Representatividade: Maioria da população de Rondônia é negra e grande parte está na periferia

Professor da UNIR reforça que processo de colonização forçou ida dessa parcela áreas mais distantes e marginalizadas

REPRESENTATIVIDADE: Maioria da população de Rondônia é negra e grande parte está na periferia

Foto: Site UFF – Universidade Federal Fluminense

 

Em Rondônia, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria dos habitantes, totalizando 68%, se autodeclara como pertencente aos grupos étnicos pretos e pardos.

O professor Marco Teixeira, especialista em Direitos Humanos, Desenvolvimento da Justiça e História da Amazônia na Universidade Federal de Rondônia (UNIR), destaca que essa população, em sua maioria, reside em regiões periféricas do estado.

O pesquisador ressalta que “a composição da população afrodescendente em Rondônia resultou de migrações de quatro grupos distintos, que chegaram ao território em momentos e circunstâncias diversas”.

Entre esses grupos, destacam-se os quilombolas do Vale do Guaporé, escravizados por portugueses; os barbadianos, que migraram durante o ciclo da borracha para a Amazônia; imigrantes isolados, sem apoio de um grupo identitário específico; e imigrantes haitianos, que chegaram após o terremoto de 2010 que devastou o Haiti.

Teixeira salienta que “o processo de colonização impulsionou a migração dessa população para áreas periféricas e marginalizadas do estado, sendo influenciado por oportunidades econômicas, como os ciclos extrativistas, como o da borracha, e a construção de obras públicas, exemplificada pela Estrada de Ferro Madeira Mamoré”.

Os dados do IBGE evidenciam que os pardos lideram a categoria de pessoas autodeclaradas ‘negras’ em Rondônia, representando 61,4% da população, enquanto os pretos correspondem a 7,4%.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Pardos

O professor destaca a influência das políticas de embranquecimento ao longo da história, promovidas tanto pelo Estado Brasileiro quanto pelos portugueses desde o período colonial, que tornam menos impactante ser identificado como ‘pardo’ em comparação com ‘negro’.

“Os fenômenos de miscigenação étnica em Rondônia iniciaram-se entre negros, brancos (portugueses) e indígenas, dando origem a grupos como caboclos, caburés, mamelucos e cafuzos”, explica ele.

Essa população foi classificada de forma negativa na sociedade. O termo “pardo” refere-se a indivíduos cuja cor da pele torna-se difícil de classificar nos antigos padrões, e alguns negros optam por essa categoria para evitar retaliações.

Na diversidade étnica, os pardos englobam mulatos, morenos, caboclos, mamelucos, cafuzos, caburés e outros grupos com diferenciações étnicas. Socialmente, encontram-se abaixo das populações consideradas brancas e acima das consideradas indígenas ou negras.

Entretanto, enfrentam desafios socioeconômicos, como pobreza, desemprego, subemprego, responsabilidades como pais e mães solteiros, além de baixos índices de escolarização e salários.

Os dados do segundo trimestre de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE revelam que 47,6% das mulheres negras e 53,1% dos homens negros exercem trabalhos considerados ‘desprotegidos’ em Rondônia.

Esses desafios, aliados ao racismo, são resultados da configuração histórica de colonização e formação do território, influenciada pela economia voltada para o ruralismo monocultor, que contribui para a exclusão das populações negras do campo, relegando-as a áreas periféricas e atividades consideradas “marginais”.

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