Há cem anos após passar pelo Acre, aventureiro inglês Percy Fawcett sumia na selva amazônica

Em busca de uma cidade perdida, com ruas de ouro e prata na Amazônia, coronel manteve contato com Plácido de Castro; sua história virou filmes clássicos como “As Minas do Rei Salomão”

Há 100 anos, em janeiro de 1925, o governo brasileiro dava, enfim, por encerrada às buscas, nas matas da selva amazônica, na região onde hoje é parte do território do Estado do Mato Grosso, ao explorador inglês Percy Fawcett e sua comitiva.

Coronel britânico teria sido devorado por índios canibais no Brasil. Foto: Reprodução

Coronel do exército britânico e súdito da coroa inglesa, ele entrou na Amazônia após passar pelo Acre e inclusive manter contato, no início do século passado, em 1907, no Seringal “Benfica”, com o coronel José Plácido de Castro, que havia se recolhido às suas propriedades privadas após a vitória sobre os bolivianos na Revolução Acreana e a pacificação do território após a assinatura do Tratado de Petrópoles, no Estado do Rio de Janeiro.

Ele era administrador da incipiente Vila Rio Branco, que seria a capital do Acre. O coronel inglês chegou a tirar fotografias de Plácido de Castro cercado de cachorros em sua casa no que viria a ser zona rural da futura Capital Rio Branco.

O coronel havia entrado no Acre a partir do Peru e da Boliviano, navegando em canoas. Seu destino era uma cidade perdida, com ruas de ouro e tesouros diversos de uma civilização perdida que, segundo suas pesquisas, havia existido e desaparecido há milênios na selva amazônica.

Uma cidade que ele batizou com apenas com a letra “Z” (tal era o mistério que empregava em suas descobertas) e que ficaria onde é hoje o Estado do Mato Grosso, na região de Barra dos Garças.

O coronel e sua comitiva, entre os seus ajudantes o seu filho mais velho, desapareceram e nunca mais foram vistos. Para uns teriam sido abduzidos por alienígenas. Para outros, comidos por índios canibais que a época tinham a prática de matar e comer quem julgava seus inimigos e invasores de seu território.

A certeza de que os desaparecidos travaram contato com os índios foi obtida com o fato de que membros de uma expedição patrocinada pelo lendário jornalista e empresário Assis Chateubriand em busca da comitiva do inglês pelos locais por onde teriam passado, encontraram índios selvagens usando como adereços ou troféus de guerra etiquetas metálicas das malas dos aventureiros.

Foi a partir dai que, uma década depois do desaparecimento, o governo brasileiro dava as buscas por encerradas, naquele janeiro de 1925. O coronel inglês sumiu para sua passagem pelo território acreano fez com que o Acre, passasse a ser conhecido no mundo moderno como referência e ponto de partida no Brasil de um dos maiores aventureiros de que se tem notícia na história recente em todo o mundo.

Coronel Petcy Fawcett virou estátua e motivo de orgulho o em Barra dos Garças. Foto: Reprodução

Personagem tão relevante e real que virou filme cujo roteiro, com o rol de todas as suas aventuras, ainda não foi feito – embora especule-se que o personagem “Indiana Jones”, do épico “As Minas do Rei Salomão”, interpretado pelo ator norte-americano Harison Ford, tenha sido inspirado em Percy Harrison Fawcett, uma mistura de Sherlock Holmes e Indiana Jones, que andou em terras acreanas.

O Coronel do exército britânico e fiel súdito da realeza inglesa, o militar e aventureiro foi capaz de juntar em suas loucuras dignas de uma obra cinematográfica personagens reais como o rei inglês Eduardo VII, que reinou até 1910, o herói da libertação das terras acreanas do jugo boliviano, José Plácido de Castro, o então presidente brasileiro Epitácio Pessoa, o militar e indigenista Marechal Cândido Rondon, o indigenista Orlando Vilas-Boas e até o jornalista Assis Chateubriand, que, na época, dirigia um império de comunicação no Brasil só comparável, nos dias de hoje, ao poderio da Rede Globo de Televisão.

Percy Fawcett travou contato com o Brasil em 1906. Por aqui, com o Acre já conquistado a bala das mãos dos bolivianos, ele acabaria se encontrando com José Plácido de Castro em seu seringal “Benfica”, às margens do rio Acre, segundo os professores Alceu Ranzi e Evandro Ferreira, da Universidade Federal do Acre (Ufac), conhecedores da história do militar britânico e que se ocuparam como cientistas de suas histórias rocambolescas.

