Além do número expressivo de casos, a epidemia de gripe instalada no Rio de Janeiro tem um componente preocupante. Entre as versões do vírus influenza que estão circulando na cidade, há uma mutação do H3N2 recente que ainda não havia sido identificada no Brasil.
A variante está provisoriamente batizada de H3N2 Darwin, pois foi descrita pela primeira vez na cidade de Darwin, na Austrália. “É uma mutação do vírus que estava em circulação no Hemisfério Norte e já chegou por aqui”, conta o virologista Fernando Motta, pesquisador do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), um dos responsáveis pela identificação da mutação no Brasil.
De acordo com ele, o laboratório já isolou a cepa e agora se prepara para realizar testes que avaliarão se a atual vacina da gripe aplicada na população brasileira funciona contra a cepa. “Acredito que teremos essa resposta em duas semanas”, prevê Fernando. A vacina da gripe é atualizada anualmente e, como a variante é uma novidade, não há certeza se o imunizante que foi aplicado durante este ano funcionará para prevenir as infecções.
Também ainda não é certeza que a cepa seja a predominante no Rio de Janeiro neste momento devido a um número limitado de amostras do vírus sequenciadas geneticamente. Nesse contexto, não é possível dizer que a H3N2 Darwin é mais transmissível que as outras versões do Influenza.
Epidemia fora de hora
A infectologista Ana Helena Germoglio explica que o H3N2 é um vírus conhecido e, dentro dele, há vários subtipos. “A última vacina de influenza tinha o subtipo Hong Kong, mas não o Darwin”, conta a especialista. O virologista Bergmann Ribeiro, da Universidade de Brasília (UnB), acredita que, mesmo assim, os imunizantes provavelmente têm algum efeito contra o novo subtipo. “As vacinas deviam ser eficientes contra esse vírus que está passando agora”, afirma.
Surtos e epidemias do vírus da gripe não são inéditos, mas chamam a atenção dos especialistas pela época do ano: normalmente, os casos aparecem durante o inverno. Bergmann acredita que a alta nos diagnósticos neste momento, às portas do verão, pode ter sido causada pela diminuição do uso de máscaras e a volta dos eventos e aglomerações.
A infectologista explica que a vacina da influenza não oferece proteção por muito tempo, e é eficaz por cerca de 6 meses – por isso, a campanha nacional de imunização acontece entre março e abril, pouco antes da época normal de alta nos casos. “O problema é que fomos pegos de calça curta, o vírus chegou em uma época em que não era esperado”, conta a médica.
Influenza x Covid-19
Os sintomas da síndrome respiratória causada pelo vírus Influenza são bastante parecidos com os da Covid-19 (febre, dor no corpo, fadiga, inflamação da garganta, coriza e tosse). Na maioria dos pacientes, os sinais da doença passam em cerca de 7 dias, e a letalidade é considerada baixa, entre 0,1% e 0,2%. Em comparação, a chance de morte por Covid-19 fica entre 1% e 2%.
“Quando a gente compara a influenza com a Covid-19, o coronavírus dá mais casos graves. Mas, quando olhamos para os quadros leves, na influenza os sintomas são mais pronunciados. A H3N2 Darwin não é potencialmente mais perigosa, mas não temos imunidade para ela e, por isso, estamos com mais infectados nesta temporada”, explica Ana Helena.
Para evitar a contaminação, os cuidados são os mesmos daqueles contra o Sars-CoV-2: higienizar as mãos, manter o distanciamento físico, evitar aglomerações e apostar no uso de máscara. A qualquer sinal de sintomas, a recomendação é fazer a testagem para diferenciar as infecções e ficar em casa para não transmitir o vírus.