Exemplo de amor e dedicação ao povo acreano, Padre Paolino completa 90 anos

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O padre Paolino Baldassari, que completa 90 anos neste sábado, (2), é muito querido e amado pela população acreana, sobretudo pelo povo de Sena Madureira, que sempre acompanhou o líder religioso em suas inúmeras missões. Às vésperas de completar nove décadas de vida, o líder religioso encontra-se internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgência e Emergência do Acre (Huerb) desde a última segunda-feira (28) após sofrer uma parada cardíaca. Nesta matéria especial de aniversário do padre Paolino, fiéis e amigos fazem suas homenagens, relembram fatos curiosos e dizem estar em constante oração pela recuperação de sua saúde.

“No aniversário do ano passado o padre Paolino estava internado, e este ano novamente ele se encontra hospitalizado, infelizmente numa situação bem mais delicada. Mas estamos todos em oração, participando de uma grande corrente em prol da recuperação de sua saúde. Padre Paolino sempre foi como um herói para a gente. Doou-se totalmente aos mais necessitados, ao povo sofredor. Sua vida toda foi dedicada às obras missionárias e da igreja. Eu sou muito grato por tê-lo acompanhado em várias das suas missões, é um amigo pessoal meu, e temos fé de que ele ficará bem”, diz Frei Zezinho.

Por vocação, padre Paolino desde sua juventude sentiu-se chamado a ser missionário. Do clima frio e gelado de sua Itália, onde nasceu, ele veio para embrenhar-se no tórrido calor da Floresta Amazônica, e levar a todos o Evangelho. Toda sua vida foi dedicada a “seu povo”, o povo acreano, nas paróquias de Brasileia, Boca do Acre (AM), e, principalmente, Sena Madureira.

Ele era famoso em todos os seringais como o “profeta das selvas”, “seringueiro de Deus”. Com um corpo franzino e de aspecto frágil, sempre demonstrou uma força de espírito interior impressionante. Com ele se tinha a experiência do que significava uma vida que jorra de dentro, e que revitalizava o corpo fraco.

Superou 85 malárias durante sua vida missionária. Era como um tronco, todo inteiro, sem nenhuma dobra. Denunciava as injustiças que amargavam a vida na selva. Além da atuação religiosa, também comprava uma boa briga política quando interesses de poderosos tentavam se sobrepor aos dos pequenos e desprotegidos seringueiros.

Leila Gonçalves lembra com emoção e alegria os momentos em que conviveu com o padre Paolino durante sua infância, quando o líder religioso tinha um espaço de oração na rádio Voz da Cidade, na década de 1960, e conta que sua irmã foi a primeira afilhada de batismo do padre.

“Meu pai sempre me levava para a rádio e nessa época existia o programa de oração da Ave Maria, e quem rezava era o padre Paolino. Todas as vezes eu o acompanhava rezando junto com ele a oração. Então falar dele é muito fácil, sempre ajudou os pobres, viveu em função disso, o dinheiro que ele recebia ele comprava remédios, vestes e alimentos para quem tinha necessidade. Nos dias de hoje acho difícil nascer outro igual que faça missão da maneira que ele sempre fez, com entrega e dedicação total ao próximo”, comenta Leila.

Nas suas viagens constantes pelos rios Purus, Iaco, Caeté, Macauã e qualquer igarapé onde houvesse a presença às suas margens, o padre dava a todos o conforto espiritual e material. Além dos sacramentos que administrava com total dedicação e espírito missionário, seus remédios caseiros, as receitas, as orientações, os cuidados, contribuíram para livrar adultos, crianças e idosos de enfermidades.

Em Sena Madureira, município em que o padre dedicou maior parte de sua vida às missões, fez muitas amizades e ganhou o carinho dos fiéis. É o caso de Zaquisley Barros. Ela conta que do batismo ao casamento teve a benção da celebração de padre Paolino Baldassari.

“Em 1975, ano em que nasci, padre Paolino celebrou meu batismo. Foi ele quem escolheu meus padrinhos que, para mim, são pessoas especiais e sou grata a ele pela escolha. Em seguida, a minha primeira comunhão, crisma e por fim meu casamento foram celebrados por ele. Padre Paolino sempre foi muito cativante, preocupado com a comunidade, sempre passou mensagens maravilhosas para todo mundo e bons conselhos. Estamos rezando para que ele se recupere logo e volte para o nosso meio”, afirma ela.

Foi sempre muito grande a preocupação do Padre Paolino em levar para ao povo mais desamparado, que morava tão longe na floresta, “o saber”, ou seja, dar a possibilidade de ter uma escola e um professor para lecionar. Os muitos benfeitores e amigos do padre Paolino colaboraram nisso.

