há aumento da resistência a remédios antimaláricos, situação que pode se repetir no futuro no Brasil. “O grande risco é que, se não eliminarmos a malária pelo Plasmodium falciparum, não vamos ter remédios que atuem eficazmente no tratamento dessa doença”, disse Tauil.
Com informações da Folha de S. Paulo