Brasil vive inflação por escassez pela 1ª vez desde Plano Real

No mês de agosto o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15) registrou 0,89%, sendo o pior índice para o mês nos últimos 18 anos. Nesse contexto, economistas reconhecem que o resultado revela um cenário inédito: pela primeira vez, desde a adoção do Plano Real, o Brasil enfrenta inflação motivada por escassez.

Geralmente, a inflação ocorre por excesso de demanda, que por sua vez, impulsiona os preços. O problema é bastante percebido especificamente na indústria automotiva, onde há atraso no prazo de entrega dos carros novos. Por consequência, isso tem aquecido o mercado de usados. Para reduzir os atrasos, veículos têm chegado ao mercado sem acessórios.

Um levantamento da consultoria Luvi One destaca mais um problema enfrentado pelo país. Além dos problemas econômicos como explosão do sistema de bandas cambiais, crise energética, risco eleitoral e instabilidade política, o momento apresenta um novo problema: a falta de insumos. Há falta de semicondutores, aço, madeira e algodão, como aponta o CEO da empresa, o economista Felipe Guterres.

“Nunca enfrentamos nada igual no período do Real, com escassez em tantos setores da economia, embora enfrentemos um cenário de alta liquidez, porque o governo injetou dinheiro nela para que não quebrasse. Algo que se repetiu pelo mundo para evitar os danos econômicos de lockdown”, avalia.

Escassez de produtos e inflação

A escassez de produtos afeta as cadeias produtivas, que por conta de terem parado por longos períodos, estão trabalhando com estoques ainda mais abaixo que o habitual. Além do aumento da inflação causado, os impactos podem ser sentidos na indústria automotiva, onde os prazos para entrega estão dilatados e podem ultrapassar a 120 dias.

Coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), André Braz concorda que há inflação de escassez. Este é um cenário que entende se repetir pelo mundo, mas destaca outras variáveis que compõem esse índice no Brasil. Entre eles, os aumentos nos preços dos combustíveis e a crise energética.

“Nós temos uma certa escassez, mas há outras pressões em paralelo. Aumento do petróleo e crise hídrica são outros dois fatores que afetam os preços. Isso diminui a oferta de alimentos e, somado à falta de produtos, compromete a cadeia produtiva. No setor automotivo, temos visto o aumento no preço do carro novo e também no mercado de usados. Os serviços de oficinas também subiram seus preços, para acompanhar”, explica.

Cenário para 2022

Os dois especialistas concordam que a expectativa é de uma inflação menor em 2022. No entanto, acham improvável que os preços voltem a se acomodar rapidamente e retornem ao patamar pré-pandemia. A justificativa para isto está nas margens de lucro represadas desde o início da pandemia.

“Depende da normalização da cadeia produtiva. Devemos ter aumento de juros para conter a inflação, e isso segura muito a atividade econômica, evitando aumento de preços. Se ocorrer no primeiro semestre, pode ser mais fácil. Depende de resolver a questão hídrica. Para isto, precisamos saber se teremos um verão com pouca ou muita chuva. Tudo isso terá impacto na economia”, pondera Braz.

 

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