Desde o ano 2000, o povo Yawanawá vem gradualmente abrindo suas aldeias para receber visitantes vindos de diferentes localidades, com interesse em conhecer de perto a cultura do povo Yawanawá. Parte desse interesse envolve o conhecimento de algumas práticas espirituais, cujo objetivo é a promoção de uma maior conexão entre o indivíduo e a natureza para o melhor entendimento sobre si e sobre o universo.
Recentemente, a atriz, diretora cinematográfica e modelo, Fernanda Nizzato; em companhia de seu namorado, o empresário Pedro Paulo, ex-piloto de Fórmula 1, visitaram a Aldeia Nova Esperança. Pedro Paulo administra uma fazenda especializada em produtos orgânicos. Eles foram recebidos pelo cacique e líder espiritual Biraci Brasil e por sua esposa Putani, permanecendo por cinco dias na aldeia.
Apesar da suspensão das visitações na terra indígena por causa da pandemia da Covid-19, o casal foi recebido por já terem uma ligação com os Yawanawá. Mesmo assim, o casal precisou cumprir com todas as medidas de segurança durante a visita.
Ao site O Juruá em Tempo, Fernanda concedeu entrevista e fotos pessoais de sua visita aos Yawanawá, momento em que nos relatou um pouco de sua experiência na comunidade indígena.
JT: Como foi sua recepção na aldeia Nova Esperança pelos Yawanawá?
Fernanda: A recepção foi maravilhosa, imaginava que seria especial; mas, não imaginava que seria tanto. Eles nos acolheram como se fôssemos da família, e logo no primeiro dia fomos recebidos com uma linda cerimônia de Ano Novo. Também comemorei meu aniversário no dia 04/01 e fui abençoada com uma linda festa. Foi a primeira vez em uma aldeia, e com certeza pretendo voltar.
JT – Com qual ou quais lideranças espirituais você teve contato e realizou trabalhos?
Fernanda – Fui recebida pelo Cacique Bira, a Pajé Putani e sua família. Eu não conhecia os Yawanawá. Foi muito especial meu chamado para ir à tribo. Duas semanas antes da viagem, em uma das minhas meditações diárias, fui presenteada com uma visão em que uma índia de branco me fazia um trabalho espiritual e que estávamos em uma tribo. Eu compartilhei a visão com meu namorado Pedro que, por acaso, já tinha ido à tribo no ano de 2015. Então, ele entrou em contato com o Cacique e tudo aconteceu. Foi muito especial, como uma premonição; porque assim que cheguei na cerimônia recebi um trabalho da Putani.
JT – Como foi a experiência desse convívio com os Yawanawá?
Fernanda – Nunca vou esquecer tudo que vivi e aprendi com a família Yawanawá. Senti muito amor naquelas pessoas; um amor puro, longe de interesses e julgamentos. Achei muito bonito e especial a forma como o Cacique e a Pajé tratam sua família: com muito respeito, carinho e amor. Todos colaboram uns com os outros, muito lindo de ver como honram seus ancestrais e sua tradição. Fiquei encantada e me emocionava todas as vezes em que os ouvia cantar e tocar. As músicas são lindas e donas de uma energia única, forte. Dancei muito, e ainda os quero ver em um estúdio gravando essas canções, que têm que ser compartilhadas com o mundo. Estive em momentos íntimos com a família e foram muito acolhedores, ouvi muitas histórias e aprendi muito sobre a tradição, as medicinas. Aprendi que a abundância tem relação com a simplicidade; e o nosso conceito de acúmulo material tem relação com a escassez. Essa simplicidade abundante traz uma paz e tranquilidade que deixa o amor puro emergir.
JT – Você sente que tenha aprendido algo de valor, algo que tenha mudado em você a partir dessa experiência?
Fernanda – Sim, com certeza. Que as coisas mais importantes e belas da vida estão na simplicidade. Que devemos honrar cada vez mais nossas famílias e nossa história que é muito rica e sábia. Que devemos nos integrar com a natureza, fazer as pazes com a mãe terra, onde está toda a abundância do nosso mundo.
JT – Na sua opinião o que os Yawanawá têm a oferecer que pode ser de interesse para as pessoas?
Fernanda – A espiritualidade, a cura com as plantas medicinais, o plantio e preservação da natureza, as músicas e hábitos saudáveis de vida.
JT – Você recomendaria a experiência para outras pessoas? Para quais pessoas e em que circunstâncias você acredita que essa experiência possa ser interessante?
Fernanda – Recomendo muito, mas tem que estar aberto para um novo despertar da consciência.
JT – Normalmente as pessoas descrevem as dificuldades para chegar até a aldeia. Na sua opinião, há algo no trajeto todo – de Cruzeiro do Sul até a aldeia que poderia ou deveria ser feito para melhorar a jornada dos visitantes?
Fernanda – Realmente não é fácil chegar, é uma viagem longa e cansativa. Principalmente o trajeto com a canoa; foram quase sete horas de canoa. Seria incrível se fosse possível melhorar essa locomoção, e também protetores de ouvido para as pessoas que dirigem as canoas, pois o barulho é intenso e acaba comprometendo a audição de quem trafega.
JT – Qual sua impressão sobre a cidade de Cruzeiro do Sul? O que achou dos serviços oferecidos na cidade: transporte, rede hoteleira, restaurantes e lanchonetes etc.? Sentiu falta de algum serviço especificamente? O que na sua opinião poderia ser melhorado na cidade para os visitantes?
Fernanda – A cidade é uma graça. Visitei a Catedral, fiquei hospedada no Hotel Swamy e fui ao Salão ID, que é muito bom e recomendo. As pessoas são super-receptivas. A única coisa que senti falta foi de restaurante. Há noite não achamos nenhum lugar para comer.
JT – Para encerrarmos essa entrevista, quais palavras você deixa para as pessoas que têm vontade de conhecer de perto o povo Yawanawá?
Fernanda – Estejam abertas à tradição e cultura deles; se puderem, vivenciem as cerimônias, é uma experiência única.