Nesta quarta-feira (15), Hitalo Marinho Gouveia foi ouvido como réu, acusado de matar a esposa Adriana Paulichen em julho de 2021. Ele fala agora sobre o dia dos fatos e iniciou falando que eles tinham alugado o local e que foram até lá e conversaram. Pontuou também que iam começar uma vida nova e ela o perguntou se ele nunca a tinha traído de fato.
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“Ela dizia para eu falar logo e nesse momento de estresse, disse que eu tinha ficado com a amiga. E ela começou a gritar. Estava super transtornada, gritando, mandando eu ir embora e eu disse que não ia, deixando ela ‘daquele jeito’”, disse.
Hitalo continuou falando sobre a briga que antecedeu o crime. “Ela disse que se eu não saísse por bem, sairia por mal. Pegou uma faca e deu a facada na minha perna, saiu muito sangue. Ela chamou o Samu e falou ‘se tu me denunciar e eu for presa, eu sumo com teu filho e tu nunca mais ver ele'”.
“Eu fui para a UPA e depois fui encaminhado para o Pronto-Socorro, mas os médicos falaram que não sabiam porque estava sangrando tanto. Nesse período de ir para uma unidade e outra, eu pedi para a Adriana ir me buscar porque eu imaginei que ela levaria o bebê, então eu saberia como estaria meu filho, mas ela chegou lá sem ele e eu perguntei onde estava ele e a Adriana disse que estava com a Juliana”, disse.
Hitalo contou que eles ainda discutiram alguns minutos e depois as coisas se acalmaram. “Então Juliana e Andréia saíram mas voltaram por volta de 10 minutos, porque a Juliana tinha ficado fora de casa e eles ficaram conversando e eu fiquei quieto no meu canto. A discussão voltou pela manhã”. Adriana ligou para a amiga dizendo que ela já sabia da traição.
O réu contou que Adriana ameaçou o filho do casal. “Sabe de uma coisa? Já que eu não consigo te matar, eu vou matar teu filho para tu sentir remorço o resto da tua vida”.
“Quando eu saí do banheiro eu vi a cena dela indo em direção ao neném com uma almofada. Eu peguei uma faca que estava próximo de mim e furei ela. Naquele momento ela se virou e começou a me bater e o neném começou a chorar, eu abracei ela de frente e ela começou a me bater nas costas, aí eu abracei ela de costas, dei tipo um mata leão nela e ela enfraqueceu, aí eu deitei ela no chão e eu fui acalmar o neném. Depois eu fui mexer nela para ver se ela reagia e ela despertou e pulou no meu pescoço, então eu segurei ela ‘aqui assim’ (no pescoço) e ela estava me batendo tentando me agarrar, batendo no meu pescoço e nos meus peitos”, disse, com a voz trêmula.
“O senhor matou ela asfixiada?”, questionou o juiz. “Não sei se foi asfixia porque eu estava empurrando ela”, disse Hitalo.
“Eu vi que ela estava inconsciente e eu fui olhar o neném, ele estava quieto na rede e eu fui olhar ela e percebi que ela tinha morrido, então eu fiquei desesperado e comecei a chorar, foi quando eu pensei que tinha que me entregar ou fazer alguma coisa, mas eu pensei no neném e liguei pro Gean”, disse.
“Ele chegou lá e eu expliquei que a Ana (Adriana) morreu, ele ficou desnorteado e eu disse que ia chamar a polícia e perguntei se tinha que chamar um advogado, aí o Gean disse que ele deveria ligar para todo mundo”, falou.
Hitalo disse que preparou uma bolsa para Gean levar o neném para a mãe do réu, enquanto Gean ficou do lado de fora do estabelecimento, onde tudo aconteceu.
MPAC
A promotoria do Ministério Público do Acre (MPAC) disse que, na delegacia, Hitalo afirmou que deu duas facadas nas costas da vítima.
A promotora também perguntou como Hitalo sabia que Adriana já estava sem vida e perguntou porque ligou primeiro para um amigo e para um advogado, e não para polícia.
“No momento, pensei em me entregar, chamei o Gean porque não sabia como ia ficar a situação do meu filho. Por isso liguei para o Gean”, diz.
Segundo Hitalo, a advogada disse que estava próximo do local e que chegaria em 2 minutos e ligariam juntos para a polícia.
A promotora perguntou como aconteceu a dinâmica de ligar para a amiga e Hitalo respondeu que acredita que tenha sido pelo celular de Adriana, mas que os celulares eram iguais, então não tem certeza”.
A promotoria questionou Hitalo se ele sabia que a mãe dele estava escrevendo um diário sobre as agressões sofridas por ele e o réu respondeu que soube depois do crime.
A promotora do MPAC, Manuela Canuto, perguntou se quando Hitalo serviu o Exército Brasileiro, se ele havia tido curso de primeiros socorros e o réu disse que sim. A promotora fez perguntas com relação a outros relacionamentos, como o período de término com a ex-esposa e período de início de namoro com Adriana.
Além de outras perguntas, a promotora também questionou se Adriana fazia uso de algum medicamento e ele afirmou que a vítima fazia uso de um remédio tarja preta, que não recordava o nome, mas que teria tomado entre 1 a 2 meses. No laudo cadavérico apresentado pelo MPAC, que está no processo, não há indícios de bebida alcoólica, drogas ou medicamentos no corpo de Adriana.
Após ser questionado pela promotoria, Hitalo afirmou que perguntava se ela tomava o remédio todos os dias mas não sabia se ela realmente tomava.
O promotor Thalles Ferreira perguntou se Hitalo teria se limpado e tentado limpar o chão porque havia indícios de sangue, mas o réu disse que acredita que possa ser da limpeza da irmã na noite anterior quando ele foi esfaqueado na perna e foi parar no hospital.
Perguntas da defesa
“Me chamava de demônio, monstro, safado…”, disse Hitalo sobre as agressões verbais de Adriana contra ele, após ser questionado sobre o assunto pela defesa.
Os advogados também questionaram sobre o momento em que Adriana estava indo em direção ao filho, qual a intenção de Hitalo em esfaquear Adriana e ele respondeu que seria defender o filho e a intenção em segurá-la pelo pescoço, seria de se defender.