Em uma descoberta que surpreendeu os especialistas, a hanseníase foi identificada em chimpanzés selvagens pela primeira vez, de acordo com um novo estudo.
Os casos de hanseníase em chimpanzés foram encontrados na Guiné-Bissau e na Costa do Marfim, tornando essa a primeira vez em que a hanseníase foi encontrada em qualquer espécie não humana na África, disseram os pesquisadores em um estudo publicado na quarta-feira.
A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infecciosa que pode danificar seriamente os nervos, a pele e o trato respiratório dos humanos. Pode levar ao desenvolvimento de lesões e nódulos, bem como à perda de sensibilidade nos membros e cegueira.
Os cientistas usaram armadilhas fotográficas para estudar o comportamento dos chimpanzés entre 2015 e 2019. Ao examinar as imagens, os pesquisadores encontraram dois machos e duas fêmeas com “lesões graves semelhantes às da hanseníase”, de acordo com o texto dos pesquisadores. Os sintomas – semelhantes aos experimentados pelos humanos – progrediram com o tempo.
“Quando vi pela primeira vez as imagens de um chimpanzé com nódulos e lesões no rosto, me dei conta de que se tratava de lepra porque se parecia muito com a lepra em humanos”, disse à CNN, na quinta-feira, Kimberley Hockings, conferencista sênior em ciências da conservação na Universidade de Exeter, no Reino Unido. Ela é autora do estudo junto com outros pesquisadores.
Até agora, não se sabe exatamente como os chimpanzés foram infectados, mas acredita-se que tenha ocorrido como resultado da exposição a humanos ou “outras fontes ambientais desconhecidas”, disse o estudo.
A hanseníase já foi vista em animais selvagens antes, como esquilos vermelhos no Reino Unido e tatus nas Américas, mas foi bastante chocante ver a hanseníase “surgir repentinamente em chimpanzés porque eles são muito pesquisados”, observou Hockings.
Ela disse que haverá mais pesquisas sobre como os chimpanzés selvagens entraram em contato com a doença e o que isso significa para uma espécie que já está em risco devido a fatores como caça e perda de habitat.
Hockings acrescentou que a descoberta preocupa os esforços de conservação e pesquisadores.
Quanto ao tratamento da hanseníase em chimpanzés selvagens, isso pode ser um desafio.
“O tratamento da hanseníase em humanos é relativamente simples, especialmente se for diagnosticado precocemente”, disse Hockings.
“Mas para os animais que não estão habituados aos humanos, como essas populações específicas, é muito difícil administrar antibióticos. Há restrições para o tratamento da hanseníase em animais e temos que considerar as implicações éticas”, diz a pesquisa ao se referir às dificuldades de se ministrar medicamentos em espécies selvagens.
Hockings disse que incorporará a descoberta a uma pesquisa mais ampla, que gira em torno das interações entre humanos e grandes macacos, já que os humanos são tradicionalmente considerados o principal hospedeiro da hanseníase – e agora está aparecendo de repente em chimpanzés selvagens.