Apaixonado por fotografia, o coronel documentou suas próprias aventuras e chegou a fotografar Plácido de Castro em sua propriedade, ao lado de dois cães de guarda, quando o gaúcho já era uma espécie de prefeito e intendente da incipiente Vila Rio Branco, recém-conquistada dos bolivianos.

Plácido de Castro fotografado pelo coronel Percyci Fawcett no Seringal Benfica. Foto: Reprodução

Amazônia brasileira chama atenção de Fawcett em suas andanças pela Bolívia e Peru, nos Andes, dizem pesquisadores acreanos.

De acordo com os dois professores, antes de vir parar no Acre, Percy Fawcett andou pelos continentes africanos e asiáticos, mas foi na América do Sul que ele encontrou sentido para sua vida inquieta.

Após os primeiros contatos, com a confecção de mapas e outros estudos, em três meses de preparo, Fawcett, seu filho Jack e um amigo desse partiram de Cuiabá para nunca mais serem localizados. Uns dizem que o trio teria encontrado a passagem para outras dimensões; outros afirmam que os três teriam sido devorados por índios locais. Chegou-se até a especular que Fawcett teria vivido mais de três décadas “numa cidade subterrânea, escondida sob a Serra do Roncador”, atual destino de aventureiros e esotéricos no Mato Grosso, região em que há até um aeroporto para extraterrestres, localizado em Barra do Garças, cidade mato-grossense que abriga também uma estátua em homenagem a Fawcett.

O governo brasileiro foi envolvido nas aventuras do coronel inglês porque ele usou sua influência para fazer com que o embaixador da Inglaterra no Brasil o levasse ao então presidente da República do Brasil, Epitácio Pessoa, a quem pediu financiamento para sua aventura.

O presidente brasileiro condicionou a ajuda ao envio de uma comitiva de brasileiros para acompanhá-lo, uma sugestão do assessor do presidente para assuntos indígenas, o marechal Cândido Rondon, pelo visto já com um pé atrás em relação ao aventureiro.

No contato com as autoridades brasileiras, Fawcett parecia querer, sozinho e do seu jeito, encontrar ouro e obter fama internacional. Para o jornalista inglês e ex-ecorrespondente no Brasil, Larry Rohter, autor de uma biografia do militar, foi por orgulho, excesso de confiança e um certo amadorismo em terras inexploradas alguns dos motivos do fracasso da última viagem de Fawcett.

Tudo teria começado, na cabeça de Faecett, com uma viagem ao atual Sri Lanka como oficial da Artilharia Real britânica, onde se interessou por arqueologia. Foi ali que Fawcett descobriria misteriosas inscrições em uma rocha que, anos mais tarde, ele mesmo estabeleceria relações com o Documento 512, um mapa de 1754 de uma Cidade Perdida, guardado na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

“O manuscrito é considerado o único mapa conhecido de uma cidade perdida no centro do Brasil e sua existência vem, ao longo dos anos, motivando inúmeras pesquisas”, descreve a Fundação Biblioteca.

Existiria mesmo uma Atlântida brasileira escondida na selva amazônica?

Ainda de acordo com a BN, nas décadas seguintes, o documento seria inspiração para obras como “As Minas de Prata”, de José de Alencar, e “As Minas do Rei Salomão”, clássico de Rider Haggard. Aliás, Fawcett receberia das mãos de Haggard, cujo filho havia morado no Mato Grosso, uma misteriosa estatueta de basalto com letras desconhecidas.

Na mente fértil do coronel, aquela era uma espécie de chave de entrada para a Atlântida brasileira. Entre 1906 e 1924, foram sete viagens exploratórias na América do Sul, incluindo passagens por Corumbá, no Mato Grosso do Sul, e Rio Verde, “lugar onde ninguém entrara antes”, segundo Hermes Leal.

Como lembra o jornalista, as viagens de Fawcett eram muitas vezes marcadas por perrengues, como a descida do Rio Acre, onde o coronel encontraria barreiras naturais como 120 corredeiras e se alimentaria de macacos; e redemoinhos em rios da Bolívia que tragavam “embarcações inteiras, incluindo a tripulação”, segundo o próprio escreveu em seus diários.

Em uma de suas últimas notícias, antes de desaparecer no Brasil, Fawcett pedia para a família não enviar nenhum tipo de resgate, em caso de fracasso da expedição.

