Julho Amarelo: hepatite B ainda é a que mais acomete acreanos, revela Sesacre; saiba mais

As doenças geralmente são assintomáticas, o que torna a detecção precoce fundamental

O mês de julho é mercado como o mês da campanha de conscientização sobre as hepatites virais, promovida em diversos países, incluindo o Brasil. O objetivo principal é informar a população sobre as formas de transmissão, prevenção e tratamento das hepatites A, B, C, D.

Julho é o mês de conscientização das hepatites virais/Foto: Reprodução

São doenças que podem levar a complicações graves, como cirrose e câncer de fígado. Contudo, geralmente são assintomáticas, o que torna a detecção precoce fundamental.

A Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) enviou um relatório ao ContilNet que revela que a hepatite B segue sendo a que mais acomete os acreanos.

Os dados utilizados para o relatório fazem parte do Sistema de Informação de Agravo de Notificações, o Sinan e mostram que entre 2015 a 2024, o Acre teve 3.368 casos confirmados de Hepatite B, dos quais 498 casos foram noticiados em 2018 e 483 em 2019, anos com as maiores incidências.

Fonte: Sesacre

Já a Hepatite A, durante o período, teve apenas 246 casos no Acre. Em relação a Hepatite C, a considerada mais letal, o estado registrou 1222 casos, segundo o relatório da Sesacre.

Fonte: Sesacre

Grande incidência

Em entrevista ao ContilNet, o médico infectologista Thor Dantas, lembrou que o Acre já é conhecido, a partir de resultados de estudos clínicos e pesquisas científicas como um dos estados com a maior prevalência de hepatites virais crônicas no país. “Em hepatite C nós somos os campões entre todos os estados”, disse.

Médico e infectologista Thor Dantas/Foto: Reprodução

O médico lembra que a partir dos dados da Sesacre, é possível identificar que as duas hepatites B e C continuam ocorrendo de forma muito importante ao longo dos últimos dez anos.

“A partir de 2021, 2022 e 2023 nota-se que retomam os valores, os patamares muito semelhante. A curva é de crescimento.  De 2020 pra cá, o número de notificações está aumentando. Muitas vezes números baixos, são reflexos de trabalho ruim de notificação e não porque a doença não ocorre. Claramente foi o que aconteceu em 2020 e você vê uma retomada das notificações. Então o número de ocorrência de hepatite C e de hepatite B continua muito elevado no Acre. Não dá pra falar numa tendência de diminuição”, disse o médico.

Thor lembra ainda que em relação a hepatite B, há uma vacina que previne a doença logo na infância. Contudo, muitas crianças não estão tendo acessa à primeira dose do imunizante logo ao nascer. O médico destaca que esse tipo da doença é o mais propenso a transmissão.

“É uma doença de elevadíssima transmissibilidade dentro do ambiente familiar. Então é muito importante que as crianças sejam vacinadas não apenas com as três doses completas, mas a primeira dose é a vacina mais importante de todas. Se a primeira dose não for dada imediatamente após o parto, a criança corre o risco de entrar em contato com esse vírus em algum momento no ambiente hospitalar, na maternidade, na da mãe, dos irmãos quando for pra casa. E aí a vacina chega tarde. Se a vacina não chegar antes do contato com o vírus, a criança já está  infectada e aí vira uma infecção para vida toda”.

“É uma doença muito antiga entre nós demora muito tempo pra que ela seja eliminada. É preciso geração atrás de geração mantendo altas coberturas vacinais, com primeiras doses ao nascer de forma muito intensa pra que a endemicidade vá diminuindo paulatinamente ao longo do tempo”, completou.

Campeão de hepatite C no país

O Acre é o líder de incidência da hepatite C no país. Ao contrário da hepatite B, ela não tem uma vacina, mas tem uma cura mais facilitada, com tratamento acessível no SUS e menos invasivo. Thor declara que o tipo C da hepatite pode ser facilmente eliminado se houver uma campanha eficaz de prevenção e conscientização da doença.

“Existe inclusive uma meta da Organização Mundial de Saúde que o Brasil é signatário, de eliminação da hepatite até 2050. É uma doença que vai deixar de existir até 2050 se a gente fizer o nosso trabalho, que é identificar, buscar ativamente todas as pessoas que tem hepatite C e tratá-las com esses tratamentos extremamente simples e fáceis”.