Para o pároco da Catedral Nossa Senhora de Nazaré, Massimo Lombardi, padre Paolino Baldassari sempre foi um exemplo de dedicação ao povo acreano.

“Desde que cheguei ao Acre e conhecido o padre Paolino ele continua com a mesma dedicação e entrega ao povos indígenas, ribeirinhos e seringueiros. Ele faz 90 anos neste sábado, mas continua com a mesma força de vontade de ajudar o próximo de quando eu o conheci. Paolino é um exemplo pela dezenas de escolas que ele mesmo construiu com a ajuda da população local. Depois ele tinha um coração tão grande que não podia aguentar uma pessoa doente, então ele passou a atender centenas de doentes ao logo de Sena Madureira. Ele está no coração de todos os acreanos, principalmente da população mais carente”, disse Lombardi.

O bispo da diocese de Rio Branco, Dom Joaquim Pertíñez Fernández, também falou sobre a importância de padre Paolino para a Igreja Católica e fiéis do Acre, principalmente as paróquias onde ele trabalhou, como Sena Madureira.

“Paolino vem nos ajudando muito, principalmente nas comunidades que ele trabalhou, como Sena Madureira. Ele é exemplo de dedicação ao próximo sem distinguir raça ou classe social. Paolino faz bem a todos, negros, brancos, crianças e índios. Para ele não importa quem está ajudando, pois se preocupa com a parte humana do ser humano, cuidando dos enfermos, e também com as almas, evangelizando o interior do nosso estado. Então ele é uma homem que com poucas palavras não dá pra descrever sua importância para todos nós. Foram tantas doenças que ele contraiu subindo e descendo barrancos, mas sempre as venceu e agora não vai ser diferente”, disse o bispo.

O ex-prefeito de Sena Madureira, Nilson Areal, diz que o religioso contribuiu de forma humana em vários aspectos no município, principalmente na saúde e educação. “Para mim o padre Paolino é o maior missionário que eu conheço, não conheço ninguém com tamanha doação à essa comunidade, a esse Estado. Ele tem o poder de passar a verdade, transmitir esperança. Começou contribuindo muito com a educação e até hoje contribui com a saúde. É um exemplo a ser seguido por qualquer homem de bem. Nós, de Sena Madureira, temos muita gratidão a tudo o que ele fez”, disse Nilson Areal.

Até às margens dos rios Caeté, Macauã, Iaco, Purus, Acre, levava a mais bela receita que um médico pode dar: a receita do amor, da fé, do aprendizado com a história, com os exemplos e com os homens.

Fidelis Amorim acompanha padre Paolino desde que era menino, Para ele, é um privilégio conviver tanto tempo ao lado do amigo. “Ele é um exemplo de fé, exemplo de homem na sua simplicidade. Tudo o que tem e tudo o que alcança é para ofertar aos menos favorecidos, um gesto de grandeza e bondade. E nós, de Sena, só temos a agradecer em ter o padre Paolino em nosso meio. Nossa corrente de oração segue forte para que ele se recupere logo”, ressalta Fidelis Amorim.

A jornalista Wania Pinheiro acompanha o padre Paolino desde criança. Ela, que já participou como “anjinho” da Coroação de Nossa Senhora, um dos maiores eventos da igreja Católica, conta que seu pai ia todos os domingos às missas celebradas pelo vigário. Ela conta que uma das grandes emoções de sua vida foi receber um cartão de natal de Paolino feito à mão.

“Meu pai era muito devoto à Igreja Católica, todos os domingos ia à missa e sentava sempre no mesmo lugar, bem perto do altar só para ficar perto do padre Paolino. Era um grande admirador de sua obra, assim como maioria das pessoas que o conhecem. Fiquei muito emocionada quando um dia chegou um cartão de natal endereçado a mim, feito à mão. Chorei neste dia”, comenta.

Preocupado com o estado de saúde de Padre Paolino, o prefeito de Sena Madureira, Mano Rufino (PSB), cancelou um evento de filiações do seu partido, que aconteceria neste sábado (2) por entender que não há clima para festas no município.

“A população de Sena está preocupada com o estado de saúde do desse grande líder religioso, o querido padre Paolino. Precisamos respeitar esse momento, e, principalmente nos unirmos em oração e pedir a Deus que restaure a sua saúde”, disse o prefeito.

A empresária Charlene Lima participa neste sábado, em Rio Branco, de um momento de oração juntamente com vários membros da Igreja Católica, pela restauração da saúde de Padre Paolino. “Acredito na sua recuperação, ele é muito forte. Todas as pessoas com quem converso, seja católico ou de outra religião, está torcendo pela saúde do nosso vigário”, diz Lima, que também acompanhou uma virgília realizada por católicos de Sena na noite deste sexta-feira (1).