Terra de mulher bonita e abacaxis gigantes, Tarauacá é também lugar de escritores e mistérios

Cidade completa 111 anos de fundação com o título de uma das dez do país em que a populaão mais anda de bicicleta; são 27 mil “magrelas” contra 800 carros, mostram estatísticas

Conhecido e famoso Brasil afora pela descrição da beleza de suas mulheres e pelo gigantismo de seus abacaxis, com alguns exemplares da tradicional fruta chegando a pesar até 15 quilos, o município de Tarauacá, localizado a 400 quilômetros da capital Rio Branco, interior do Acre, está completando 111 anos de fundação nesta quarta-feira (24). Mas, fora a fama tradicional, o município poderia ser conhecido também como a terra dos mais conhecidos e afamados escritores acreanos ou ainda um lugar que guarda mistérios ainda a ser desvendados. 

Tarauacá é conhecida como Terra do Abacaxi Gigante/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Uma das características do município na sua parte urbana é que é também detentor do maior número de bicicletas no Acre, na lista das dez cidades brasileiras que mais usam a chamada magrela como meio de transporte. Com uma população estimada em 38.201 habitantes, sendo 52% urbana e 48% rural, segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) de 2014, há dados que apontam que entre 40% a 60% da população urbana faz pequenas viagens diárias usando bicicletas. A média é de que haja entre 3 a 4 bicicletas por domicílio na cidade.

Tarauacá, no interior do Acre/Foto: Reprodução

O que ajuda e contribui para isso é a geografia local, dizem os estudiosos. Ainda que esteja localizada no extremo noroeste brasileiro, na confluência dos rios Tarauacá e Muru, no Vale do Juruá, na parte em que geologicamente a Cordilheira dos Andes começa a se levantar, a cidade que também faz fronteira com o Peru, tem ruas planas e largas, o que favorece o transporte de pessoas com o uso do ciclismo.

“No município são 27 mil bicicletas contra 800 automóveis. Este ano fizemos uma audiência pública para implantação da primeira linha de ônibus municipal e veja só o que aconteceu: a população rejeitou a ideia. Disseram que já se sentem contemplados usando bicicleta, moto e caminhando”, chegou a revelar na época em que era vice-prefeito da cidade, Chagas Batista, em 2016.

40% a 60% da população urbana faz pequenas viagens diárias usando bicicletas/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Tarauacá é a quarta maior cidade do Acre, agora já com estimativa de 43,7 mil habitantes, segundo órgãos governamentais. Nada mal para uma cidade originada do Seringal Foz do Muru, que foi criado na confluência do Rio Tarauacá com o Rio Muru, transformando-se em povoado com o passar do tempo. Fundado em 1º de outubro de 1907, por Antônio Antunes de Alencar, o povoado foi transformado em vila e batizado de “Seabra”.Sua autonomia veio através do Decreto Federal 9 831, de 23 de outubro de 1912, tornando-se, então, município.

Em 12 anos, o crescimento populacional em Tarauacá foi de 22%. Foto: Reprodução

Foi, na época de Vila Seabra, que o município de Tarauacá registrou, por exemplo, feitos históricos muito pesados. Foi o caso, por exemplo, do assassinato do comerciante de origem libanesa Amir Kontar, morto sob tortura policial acusado de atentado contra a vida do então prefeito, Cunha Vasconcelos, em 1918. Preso desde o ano anterior, passando por torturas diárias, ele foi executado em janeiro de 1918 num caso que, de tão grotesco, abalou a recém-inaugurada República brasileira, com sede no Rio de Janeiro. Nos dias atuais, Kontar é uma espécie de santo popular, cuja sepultura, no cemitério da cidade, é uma das mais visitadas pela população local. Na crendice popular, pelo sofrimento que viveu na prisão, assemelhado à paixão de Jesus Cristo, o libanês virou santo, um santo brasileiro ao qual muita gente recorre e em busca de milagres.

Outro fato emblemático envolvendo Tarauacá ainda nos tempos de Vila Seabra trata da morte do então delegado Solom da Cunha, em 1916. Filho do já famoso escritor brasileiro Euclides da Cunha, Solom era delegado em Seabra e recebeu a icubência de ir, com um destacamento de policiais, à sede do Seringal Miraflores, numa área já próxima a divisa com o que viria a ser o município de Feijó. O seringueiro havia matado e ferido várias pessoas num forró no seringal e teria que ser preso.

Valente, o homem desafiou que o delegado fosse em pessoa para prendê-lo. O delegado atendeu o pedido e foi recebido à bala. Morreu após dois dias sendo carregado em rede na floresta após ser atingido a tiros. Está enterrado em Miraflores, à sombra de uma samaúma.

Município de Tarauacá visto de cima/Foto: Reprodução

Afora os mistérios de Tarauacá que mais parecem lendas urbanas, o município bem que poderia ser lembrado também como a terra de escritores que estão à altura dos grandes da literatura brasileira e mundial. Daquelas terras saíram – ou por ali passaram – escritores como Leandro Tocantins, famoso pelo romance “Os Olhos Inocentes”, que conta a sua história de menino que contempla as águas dos rios amazônicos, ou ainda de “O Rio Comanda a Vida”, além dos volumes de “Formação Histórica do Acre”.

Outro escritor tarauacauense não menos reconhecido  por sua importância histórica é José Potygyuara, por seu “Terras Caídass”, ou o poeta J. G. de Araújo Jorge, que se fixou no Rio de Janeiro, por onde foi inclusive deputado federal por vários mandatos.

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