Predador do topo da cadeia alimentar e nativo da Amazônia Brasileira, o pirarucu vem causando danos há pelo menos 50 anos em regiões onde ele não existia, como rios da Bolívia e Peru. Conhecido na língua espanhola como arapaima ou paiche, nome mais comum no Peru, o pirarucu começou uma “invasão” que atravessou fronteiras e já estaria ameaçando a piscicultura desses países.
Documentário da TV BBC mostra que a espécie é nativa, por exemplo, em Iquitos, capital da “Amazônia Peruana”, cidade que fica localizada nas grandes planícies da Bacia Amazônica, a leste dos Andes.
Com cerca de 465 mil moradores, o município é conhecido por ser a maior localidade do mundo em número de habitantes onde não se pode chegar por terra, somente com avião ou barco.
A dificuldade de acesso até a cidade não foi obstáculo para retirar paiches dos rios da região e transportá-los por mais de mil quilômetros até a região Sudeste do Peru.
Consta que, por volta de 1975, esse tipo de peixe foi introduzido em criadores conservacionistas localizados na cidade de Puerto Maldonado, que fica só há 55 quilômetros da fronteira com a Bolívia e a pouco menos de 200 quilômetros de Assis Brsil, no Acre.
A cidade é capital do Departamento que leva o nome do rio Madre de Dios, curso d’água que se junta com o rio Madeira e se torna um afluente do rio Amazonas.
“Descobrimos que os primeiros indivíduos da espécie foram trazidos intencionalmente de Iquitos e foram deliberadamente soltos nas lagoas de Sandoval e Valência. A partir desses dois pontos houve uma expansão constante da espécie em direção ao rio Madre de Dios”, explica o pesquisador boliviano, Guido Miranda, da Wildlife Conservation Society, WCS.
A instituição de conservação e investigação da biodiversidade estuda há décadas um dos maiores casos de introdução de “peixes exóticos” na América do Sul.
Não se sabe muito bem ao certo de que forma os peixes foram parar em ambiente natural, mas relatos dão conta que por volta de 1976, em Puerto Maldonado, houve escapes de criadores conservacionistas. “Devido à dinâmica dos rios, os peixes se dispersaram ao longo do rio Madre de Dios, invadindo córregos e lagos bolivianos”, explica Miranda.
A preocupação dos criadores e pescadores da Bolívia e do Peru é que, como o pirarucu se alimenta basicamente de peixes menores, com o aumento da população do predador nos rios da região, as espécies que são a base da dieta das populações locais possam desaparecer. Entidades ligadas à biodiversidade começam a se preparar para estudos em busca de solução de um problema que aos poucos vai se tornando uma ameaça à condição de rios piscosos da Bolívia e do Peru.