24 de abril de 2024

Após derrota do Vasco-AC por 12 a 0, ex-jogador diz que garotada perdeu o encanto pelo futebol

A vergonhosa e acachapante vitória do Flamengo do Rio de Janeiro sobre o Vasco da Gama do Acre, na estreia da Copa do Brasil Sub-17, no último domingo, por 12 a zero, deixou um ex-atleta acreano, Ely Roberto Ferreira dos Santos, de 54 anos, no mínimo indignado. Cabelereiro, nas horas vagas ele se dedica a sua segunda grande paixão profissional, o futebol, treinando garotos que, em tese, deveriam ser aproveitados na base dos times do futebol local.

O problema é que, por uma série de fatores, o futebol profissional local, com a maioria dos clubes em completa falência, parece derrotado dentro e fora de campo. Uma goleada humilhante como a vivenciada pelo Vasco é o retrato desta decadência, diz Ely Roberto, ele próprio um ex-jogador e muitas vezes campeão.

Cabelereiro, nas horas vagas ele se dedica a sua segunda grande paixão profissional, o futebol

Ely Roberto diz que começou a ter contato com o futebol aos cinco anos, em campos de várzea. Aos 11 já se apresentava entre jogadores com idade superior à sua e, antes dos 20, estreou como profissional.

“Comecei a jogar futebol nos infantis do Juventus. Cresci treinando e jogando contra os maiores craques do futebol acreano. Na época o Juventus era uma das maiores escolas de futebol da região norte, regida pelo grande maestro Elias Mansour, que foi um padrinho e paizão pra mim. Cheguei contratado pelo Rio Branco e do jeito que ganhai tudo na base do Juventus ganhei também no Rio Branco. Sebastião Alencar Ilimani e Mário Vieira, eram homens sérios e competentes que amam o futebol”, contou.

”Joguei também em Rondônia, Mato Grosso e no aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, onde, jovem, só não fazia chover. Era o maior campeonato de pelada do mundo na Época Tenho também um copão da Amazônia na bagagem”, disse o ex-jogador, que chegou a ser treinador de escolinha de futebol, mas hoje, com a falta de patrocínio e até mesmo o desinteresse da garota pelo esporte, ele vê tempos ainda mais difíceis para o esporte, principalmente para o futebol.

Para falar de futebol com este craque do passado, destacamos nosso repórter e colaborador para a entrevista cujos principais trechos estão publicados a seguir. Veja:

ContilNet– O futebol juvenil do ace, depois desta surra que o Vasco levou do Flamengo, parece que está mesmo no fundo do poço. Você concorda com isso?

Ely Roberto – Concordo e acho isso uma pena. Não quero agredir ninguém, mas atribuo e culpo por isso ninguém em específico. Digo que tudo isso culpa, primeiro, de alguns dirigentes amadores; depois, o clientelismo que se criou em torno da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em municiar os clubes com dinheiro apenas para completar o calendário anual da entidade sem priorizar as categorias de base. A base é que dar suporte pra se fazer grandes clubes grandes craques.

ContilNet – O que é preciso fazer para melhorar e sair deste quadro lamentável?

Ely Roberto – Penso que o futebol sem uma base forte não se sustenta, sem profissionais que saibam passar realmente os fundamentos corretos pra se formar grandes jogadores. Nesses 25 cinco anos que passo os meus conhecimentos para jogadores das categorias de base, nunca vi técnicos da referida categoria apitar e parar uma jogada ou um fundamento feito com bola dentro de campo. É preciso fazer isso. Parar, corrigir nos treinos porque, como dizia o Neném Prancha, um verdadeiro filósofo do futebol carioca, “treino é treino e jogo é jogo”. Mas digo eu que o treino serve pra você errar e assim se aperfeiçoar.

ContilNet – O Acre perdeu os seus bons jogadores? Os jogadores jovens de hoje não têm mais interesse por futebol?

Ely Roberto – Eu diria que não é só isso. É um conjunto. Atribuo isso a uma parte da classe política, que se preocupa, de um certo tempo para cá, sobretudo com nas privatizações das estatais e outras políticas sem prestar conta com a sociedade e deixando de lado o trabalho social, que inclui trabalho com o esporte, principalmente com o futebol, que é muito agregador. Sem esporte, sem política para este setor, o que temos é isso: um público carcerário com presos, todos na faixa etária dos 19 aos 45 anos de idade. E hoje os jovens desviam suas atenções mentais pra outros tipos de atividades maléficas à saúde, como jogos eletrônicos, drogas, bebidas alcóolicas, vício em internet e todo o mal restante. E também acabaram com os campis de pelada de chão de terra batida. Eu, por exemplo, comecei a jogar pelada aos 5 anos de idade e, aos 11, já sabia todos os fundamentos de um grande craque. Dádiva de Deus, mas também de muita dedicação e de oportunidades que hoje não vemos mais.

ContilNet – O que deve ser feito para que o Acre volte aos tempos em que revelava craques como Dadão, José Augusto e outros que marcaram época no futebol local?

Ely Roberto – É preciso fazer muitas coisas que haviam no passado. Naquela época existiam muitas modalidades de lazer, mas o carro chefe se chamava futebol e atrás de uma bola sempre corria uma criança. Mas, tudo mudou e a vida é feita de transformações – até os pássaros mudam, infelizmente. Falta aos amantes do futebol e empresários fazerem um levante social em torno do futebol para que se resgate a velha arte de fazer futebol. Falta também investimento para fazer surtir o efeito necessário para que surjam grandes craques novamente. Isso faz com que ente dinheiro nos cofres dos clubes, que hoje, no Acre, estão falidos. Essa crise tem muito a ver sim com essas coisas ruins que o mundão oferece, mas dentro dessa transformação, falta amor e investimento por partes das pessoas abastadas dessa sociedade que só pensa em ostentar riqueza sem a menor perspectiva de levar algo positivo pra o futuro.

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