26 de abril de 2024

Em um ano, 130 casos de gravidez por estupro foram notificados na Capital

Em Rio Branco, 130 mulheres engravidaram em decorrência de estupro. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e contabiliza os atendimentos feitos na maternidade Barbara Heliodora. Destas, segundo o relatório apresentado, somente três realizaram aborto. Ou seja, 127 crianças podem ter nascido, fruto de violência sexual.

De acordo com a direção da Maternidade Bárbara Heliodora (MBH), algumas das vítimas sofreram mais de um abuso. Segundo a Sesacre, em 2016 este número caiu para oito casos notificados. Com base nos registros, no ano de 2015, o público alvo foi de 11 a 49 anos. Crianças com 12, 13 e 14 anos foram as vítimas mais frequentes, quantitativamente. Uma criança de 11 anos engravidou em consequência de um dos crimes.

Dados de 2015 fornecidos pela Secretaria de Saúde/Foto: Reprodução

De acordo com a psicóloga e professora que luta pelos direitos da mulher, Madge Porto, o que ocorre é a dificuldade da classe em buscar os serviços, que na maioria das vezes, não propõe resoluções claras ou torna burocrático o processo.

“É muito comum acontecer de a mulher já saber que não vai receber um cuidado especializado, porque se exige, na maioria das vezes, documentos oficiais que comprovem o crime de abuso, a denúncia. Nessas situações graves, é necessário ter orientação, agilidade e cuidado”, disse.

Dados de 2016 fornecidos pela Secretaria de Saúde/Foto: Reprodução

Segundo um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizada em 2016, quase 70% das vítimas de estupro que engravidam não fazem aborto legal. O Ministério da Saúde informou que, em todo o país, 4.021 bebês nasceram de mães de até 12 anos que foram estupradas entre 2011 e 2014 — o órgão, porém, não concluiu o relatório sobre o número total de bebês nascidos após estupro. Com relação ao acolhimento necessário às mulheres que engravidam após os episódios, a especialista também falou que os serviços não são divulgados como deveriam.

“São diversos elementos que impossibilitam a resolução dessas problemáticas. Incluo aqui a não informação acerca dessas situações e o que se deve fazer”, enfatizou.

Professora e psicóloga Madge Porto/Foto: Reprodução

Porto também declarou que as consequências maiores se instalam, devido ao “discurso e posicionamento moralista” do Estado em não permitir o aborto nesses casos e abrir portas para os trabalhos clandestinos.

“Deve-se atentar para a configuração do nosso sistema público de saúde, no que se refere a um espaço que na maioria das vezes não oferece um campo acolhedor e que trabalhe na prevenção – referindo-se de forma geral aos serviços oferecidos em centros de saúde. Além do mais, não sabem que, se a mulher não é tratada com deveria, se não oferecem o suporte fundamental, as clínicas clandestinas continuam atuando no nosso campo”, concluiu.

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