Psicóloga no AC destaca importância do Setembro Amarelo e debate: “Sem saúde mental, não há saúde!”

O mês de setembro é lembrado por muitos, principalmente os usuários das redes sociais, como o mês de prevenção ao suicídio, depressão e ansiedade, ainda mais pelo dia 10 de setembro, que é lembrado como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data foi criada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e endossada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A psicóloga Andreia Vilas Boas, que atua na prevenção do suicídio há 10 anos, explica a importância do debate sobre saúde mental e afirma que é preciso ampliar o conceito de saúde. “Sem saúde mental, não há saúde! O foco ainda tem sido nos cuidados com a saúde física, biológica, mesmo com as taxas de adoecimento mental subindo a cada ano, principalmente neste período de pandemia”, diz.

Para Andreia, ainda existem estigmas e preconceitos em relação aos cuidados com a saúde mental, o que auxilia na resistência em buscar ajuda com profissionais desta área, mas o debate sobre o assunto pode ajudar na desmistificação do tema e ajudar as pessoas a compreenderem a importância de buscar ajuda. “Quanto antes as pessoas buscarem ajuda, melhores serão as chances de recuperação”, afirma.

A campanha Setembro Amarelo é lembrada pelo combate à depressão e ansiedade, mas principalmente pelo combate ao suicídio. Segundo a profissional, o suicídio é um fenômeno complexo e nem sempre é fácil perceber os sinais. “Em alguns casos pode até não ter havido sinais claros e isso acaba deixando familiares e amigos sem respostas, sem entender as razões ou motivos que podem ter levado à esta situação”, explica.

O laço amarelo virou símbolo da campanha. Foto: Site oficial Campanha Setembro Amarelo

A psicóloga alerta para alguns sinais que podem indicar que o outro precisa de ajuda profissional, como: mudanças de comportamento, alterações no sono, na alimentação e no convívio com as outras pessoas; tristeza, choro frequente; queda na produtividade no trabalho ou nos estudos; uso abusivo de álcool e outras drogas; impulsividade e comportamentos irresponsáveis; diminuição no autocuidado; perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas; verbalizar pensamentos de morte ou ideação suicida; escrever bilhetes, cartas de despedida ou começar a se desapegar de objetos pessoais que eram importantes, como se fosse uma despedida. Andreia aponta ainda que é importante ressaltar que podem existir muitos sinais, mas nenhum deve ser considerado de forma isolada.

Combate e prevenção

Para a psicóloga, o suicídio é um grave problema de saúde pública e há necessidade de maior investimento nas políticas públicas sobre o assunto, bem como na implantação dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para ampliar o acesso da população aos atendimentos. Outro ponto que a profissional cita, é o desenvolvimento de estratégias de prevenção do suicídio.

Para Andreia, há necessidade de ampliar os serviços de saúde mental e o acesso da população aos atendimentos nesta área no Acre, em decorrência da demanda que existe no estado. 

“A proposta da Rede de Atenção Psicossocial é excelente, mas ela precisa ser fortalecida e implantada de acordo com o que está proposto na lei para que, de fato, tenhamos serviços que atendam as necessidades da população. É preciso ampliar também a oferta dos serviços, o número de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e outros serviços da rede”, explica.

Além disso, a psicóloga afirma que é necessário uma maior oferta de capacitações na área de saúde mental para os profissionais de saúde.

A depressão, como outras doenças psicossomáticas e outros transtornos mentais não possui causa única, pois há uma relação de vários fatores que podem levar ao adoecimento de uma pessoa. Mas, segundo a psicóloga, há algumas medidas que podem ajudar na prevenção da depressão, como a boa qualidade de vida, que inclui emprego, moradia, saneamento básico, alimentação, acesso à educação e saúde de qualidade, além de hábitos saudáveis, como a prática de atividade física, sono de qualidade e buscar fazer atividades que proporcionem sensação de felicidade e bem-estar, além de uma boa alimentação.

Como posso ajudar?

Se uma pessoa percebe sinais de alerta vindo de outra pessoa próxima ou de sua convivência, segundo a psicóloga, o primeiro passo é não julgar e entender que a pessoa está doente e precisa de ajuda profissional.

“É importante perguntar se está acontecendo alguma coisa, se pode ajudar, dando espaço para que a pessoa possa conversar e falar sobre o que está sentindo. Evitar dar conselhos e dizer o que a pessoa deve ou não fazer. Escutar com empatia, acolhimento e falar sobre a importância de buscar ajuda profissional. E, caso seja necessário, se oferecer para acompanhá-la nos atendimentos. Esse apoio é fundamental”, explica Andreia.

Caso a pessoa perceba os sinais nela mesmo, é preciso conversar com alguém de confiança, não ter vergonha de pedir ajuda e buscar atendimento profissional, com psicólogos e/ou psiquiatras.

Outra alternativa é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, através do número 188, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

Pandemia

Com os primeiros casos de Covid-19 surgindo no Brasil em 2020, uma das primeiras medidas de proteção e prevenção à doença foi o isolamento social, que deixou diversas pessoas em casa por meses.

Além do isolamento e distanciamento, outros fatores como desemprego, mortes, insegurança financeira e alimentar afetou, ainda mais, a saúde mental das pessoas. Segundo a psicóloga, a mudança repentina nas vidas, nas rotinas e nas formas de conviver gera medo, ansiedade, insegurança, alto nível de estresse e luto. “Inclusive um luto coletivo pelas milhares de vidas perdidas, e tudo isso afeta nossa saúde mental e pode levar ao adoecimento”, explica.

Para crianças e adolescentes, o distanciamento promovido pela pandemia, intensificou o aumento das doenças psicossomáticas nestas faixas etárias, principalmente pela impossibilidade de frequentar aulas e ter contato social, importante para o desenvolvimento. As pesquisas vêm mostrando o impacto que a pandemia teve na saúde emocional de todos, mas principalmente nos pequenos.

“Todos nós fomos afetados, porém, de formas diferentes, com intensidades, dificuldades e possibilidades de enfrentamento diferentes também. A questão em relação às crianças e adolescentes era algo que já vinha acontecendo, mesmo antes da pandemia”, afirma.

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