Diretor do Deic e delegado de SP são afastados após serem citados em delação sobre corrupção policial; deputado foi mencionado

Governo afastou os delegados Fábio Lopes, do Deic, e Murilo Roque, de São Bernardo. Vinicius Gritzbach os citou em denúncia. Empresário foi morto após delação ao MP. Político Antonio Olim, que é delegado, também foi mencionado. Citados negam irregularidade.

Dois delegados de São Paulo foram afastados preventivamente pelo governo estadual após terem seus nomes citados na delação premiada que Vinicius Gritzbach deu ao Ministério Público (MP) sobre o envolvimento de policiais civis corruptos com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Além deles, um deputado que também é delegado foi mencionado pelo empresário na denúncia que ele fez sobre corrupção policial antes de ser assassinado no mês passado (saiba mais abaixo).

As informações sobre os delegados citados foram divulgadas na quinta-feira (19) pelo SBT. Nesta sexta-feira (20), no entanto, a TV Globo, a GloboNews e o g1 apuraram que eles foram afastados. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) foi procurada para comentar o assunto, mas não se pronunciou até a última atualização desta reportagem.

Gritzbach era empresário do ramo imobiliário, lavava dinheiro para policiais e membros da facção criminosa. Por esse motivo, ele também era investigado pelas autoridades por corrupção.

Os delegados afastados são Fabio Pinheiro Lopes, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), com sede na capital, e Murilo Fonseca Roque, de uma delegacia de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

Além dos dois policiais civis, o deputado estadual Antônio Olim (PP), foi citado na delação de Gritzbach. Olim é delegado, mas já estava afastado da Polícia Civil por causa do cargo político que exerce.

De acordo com fontes da equipe de reportagem, as autoridades da força-tarefa criada pelo governo investigam se os três delegados cometeram alguma ilegalidade. Eles responderão em liberdade.

O que dizem os citados

Dinheiro e armas apreendidos durante operação da PF e do MP-SP contra policiais corruptos ligados ao PCC — Foto: Reprodução/TV Globo

Dinheiro e armas apreendidos durante operação da PF e do MP-SP contra policiais corruptos ligados ao PCC — Foto: Reprodução/TV Globo

Procurados pela equipe de reportagem, Fabio e Olim negaram ter cometido qualquer irregularidade nas funções de delegados. Murilo não foi encontrado para comentar o assunto.

“Dessa forma, ou o empresário faltou com a verdade para obter vantagens em seu acordo de delação premiada, ou foi enganado pelo mencionado advogado”, informou Fabio por telefone. De acordo com o policial, Gritzbach foi investigado pelo Deic e indiciado por lavagem de dinheiro.

“Recebo, com veemente indignação, notícias acerca do meu nome e de outras honradas autoridades com fatos nebulosos, imprecisos e improvados, os quais não guardam qualquer relação com a realidade. Não conheço, nunca estive ou recebi pessoalmente, o senhor Vinicius Gritzbach. Não mantive qualquer contato próximo ou mediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, quem só soube existir quando do seu homicídio, publicamente divulgado, no aeroporto de Guarulhos”, informa trecho da nota divulgada à imprensa por Olim.

“Repudio e expresso a minha cabal indignação ao uso de meu nome de forma vil, gratuita e indevida. Não recebi nenhuma notificação oficial a respeito desses fatos, e sigo absolutamente sereno com relação a esse episódio, sobre o qual haverei de me posicionar, cobrando das autoridades os esclarecimentos e demandando as responsabilidades devidas, no momento e nas vias apropriadas para fazê-lo”, continua o deputado no seu comunicado.

Outros policiais foram delatados

Presos e procurado na operação da PF e do MP em São Paulo — Foto: Reprodução

Presos e procurado na operação da PF e do MP em São Paulo — Foto: Reprodução

Mais sete policiais também foram delatados por Gritzbach por suspeitas de corrupção e envolvimento com o PCC. Seis deles estão presos, incluindo outro delegado, e um está foragido. As prisões foram feitas nos últimos dias pela Polícia Federal (PF) em ação conjunta com o MP.

São eles: o delegado Fábio Baenaos investigadores Eduardo Lopes Monteiro, o “Du”, Marcelo Roberto Ruggieri, o “Xará”, Marcelo Marques de Souza, o “Bombom”, Valmir Pinheiro, o “Bolsonaro” e o agente policial Valdenir Paulo de Almeida, o “Xixo”.

O agente da Polícia CivilRogério de Almeida Felício, o “Rogerinho Punisher” fugiu e não foi preso.

Também foram presos pela PF o advogado Ahmed Hassan Saleh, o “Doutor Mudi”, e os empresários Ademir Pereira de Andrade e Robinson Granger de Moura, o “Molly”. Assim como os policias, eles acabaram delatados por Gritzbach.

Eles são suspeitos de lavagem de dinheiro e elo com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ainda de acordo com a investigação, parte do grupo movimentou junto ao menos R$ 72 milhões de maneira ilegal nos últimos cinco anos.

Como funcionava o esquema

PF: investigados por elo com PCC movimentaram R$72 milhões

De acordo com a PF e o MP, para lavar o dinheiro os investigados investiam dinheiro da propina paga pelo PCC aos policiais e do tráfico de drogas da facção criminosa em negócios imobiliários e na abertura de contas de empresas-fantasma.

A investigação identificou essa movimentação financeira irregular dos oito investigados entre 2018 e 2022.

Todos os oitos investigados citados acima haviam sido denunciados por Vinicius Gritzbach antes de ele ser assassinado no mês passado. O empresário conhecia o grupo pois lavava dinheiro para ele, seja na aquisição de empreendimentos imobiliários ou no investimento de criptomoedas e joias.

Também investigado pelo Ministério Público por suspeita de corrupção de lavagem de dinheiro, Gritzbach denunciou o grupo durante delação premiada à Justiça. Caso fosse condenado, ele teria a pena reduzida. O empresário respondia aos crimes em liberdade.

Gritzbach acusou policiais de cobrarem R$ 40 milhões de propina para não responsabilizá-lo pelos assassinatos de dois membros do PCC. O empresário era investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) por suspeita de ter mandado matar Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue” em 2021.

Ele não pagou o dinheiro do suborno e foi indiciado pela polícia pelos homicídios. Gritzbach foi executado a tiros no dia 8 de novembro na frente do Aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Execução de Gritzbach

Câmeras de segurança gravaram o crime cometido por dois homens encapuzados e com fuzis que fugiram em seguida (veja vídeo acima). Um motorista por aplicativo foi atingido por um dos disparos e também morreu.

Dois suspeitos de participarem da execução dele foram presos dias depois pela força-tarefa criada pelo governo paulista para investigar o caso. Matheus Augusto de Castro Mota Matheus Soares Brito teriam ligação com o Primeiro Comando da Capital.

O terceiro suspeito procurado como foragido pelo homicídio do empresário é Kauê do Amaral Coelho. Segundo a força-tarefa, mais pessoas podem estar envolvidas no crime.

Além de investigarem o possível envolvimento do PCC no assassinato de Gritzbach, as autoridades apuram a hipótese de que policiais possam ter participado da execução dele. Um áudio gravado pelo empresário mostra uma conversa entre um membro da facção oferecendo R$ 3 milhões a policiais para matá-lo.

A equipe de reportagem tenta localizar as defesas dos oito investigados para comentar o assunto.

 

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