Uma tragédia devastadora marcou o início do ano de 2025 no Piauí. Maria Gabriela da Silva, de apenas 4 anos, morreu após 20 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
A menina foi a quinta vítima fatal de um envenenamento em massa ocorrido durante a ceia de réveillon na cidade de Parnaíba. O incidente, que vitimou membros de uma mesma família, foi causado pelo consumo de arroz contaminado com terbufós, um pesticida altamente tóxico cuja comercialização é proibida no Brasil.
O arroz envenenado foi servido em um prato tradicional da região, o baião de dois, consumido por nove pessoas da família na noite de 1º de janeiro. Entre os mortos estão a mãe de Maria Gabriela, Francisca Maria da Silva, de 32 anos; os irmãos Maria Lauane, de 3 anos, e Igno Davi, de 1 ano e 8 meses; e o tio Manoel Leandro, de 18 anos. Três outros indivíduos, incluindo vizinhos da família, sobreviveram ao envenenamento após receberem alta hospitalar.
O padrasto da mãe das crianças, Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, é o principal suspeito do crime e está preso preventivamente desde o dia 8 de janeiro. Apesar de negar o ato, ele admitiu em depoimento ter desavenças com a enteada e seus filhos. A investigação revelou contradições em suas declarações, reforçando as suspeitas contra ele.

Envenenamento deliberado e os impactos imediatos
A tragédia começou a se desenrolar nas primeiras horas de 2025. A ceia, que deveria simbolizar um momento de celebração, transformou-se em um cenário de horror para a família de Francisca Maria. Poucas horas após a refeição, os presentes começaram a manifestar sintomas graves de intoxicação alimentar, incluindo tremores, cólicas intensas, dificuldades respiratórias e crises convulsivas. A rápida piora no quadro de saúde dos familiares resultou em diversas internações emergenciais.
O uso do terbufós, a substância tóxica identificada no arroz, é ilegal no Brasil devido à sua periculosidade. Esse pesticida é conhecido por atacar diretamente o sistema nervoso central, sendo letal mesmo em pequenas quantidades. Estudos apontam que os efeitos da exposição ao terbufós podem surgir minutos após a ingestão, causando danos irreversíveis.
Nove vítimas envolvidas: uma análise das perdas e sobrevivências
O envenenamento resultou em nove pessoas contaminadas. Dessas, cinco não resistiram. Confira a lista de todos os envolvidos no episódio:
- Francisca Maria da Silva, de 32 anos (mãe de Maria Gabriela) – faleceu.
- Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (tio de Maria Gabriela) – faleceu.
- Maria Gabriela da Silva, de 4 anos – faleceu.
- Maria Lauane da Silva, de 3 anos (irmã de Maria Gabriela) – faleceu.
- Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses (irmão de Maria Gabriela) – faleceu.
- Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos (padrasto de Francisca Maria) – sobreviveu e está preso.
- Uma adolescente de 17 anos (tia de Maria Gabriela) – sobreviveu.
- Maria Jocilene da Silva, de 32 anos (vizinha da família) – sobreviveu.
- Um menino de 11 anos (filho de Maria Jocilene) – sobreviveu.
A situação expôs a gravidade e a complexidade do caso, que ultrapassou as barreiras de um incidente familiar para se tornar um marco trágico na história recente do estado.
O suspeito e as contradições no depoimento
Francisco de Assis Pereira da Costa, padrasto de Francisca Maria, é investigado como autor do envenenamento. Em depoimento, ele admitiu ter “nojo e raiva” da enteada, mas negou envolvimento no crime. A polícia, no entanto, encontrou incoerências em suas declarações, que divergem de outras testemunhas. Essa contradição foi decisiva para sua prisão temporária.
A investigação também revelou que Francisco utilizava frequentemente o pesticida encontrado no arroz em atividades domésticas. Peritos identificaram traços da substância em locais associados a ele, fortalecendo as evidências contra o suspeito.
Histórico de tragédias familiares e novos desdobramentos
O caso atual trouxe à tona outro episódio de envenenamento que vitimou dois irmãos de Maria Gabriela em 2024. Ulisses Gabriel e João Miguel, de 8 e 7 anos, morreram em circunstâncias semelhantes, com a mesma substância tóxica identificada em seus corpos. À época, uma vizinha foi acusada e presa pelo crime, mas novos laudos periciais afastaram sua culpa, redirecionando a investigação para Francisco de Assis.
Os investigadores agora examinam a possibilidade de o padrasto estar envolvido em ambos os casos, considerando o padrão semelhante entre os incidentes. Esses desdobramentos ampliam o escopo da apuração e podem resultar em acusações adicionais contra ele.
As consequências do uso de substâncias proibidas
O terbufós, embora proibido no Brasil, ainda é encontrado de forma clandestina em regiões agrícolas. Seu uso em alimentos humanos é estritamente ilegal, mas a baixa fiscalização facilita sua aquisição e utilização inadequada. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2024, cerca de 1.200 casos de intoxicação por agrotóxicos foram registrados no país, sendo o terbufós responsável por uma parcela significativa.
Os efeitos do pesticida são devastadores, incluindo sintomas como paralisia muscular, dificuldades respiratórias e, em casos mais graves, morte. Além disso, mesmo os sobreviventes podem sofrer sequelas neurológicas permanentes, como dificuldades motoras e problemas cognitivos.
Aspectos legais e desafios enfrentados pelas investigações
O uso e a posse de substâncias proibidas como o terbufós são puníveis por lei. No entanto, as brechas na fiscalização e a comercialização clandestina representam desafios significativos para as autoridades. Casos como o de Parnaíba destacam a urgência de ações mais rigorosas para controlar a distribuição desses produtos e prevenir tragédias semelhantes.
Os investigadores enfrentam ainda o desafio de conectar as evidências de forma clara e inequívoca, especialmente em casos com histórico de conflitos familiares. Isso exige a cooperação entre órgãos de segurança pública, laboratórios forenses e instituições judiciais.
A dor dos sobreviventes e o impacto comunitário
O impacto do envenenamento vai além da família atingida. A comunidade local, em Parnaíba, foi profundamente abalada pelo caso, que gerou comoção e indignação. Os sobreviventes enfrentam não apenas a dor da perda, mas também as consequências físicas e psicológicas do envenenamento.
Organizações locais têm mobilizado campanhas para aumentar a conscientização sobre o uso de pesticidas e fortalecer a fiscalização, visando evitar novas tragédias. O caso também reacendeu debates sobre a vulnerabilidade de populações mais carentes à violência doméstica e à negligência institucional.
Detalhes que permanecem na memória da comunidade
- A ceia de réveillon que marcou o início de uma tragédia sem precedentes.
- A perda de três crianças em um único evento, destacando a vulnerabilidade dos mais jovens.
- O histórico de envenenamentos anteriores na família, que só agora ganha um novo desdobramento investigativo.
Reflexos nacionais e necessidade de políticas públicas
O caso de Parnaíba é um lembrete contundente da necessidade de políticas públicas mais eficazes no controle de substâncias químicas perigosas e no apoio a famílias em situação de vulnerabilidade. Especialistas defendem maior rigor na fiscalização do comércio de pesticidas, além de campanhas educativas voltadas para os riscos associados ao uso indevido desses produtos.