Nas décadas seguintes, a imprensa mundial faria, justamente, o contrário. Acredita-se que a Cachoeira São Francisco, na Rota Franciscana, foi um dos locais por onde teria passado Fawcett Seu desaparecimento foi uma fonte inesgotável de histórias que produziria uma infinidade de notícias.

Três anos depois de seu desaparecimento, se assistiria à uma corrida pelo paradeiro de Fawcett, em empreitadas como a Expedição Dyott com o caçula Brian Fawcett, em 1924; e a viagem sensacionalista de Edmar Morel. Brian Fawcett, com índio Kalapalo, financiados por ninguém menos que o magnata da comunicação Assis Chateubriand, em 1925.

O que se sabe é que, ao entrar na selva, acompanhado de um ajudante de seu filho mais velho, Fawcett carregava várias malas no lombo de burros. Eram malas inglesas, de marca, cujos adereços, anos depois foram encontrados adornando o pescoço de índios, num claro sinal de que aquelas pessoas haviam entrado em contato com o dono daqueles pertences.

Como na época havia informações de que, vez ou outra, os índios abatiam inimigos e comiam o que deles restava, concluiu-se que o aventureiro inglês, seu ajudante e seu primogênito viram comida de índios, o que os filmes de aventura que se baseiam em suas histórias e aventuras, não contam.
Barra do Garças tem fama de esotérica, um dos maiores responsáveis por isso é Percy Fawcett.

A cidade mato-grossense, que celebra o Dia do ET no segundo domingo de julho e tem um discoporto para pouso e decolagem de espaçonaves alienígenas, para o conforto de eventuais visitantes extraterrestres, tem também uma estátua em homenagem a esse explorador inglês.

Fawcett contribuiu para a energia alternativa e riponga do município porque seu (suposto) trágico fim está ligado diretamente à busca por cidades podres de ricas e amontoadas de ouro no meio da Amazônia. Há quem afirme categoricamente que ele não morreu, mas foi para outra dimensão, onde encontrou tal lugar.

Quem era final o aventureiro inglês que sumiu na Amazônia?

O coronel Percy Harrison Fawcett nasceu na Inglaterra, em 1867, e foi um famoso explorador britânico, cujas histórias cativaram o mundo. Fawcett formulou teorias de uma cidade chamada “Z”, em 1912.

Parte dos homens que integraram a expedição original de Percy Fawcett. Foto: Reprodução

Seus pensamentos foram alimentados, em parte, pela redescoberta da cidade inca perdida de Machu Picchu, em 1911. Durante suas viagens, Fawcett também ouviu rumores de uma cidade secreta, nas selvas do Chile, que teria ruas pavimentadas em prata e telhados feitos de ouro.

Depois de duas tentativas em vão em busca da cidade “Z”, Fawcett decidiu fazer uma ousada jornada, em 1925. Ele e sua equipe chegaram à beira de um território inexplorado, olhando para selvas que nenhum estrangeiro jamais havia visto.

Além de Fawcett, a aventura contou com seu amigo Raleigh Rimell, seu filho mais velho Jack, de 22 anos, e dois trabalhadores brasileiros. Ele explicou, em uma carta, que haviam atravessando o Alto Xingu, afluente do rio Amazonas, e tinham enviado seus companheiros brasileiros de volta.

Os exploradores chegaram a um lugar chamado Campo do Cavalo Morto, onde Fawcett enviou despachos por cinco meses e, após o quinto mês, eles pararam. Em seu despacho final, Fawcett enviou uma mensagem para sua esposa Nina e proclamou “Esperamos atravessar esta região em poucos dias …. Nós não podemos temer qualquer falha”. Este seria o último contato do explorador de 58 anos.

Fawcett e seus companheiros sumiram sem deixar rastros. Apesar de inúmeras missões de resgate, eles nunca foram encontrados. Enquanto a cidade perdida “Z” nunca foi encontrada, inúmeras cidades e restos de antigos sítios religiosos foram descobertos nos últimos anos nas selvas da Guatemala, Brasil, Bolívia e Honduras.

Com o uso cada vez maior da tecnologia de digitalização, é possível que uma cidade antiga, que impulsionou as lendas de Z, possa um dia ser encontrado, o que levaria Percy Fawcett a se revirar no túmulo – se é que não foi mesmo comido pelos índios canibais na época.

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