O tipo mais grave

No Acre e na Amazônia existe ainda um quarto tipo de hepatite: a Delta (D), considerada a mais grave entre todas. É ainda a mais difícil de ser tratada e a que leva ao câncer de fígado e cirrose em menos tempo. O médico lembra que a hepatite D acomete mais pessoas do interior e das áreas isoladas no estado, o que agrava ainda mais a situação.

“Ela é um desafio muito grande porque acomete pessoas principalmente da área rural, ribeirinhos, indígenas e pessoas da área rural da região amazônica, o que torna muito mais difícil acessar pessoas, fazer diagnóstico e tratamento. Quase sempre a gente identifica as pessoas que chegam em Rio Branco, em Cruzeiro do Sul ou chega nas grandes cidades vindos do interior. No caso Cruzeiro do Sul, vindo da região do Juruá, da área rural, dos municípios adjacentes, ou de Rio Branco, vindo de Sena Madureira, doentes, com sintomas de cirrose, com a doença avançada numa fase em que é muito difícil tratar. Porque é um tratamento muito complicado”.

O médico concluiu dizendo que o principal causador de transplante de fígado no Acre é a hepatite D. Além disso, Thor lembra que o laboratório Charles Mérieux, em Rio Branco, é o único do SUS a realizar o exame da doença na região amazônica.

Como prevenir hepatite B ou C

  • Não compartilhar com outras pessoas objetos perfurocortantes (seringas, agulhas, alicate de unha, agulhas etc.);
  • Não passar por procedimentos invasivos (hemodiálise, cirurgias, tratamentos dentais, confecção de tatuagem) sem os devidos cuidados de biossegurança;
  • Não compartilhar escovas de dentes ou lâminas de barbear/depilar, que são materiais de uso individual;
  • Ao colocar piercing, realizar tatuagem ou utilizar serviços como barbearias, manicures/pedicures e podólogos, certificar-se de que os materiais sejam descartáveis e sejam esterilizados adequadamente;
  • Usar camisinha nas relações sexuais, a fim de evitar a transmissão por via sexual e, no caso de gestação, evitar a transmissão da doença para o feto.

A hepatite C tem maior taxa de detecção em indivíduos acima dos 40 anos de idade, ou que apresentem fatores de risco, como:

  • Ter sido submetido a procedimento de hemodiálise;
  • Ter diabetes ou hipertensão;
  • Ter realizado procedimentos invasivos (estéticos ou cirúrgicos) sem os devidos cuidados de biossegurança;
  • Ter realizado transfusões sanguíneas antes de 1993;
  • Compartilhar objetos para o uso de drogas;
  • Estar privado de liberdade, dentre outros.

Vacinas disponíveis no SUS

A melhor estratégia de prevenção da hepatite A e B é a vacina – as doses estão disponíveis nas salas de vacinação de todo país. Elas são altamente eficazes, e devem ser realizadas com esquema completo para ter a máxima eficiência. Saiba o esquema recomendado pelo Calendário Nacional de Vacinação:

Crianças

  • Hepatite B recombinante: 1 dose ao nascer
  • DTP + Hib + HB (penta – entre outras doenças, protege contra a Hepatite B) / 3 doses recomendadas: 1ª aos 2 meses; 2ª aos 4 meses; 3ª aos 6 meses
  • Hepatite A (HA): 1 dose recomendada aos 15 meses

Adolescentes, adultos e gestantes

  • Hepatite B: 3 doses recomendadas (iniciar ou completar o esquema de acordo com a situação vacinal). Intervalo recomendado: 2ª dose deve ser aplicada 1 mês após a 1ª dose e a 3ª dose deve ser aplicada 6 meses após a 1ª dose.

A promoção do diagnóstico é uma das estratégias de prevenção para evitar a transmissão da infecção, neste sentido, é importante intensificar o diagnóstico de todas as pessoas acima de 20 anos, assim como no caso de teste negativo para hepatite B, realizar a vacinação. As vacinas seguem disponíveis no SUS para atualização da carteirinha mesmo na vida adulta.

Não existe vacina contra a hepatite C, mas existe tratamento e cura. Os medicamentos disponibilizados no SUS conferem a cura em mais de 95% dos casos, com tratamentos que duram, em média, 12 semanas e estão disponíveis para qualquer pessoa com a infecção pelo vírus.

Fonte: Ministério da Saúde

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