José Roberto Araújo ou o “José Roberto da Coopserge”, o homem que presidiu a maior cooperativa do Estado por treze anos, encheu os olhos de emoção ao falar sobre o início da caminhada e os desafios vencidos para erguer com todos os cooperados uma instituição responsável por restaurar vidas e melhorar o dia a dia de milhares de famílias.
A reportagem da ContilNet foi recebida por Roberto, que com um sorriso aberto e o coração cheio de certeza de ter cumprido sua missão, falou em detalhes sobre a história da Coopserge desde 1999.

Roberto: “Eu desacreditei da política por muito tempo, mas hoje eu entendo que precisamos estar lá”
“Há quase 18 anos eu estava desempregado e surgiu a oportunidade de participar em um daqueles cursos profissionalizantes que eram ofertados pelo governo. Eu tentei me inscrever para serigrafia, mas acabei descobrindo que haviam acabado as vagas, então me falaram para fazer o curso de Serviços Gerais, eu sinceramente não sabia nem do que se trata, mas encarei o desafio”.
O curso
“Eu e a Zani (Ozanira Araújo, atual presidente da Coopserge e esposa de Roberto) nos dividíamos em turnos para poder participar do curso. Enquanto um estudava o outro ficava em casa cuidando do nosso filho. Como projeto de conclusão nos foi proposto uma dinâmica de grupo onde deveríamos criar uma empresa ou uma cooperativa. Ao vivenciar o funcionamento de uma cooperativa, os afazeres e o dia a dia dentro de um projeto como esse, eu tive a certeza que era isso que eu queria fazer”.
Os primeiros desafios
“Ao concluir o curso de três meses, eu e minha esposa reunimos um grupo de amigos que tinham os mesmos propósitos que os nossos e resolvemos iniciar nossa própria cooperativa, do zero, de um objetivo nosso de crescer juntos. Quando partimos em busca de apoio, foi bem complicado, não encontramos portas abertas e muitos políticos quase mataram nosso sonho. Disseram que não daria certo, que tantas haviam aberto e tantas haviam fechado, mas nós não desistiríamos tão fácil”.
“Em abril de 2000 conseguimos nosso primeiro contrato. Foi com a secretaria de Assistência Social, onde nós arranjamos vagas para oito dos nossos vinte cooperados da época trabalharem. Era um primeiro passo não tão grande, mas pra nós, o símbolo da vitória, do resultado de muita luta e união entre nós. Nada nos foi dado, nós conquistamos tudo aos poucos e com o nosso próprio suor”.
Quase 18 anos depois
“Hoje nós somos 1.800 cooperados e tudo que conquistamos é fruto dessa caminhada em conjunto que fizemos até aqui. Todos os nossos imóveis são próprios, temos eleições de quatro em quatro anos, garantimos direitos perante as esferas municipal e estadual do poder público, garantimos o pagamento em dia dos nossos sócios e mais. Claro que é muito difícil ser unanimidade, mas nos foi dada uma missão e a sensação que tenho hoje é que cumprimos o que nos foi cobrado, porém não podemos relaxar, ainda há muito mais para conquistar e vamos em busca disso sem descansar”.
O futuro do cooperativismo
“O que a gente espera, não só da Coopserge, mas assim como de todas as cooperativas, é que a gente consiga depender cada vez menos do Estado, ganhe mais autonomia e possa influenciar cada vez mais de maneira positiva na vida dos cooperados. A gente quer garantir o direito à saúde, lazer e melhores condições de vida dos nossos sócios. É preciso fortalecer laços e chegar onde o Estado não chega. Garantir que a gente tenha acesso a remédios, mercado, opções de divertimento, em resumo, dar uma vida digna aos cooperados do Acre”.
Política
“Eu desacreditei da política por muito tempo, mas hoje eu entendo que precisamos estar lá para brigar por quem merece. Eu evitei por algumas vezes essa possibilidade, sempre dizia que prefiro trabalhar[risos]. Mas hoje é fundamental que as pessoas entendam que o cooperativismo é muito mais, é uma causa, uma bandeira a ser empunhada, um modelo onde as pessoas são valorizadas. Se por acaso, meus amigos me escolherem para ser o nosso representante, saibam que serei um soldado dos nossos objetivos e hoje me vejo preparado para missão”.

“Hoje nós somos 1.800 cooperados e tudo que conquistamos é fruto dessa caminhada em conjunto”, explica Roberto
São Francisco
“É preciso emponderar certas regiões de Rio Branco, que há anos já merecem ter sua autonomia declarada. O bairro São Francisco, por exemplo, é inaceitável que ainda não tenha uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), ou agências bancárias para atender a demanda do grande número de moradores que aqui habitam. A comunidade precisa ganhar autoridade para gerenciar seus espaços públicos e de lazer. É preciso dar importância às pessoas. A palavra é regionalizar”.
Aos amigos, um recado
“Sabem de onde vim, conhecem meus princípios e podem contar comigo sem dúvida alguma. Nunca vou deixar de ser quem eu sou, até porque jamais vou chegar a qualquer lugar sozinho. Caminhei até aqui sempre ao lado dos meus e eles podem ter certeza que contam com minha lealdade e fidelidade. Sem eles, eu seria apenas o José Roberto, desempregado”.