O jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem nesta semana em que aborda os números de mortalidades maternas no Brasil. Apesar de ter mais de uma década do início da implantação de programas voltados à saúde maternoinfantil, após os três anos de pandemia da Covid-19, o país viu as taxas de letalidade materna disparar.
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Segundo dados do Observatório Obstétrico Brasileiro, colhidos pela Folha, Rio Branco aparece entre as capitais brasileiras onde a taxa de mortalidade entre gestantes e puérperas, hospitalizadas com Covid-19, foi maior nos últimos dois anos de pandemia.
A capital do Acre aparece em terceiro lugar entre as maiores taxas, com 29,4%, atrás de Palmas, no Tocantins (31%) e Boa Vista, em Roraima, líder no ranking, com 47,7%. Ambas as cidades são da Região Norte do país, o que chama a atenção para a disparidade entre as regiões brasileiras e o acesso à saúde básica.
As estatísticas também mostram uma diferença significativa entre as cor ou raça das mulheres vítimas de mortalidade materna. O aumento dessa diferença é anterior à pandemia. Em 2014, 52,9% das gestantes pretas da Região Norte não tiveram acesso à um pré-natal, contra 21,7% entre mulheres brancas da região Sudeste.
O pré-natal adequado, inclusive, é uma das causas que pode frear o número de mortalidade materna e ajudar a salva a vida de milhares de gestantes no país. Porém, a disparidade entre raça gênero com acesso a um serviço de maternidade ainda é grande. Na pandemia, no primeiro ano, segundo uma pesquisa da Universidade Federal da Bahia, 64% tiveram um pré-natal adequado no Brasil, enquanto em relação às mulheres pretas, a média foi de 50%, já para mulheres indígenas a taxa foi ainda menor, apenas 30%.
De acordo com a Folha, cerca de 90% das mortalidades maternas poderiam ter sido evitadas e que por isso o problema é uma das maiores violações de direitos humanos das mulheres. A coordenadora do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), órgão que estuda as principais causas de mortalidade materna no Brasil, disse em entrevista à Folha que a solução para o aumento nas taxas está na atenção primária e em investimentos para melhorar o alcance de gestantes à um pré-natal adequado.