25 de abril de 2024

Membro do povo Puyanawa, no Acre, está a um passo do PHD em Harvard

De uma aldeia indígena de Mâncio Lima, no interior do Acre, para Harvard, nos Estados Unidos. Essa pode ser a trajetória de Jósimo Constant Puyanawa, de 30 anos, caso ele seja aprovado em um teste no próximo dia 27 que lhe garantirá uma vaga em uma das instituições de ensino mais prestigiadas do planeta.

Mesmo que não chegue a Harvard, o estudante já tem muito do que se orgulhar. Ele foi o primeiro indígena a se formar em Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB) e atualmente conclui seu doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Nunca um Puyanawa foi tão longe”, reconhece Kãdeyruya, como é chamado na língua de seu povo. O nome significa “bom professor” e condiz com sua atuação dentro da terra indígena, situada no extremo oeste do Brasil.

Jósimo nos “bons tempos” de UnB / Foto: Cedida

Seu pai, Jorge Constant, também foi professor e lutou, no início dos anos 90, pela demarcação do território onde hoje o povo vive. “Foi minha maior inspiração”, lembra Jósimo, que, quando garoto, foi morar com a mãe, empregada doméstica, na vizinha Cruzeiro do Sul, ocasião em que pôde estudar o ensino fundamental.

A partir daí, um mundo de possibilidades se abriu para o menino, apesar do preconceito que sofreu nos tempos de escola. “Comecei a ver que os sonhos são possíveis de serem realizados”. Em 2006, se formou em Pedagogia pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e, no ano seguinte, retornou à sua aldeia para dar aulas para os “parentes”.

Kãdeyruya comenta que desde pequeno tinha interesse pela língua inglesa e em 2009 já dava aulas de inglês em uma escola pública de ensino médio, em Mâncio Lima. Depois disso, veio uma nova paixão: a antropologia – e a oportunidade de cursá-la na UnB, em 2012. “Foi a melhor escolha da minha vida. Lembro desse período com muita alegria”.

Reunião com lideranças Puyanawa / Foto: Cedida

A partir desse campo, Jósimo passou a estudar as própria raízes. “Não conhecia muito bem a história do meu povo e passei a mergulhar na cultura Puyanawa, em uma espécie de arqueologia da nossa memória”.

Quatro anos depois veio o mestrado em Direitos Humanos, também na UnB, e o reconhecimento da comunidade acadêmica, tendo sido capa de publicações do Ministério da Educação (MEC).

Jósimo chegou a ser premiado com uma bolsa de estudos para a escola de inglês Thomas Jefferson, da embaixada norte-americana, e fez parte da Fundação Lemann, que apoia talentos pelo Brasil, ocasião em que teve a oportunidade de presentar Jorge Paulo Lemann com um cocar Puyanawa.

Encontro Anual da Fundação Lemann / Foto: Cedida

Se chegar a Harvard – para onde já havia sido convidado a dar uma palestra, mas foi impedido pela pandemia de coronavírus -, pensa em estudar Ciências Políticas e adquirir ainda mais conhecimento e experiência para ajudar a transformar a realidade de seu povo. Kãdeyruya sonha em fundar, em sua terra, um instituto educativo voltado para o ensino, pesquisa e extensão.

“Quero muito dar esse orgulho aos meus pais, meu povo e minha cidade. Quero também ser fonte de inspiração para que outros Puyanawa acreditem que é possível ir longe sem perder a conexão com as nossas raízes. Já passamos muitas dificuldades, mas gostaria de mostrar para as crianças e jovens indígenas que existe outro caminho”.

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