26 de abril de 2024

Professora recebe R$ 70 mil de salário por erro e devolve valor

Uma professora de matemática devolveu à prefeitura de Chã Grande, no Agreste de Pernambuco, mais de R$ 70 mil depositados equivocadamente na conta bancária dela. O exemplo de honestidade veio de Silvânia Silva, de 37 anos, apenas 15 dias depois que ela trocou de profissão, ao assumir o cargo de auxiliar de serviços gerais no município.

Silvânia era contratada temporária na Secretaria de Educação de Chã Grande, até abril. Com a proximidade do fim do contrato, ela decidiu fazer um concurso público na cidade para buscar estabilidade. No entanto, para a vaga de professora de matemática, havia apenas uma vaga, e ela temia, além de ficar sem contrato, perder toda a renda.

“Sabia que meu contrato era só até abril e só havia uma vaga para matemática. Pensei que seria muito difícil, porque eu não tenho mestrado, só tenho pós-graduação. Pensei que tinha que fazer o concurso para alguma coisa, porque preciso pensar no meu filho de 2 anos. É uma profissão honesta, já fui babá, já trabalhei fazendo faxina e para mim ser de serviços gerais não é uma desonra. Eu só não passei ainda no meu curso de matemática, mas essa foi uma porta que se abriu”, disse.

Com 15 dias de empossada na prefeitura, Silvânia, que mora em Gravatá, foi ao banco para tentar descobrir o porquê de o cartão, com o qual ela receberia o salário, ainda não tinha chegado. No local, ela pediu ao gerente para ver o saldo na conta e teve a surpresa: R$ 70.368,86, pagos, teoricamente, pelos 15 dias que ela passou na prefeitura. Era o equivalente a 5 anos e meio de trabalho, de uma só vez.

O dinheiro, no entanto, não demorou na conta de Silvânia. Segundo ela, sequer passou pela cabeça ficar com o valor, que, ela sabia, não era dela.

“Na hora, eu liguei para uma amiga, que perguntou o que eu faria. Respondi que ia devolver e ela disse que não esperava outro gesto meu. Não tinha como eu ficar com esse dinheiro, porque eu não trabalhei, aquilo que não era meu, não iria servir para mim”, afirmou.

Segundo Silvânia, até a devolução do dinheiro foi trabalhosa, mas ela jamais mudaria de ideia. No banco, ela foi informada que o valor só retornaria à prefeitura se ela, por espontânea vontade, decidisse devolver. Para isso, ela precisou sair de Chã Grande, ir até Gravatá e, de lá, voltar à cidade onde trabalha para fazer a transferência pessoalmente.

Silvânia Silva e o filho Guilherme — Foto: Reprodução/TV Globo
Silvânia Silva e o filho Guilherme — Foto: Reprodução/TV Globo

 

“Fui até o setor de RH da prefeitura e, quando cheguei, a menina estava chorando. Quando ela me viu, chorou ainda mais. Eu só tinha tido contato com ela uma vez, no dia da posse do cargo, mas tentei acalmá-la. Ela disse que não sabia o que aconteceu e que, apesar de estar no emprego há cerca de um ano, nunca cometeu um erro assim, porque sempre conferia tudo”, declarou.

A prefeitura abriu um processo administrativo para investigar de onde partiu o erro nas contas. Segundo o prefeito Diogo Alexandre (PL), sequer deu tempo de contactar a servidora, porque Silvânia já tinha se mobilizado para devolver o dinheiro.

“De imediato, quando identificamos que tinha um pagamento superior, começamos a fazer um encontro de contas e, quando tínhamos identificado, antes de entrar em contato com Silvânia, ela, por iniciativa própria, procurou a prefeitura. O erro foi que, quando o nosso setor de RH lançou o salário de R$ 1.045, houve um erro no lançamento, que entrou como horas trabalhadas. Multiplicando, isso chegou a R$ 70 mil”, explicou o prefeito.

Essa não foi a primeira vez que Silvânia deu uma lição de honestidade. Quando era estudante, ela encontrou R$ 250 em frente a uma agência bancária e foi até a casa da dona para devolver.

Filha de agricultores, para chegar ao trabalho, Silvânia anda, diariamente, meia hora para, depois disso, pegar um ônibus e chegar à prefeitura. Para ela, a honestidade é o valor mais importante a ser passado ao filho Guilherme.

“Muita gente já me criticou, me xingou, disseram até que eu devia levar uma ‘pisa’ [surra]. Meus pais me ensinaram a não querer aquilo que não é meu e dessa vez não seria diferente”, afirmou.

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