Destaque em ‘Velho Chico’, Renato Góes está no longa que abre o Cine-PE

2016-904060801-201604192120429669.jpg_20160419O ator Renato Góes, de 29 anos, se considera um cara católico. Frequenta a missa com alguma regularidade e, por via das dúvidas, deixa o texto do personagem que está interpretando no momento perto do altar que tem em casa. Já foi apóstolo João em cinco encenações da “Paixão de Cristo’’ em Nova Jerusalém; Pilatos em outras duas, na Paraíba e em Alagoas; e ainda aparece nos créditos do filme “Jesus, o nascimento” (2005). Nome por trás do Santo da primeira fase da novela das 21h da Globo, “Velho Chico’’, ele não encontra uma explicação factível para essa obsessão quase bíblica por sua figura. Mas suspeita:

— Meu tipo físico leva pra isso, acho. Não fiz nada de destaque que não fosse de época.

Renato é pernambucano, de estatura mediana, sobrancelhas grossas, cabelo encaracolado, nariz adunco. Tem traços retos e ao mesmo tempo flexíveis. Parece apóstolo, parece Pilatos, parece o Romeu shakespeariano do sertão concebido pelo autor Benedito Ruy Barbosa e dirigido por Luiz Fernando Carvalho no horário nobre. Suado em cima de um cavalo ou tomando banho de rio, o Santo de Renato bateu forte. Desde então, seu tipo físico o leva para outro lugar: o de galã.

— Esse não era o foco, mas entendo que o Santo ocupe este espaço. Meus próximos personagens são bem distantes disso, mas não quer dizer que eu não volte a este lugar — afirma Renato, morador do Rio desde 2005, quando veio fazer um teste e só voltou à terra natal nove meses depois, para pegar a mala e a cuia e mudar-se de vez.

DE RAPPER A SERTANEJO

Distante disso pode ser o rapper Marcelo D2 no filme “Anjos da Lapa’’, de Johnny Araújo, que ele começa a filmar em junho; o quase vilão Gustavo de “A lei do amor’’, próxima trama das 21h, de Maria Adelaide Amaral; ou o sonhador Micuim da fábula sertaneja “Por trás do céu’’, de Caio Sóh, longa-metragem que abre, hoje, a mostra competitiva do festival Cine-PE, no Recife.

Na trama deste último, Renato vive um lavrador que viaja para a cidade grande, de onde leva de recordação para a amiga Aparecida (Nathalia Dill) uma revista que divulga um foguete. A partir daí, ela nutre um desejo incontrolável de conhecer o céu, e a história segue viagem.

— Já tinha feito testes no Rio e fechado o elenco, menos o Micuim. Na véspera de partirmos para João Pessoa para iniciar as filmagens, me mostraram um stand-up do Renato. Achava ele bonito demais para o papel, mas depois de ver sua versatilidade, resolvi convidá-lo para uma leitura. Na mesma noite ele interpretou uma cena, eu o chamei para fazer o papel e ele aceitou. No dia seguinte embarcamos — conta Caio.

A mesma beleza que botou a pulga atrás da orelha de Caio abriu os olhos de Maria Adelaide Amaral.

— Ele se revelou um galã bonito, viril, forte e com um talento notável — ressalta ela, devolvendo Renato ao altar de Santo.

Pode ser que D2 tire ele de lá. Para o filme — que tem argumento de Nelson Motta e conta a história da formação do Planet Hemp —, ele vai emagrecer e raspar cabelo e barba. Nos últimos seis meses, ainda montou uma banda “informal’’ para “pegar a vibe do rap’’.

Mas, enquanto o rapper hasteia a bandeira da legalização da maconha, Renato enrola um pouco para opinar sobre o tema… Prefere pensar bem antes de acender polêmicas:

— Acho que a descriminalização da maconha é um tema para já. Acontece de forma efetiva em vários países e ainda existe a questão do uso medicinal da substância.

Renato gosta de se aprofundar em temas correlatos aos trabalhos que faz. Garante que é assim desde sua primeira aparição na TV, na novela “Pé na jaca’’, em 2006. Para encarar os arquétipos do método Luiz Fernando Carvalho de direção, mergulhou em “O poder do mito’’, de Joseph Campbell. Os dois já tinham trabalhado juntos na série “Dois irmãos’’, baseada no romance de Miton Hatoum, com estreia prevista para janeiro próximo. Nesta última, não precisou ir tão fundo: foi dublê do ator Cauã Reymond, intérprete do protagonista. Dublê não é bem o termo. Dramaturgicamente falando, Renato foi “réplica’’. Como a história gira em torno de irmãos gêmeos, Cauã precisava de outro ator fazendo as vezes de seu igual:

— Havia embates fortes, físicos inclusive. Até porta nas costas eu quebrei.

Para ele, quebrar porta nas costas foi um “investimento de aprendizado’’ que o levou até Santo. Suas origens também ajudaram: o universo rural explorado por Benedito lhe é familiar. Graças às férias passadas em Gravatá, cidade do agreste pernambucano, diferencia como ninguém um mandacaru de um facheiro e opina com propriedade sobre arreios de cavalo. “Peão’’ ou “vaqueiro’’ era como o chamavam nas locações da novela.

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