Secretário diz que a chamada “Florestania” atrasou economia do Acre em 50 anos

Nascido em Londrina, interior do Paraná, ele chegou com a família ao Acre com apenas dois anos de idade. Hoje, aos 47 anos, “acreano de coração e pé rachado”, como disse, casado com Sue Ellen Galvão Araújo e pai do Gabriel, de 12 anos, o pecuarista Neném Junqueira, a quinta geração de fazendeiros de sua família, é o responsável pela política agrícola do Governo do Acre, há mais de um ano, quando foi nomeado pelo governador Gladson Cameli como secretário de Estado de Agricultura e Pecuária. 

Na entrevista a seguir, ele admite que o Acre está muito atrás, economicamente falando, de Rondônia, que um dia já dependeu dos acreanos inclusive para adquirir fêmeas para o rebanho bovino daquele Estado, avaliado hoje em 16 milhões de cabeças enquanto o Acre ficou para trás com pouco mais de 3,8 milhões de cabeças. Isso é só um exemplo do atraso a que o Acre foi relegado. 

Para Neném Junqueira, que também fala de política e de uma possível candidatura à Câmara federal, como um candidato que se apresenta com o DNA do agronegócio. O responsável pelo atraso a que o Acre foi relegado foram os 20 anos de governos da Frente Popular. Ele avalia que a chamada “Florestania’, um modelo econômico que não deu certo, atrasou o Acre em pelo menos 50 anos.

A seguir, os principais trechos da entrevista: 

ContilNet – Secretário, durante muito tempo o Acre sempre esteve à frente, do ponto de vista econômico e, sobretudo, do agronegócio, muito à frente do Território e depois do Estado de Rondônia. Mas, nos últimos anos, a coisa se inverteu: o Acre está muito atrás de Rondônia sob o ponto de vista econômico, na produção e grãos, na pecuária. O que aconteceu? Rondônia prosperou ou o Acre piorou?

Neném Junqueira – O que aconteceu é que o Acre viveu 20 anos de governos petistas, que tinham um modelo de desenvolvimento baseado na exploração da floresta, no extrativismo, com a tal de florestania., Enquanto isso, Rondônia viveu o mesmo período de governantes que tinham um modelo de desenvolvimento baseado no agronegócio. Por isso Rondônia, vamos dizer assim, explodiu na agricultura, na bacia leiteira, na pecuária, no café, na psicultura. Por que isso? Porque o Estado tinha governantes que pensavam e tinham o agronegócio com o modelo de desenvolvimento. Enquanto isso, nós ficamos 20 anos falando de extrativismo, de florestania, uma prática que hoje a gente sabe que não deu em nada e não vai para lugar nenhum. O Acre então foi penalizado. Na época em que o Acre era referência para Rondônia, nós exportávamos vacas para Rondônia, na década de 1980, o nosso rebanho bovino era maior que o de Rondônia.

Secretário Neném Junqueira reuniu-se com pequenos produtores em Sena Madureira/Foto: reprodução

ContilNet – Qual o tamanho do rebanho do Acre e o de Rondônia hoje?

Neném Junqueira – Hoje nós temos uns 3  milhões e 800 mil cabeças. Talvez um pouquinho mais. Mas Rondônia tem 16 milhões de cabeças. Isso mostra que o Acre ficou para trás. Enquanto Rondônia explodia economicamente, o Acre ficou parado no tempo. Isso mostra o quão pode nos custar um modelo de desenvolvimento errado. Os 20 anos da Frente Popular atrasaram o Acre em pelo menos meio século. Para nos recuperar desses 20 anos, talvez precisemos de 50 anos de investimentos. Vamos demorar uma geração inteira para nos recuperarmos disso. O prejuízo que essa turma do PT causou ao Acre e à sociedade acreana é incalculável.

ContilNet – Mas há diferença neste paradigma do atual governo para aqueles governos dos últimos 20 anos? Em que se difere o Governo Gladson Cameli daqueles da Frente Popular?

Neném Junqueira – O Governo Gladson Cameli abriu o Estado para o agronegócio, abriu para a agricultura. Antes, aqui, até o milho consumido pelas galinhas nos terreiros dos colonos acreanos tinha que vir do Mato Grosso, o que deve ser visto como uma vergonha para um Estado como o nosso que tem terras férteis e clima propício para este tipo de agricultura. Então, o governador mudou a política ambiental do Estado, mexendo, desburocratizando para que haja produção. Hoje já estamos produzindo, por exemplo, todo o milho que consumimos. Já temos produção suficiente para abastecer nossas indústrias de proteína animal. Já estamos produzindo soja também. Desde que o atual Governo assumiu, anualmente estamos batendo recorde de safra. Nós temos dados mostrando empresas que consumiam 25 mil sacas de milho por mês, que eram comprados lá fora. Até o ano retrasado esse milho vinha 100 por cento do Mato Grosso. O ano passado, esse milho já foi comprado todo no Acre. E esse ano também. Essas empresas já pretendem comprar 100 por cento do milho no Acre e nós já estamos trabalhando para aumentar esta produção porque já há essa necessidade

ContilNet – Quais são essas empresas?

Neném Junqueira – Dom Porquito e Acre Aves, lá do Alto Acre.

 ContilNet – E soja, já temos também?    

 Neném Junqueira – Sim, já temos. E já estamos precisando de equipamentos para esmagar a soja. Aí, sim, podermos ter aqui óleo de soja, o farelo de soja para abastecer as indústrias de ração e de peixes.

ContilNet – O senhor está há um ano no cargo de Secretário. O que se pode enumerar em relação às administrações dos dois secretários que o antecederam (Paulo Wats e Edivan Msaciel)?

Neném Junqueira – O que me difere administrativamente deles? A diferença é que ele são dois técnicos, pessoas muito competentes e que deixaram a contribuição deles ao passarem pelo cargo, e eu venho da área rural. Eu venho da produção, de olhar o produtor no tête-à-tête. Sou  mais próximo do produtor. Penso que a diferenciação é esse nosso modelo de gestão de estar mais próximo do produtor, de ir ao encontro deles. Desde que assumi, a gente não espera o produtor vir aqui. Nós é que vamos ao encontro dele. Penso que isso dar um alinhamento melhor para o setor produtivo e a Secretaria, que antes estava voltada para atender o médio e o grande produtor rural, nós a viramos apara atender o pequeno produtor, aqueles que são a grande maioria, o produtor da agricultura familiar.

ContilNet – O senhor está indo às pequenas propriedades? E o que o senhor faz nessas visitas?

Neném Junqueira – Eu vou mais nas propriedades dos pequenos produtores do que nos grandes, porque estes, por serem grandes, pouco precisam do Governo. Nessas visitas, a gente ouve muito. Eu gosto muito de ouvir, querendo saber o que pensa o produtor e quais são os seus anseios. Nunca chegamos a uma propriedade, média, grande ou pequena, com um script pronto. Chegamos lá para perguntar qual é a sua prioridade. Ali ouvimos as reivindicações que é a melhoria de um ramal, uma máquina para mecanizar a terra. É assim. A gente ver aquilo lá, voltamos à Secretaria e fazemos um planejamento e passamos às demandas para as equipes, em busca de ações que possam solucionar o problema, inclusive junto as outras setores do Governo, como o Deracre, o Depasa, o Imac e outros órgãos. A gente tem feito isso: primeiro vamos lá na propriedade, onde quer que seja, ouve o produtor e ver quais são suas dificuldades, que muitas vezes são problemas de licenciamento e, para resolver isso, vamos até o Imac. O secretário de agricultura não pode ficar no gabinete. Tem que estar no campo, visitando, convivendo com o produtor.

ContilNet – Quando o senhor veio para esta Secretaria, houve críticas segundo as quais o senhor trabalharia voltado exclusivamente para a bovinocultura, já que o senhor vem deste meio. Isso tem sentido?

Neném Junqueira – Isso é uma crítica de uma pequena parte dos pecuaristas – e eu respeito a opinião deles, mas não é desta forma que estamos trabalhando. Estamos dando atenção para todas as culturas, na agricultura, na pecuária, e no próprio extrativismo, que ainda existe e a gente não pode abandonar de uma hora para outra pessoas que estão há anos lá no mato e por isso a gente tem que dar assistência. Mas a gente procura trabalhar para todos.. Apoiamos a pecuária, mas temos também o olhar para aquele pequeno agricultor que, realmente, precisa da atenção do Governo. 

ContilNet – Neste momento há uma crítica ao Governo nesta área da agricultura pela falta de mamão e banana, por exemplo, dois produtos que precisam ser importados da Bahia. O que está acontecendo para que não haja produção dessas duas culturas no Acre?

Neném Junqueira – Olha, nós exportamos muita banana, ali da região de Acrelândia. Mas realmente, como no caso do mamão, que poderia ser produzido aqui, eu tenho ouvido muitos produtores falarem das dificuldades que eles enfrentam para vender o produto em nível local. A verdade é que não há produção porque falta estímulo porque este produtor não consegue vender seus produtos para os grandes supermercados locais. Não conseguem encaixar o produto deles junto aos compradores dos supermercados e eles têm cair na mão do atravessador. Isso é ruim porque o atravessador, que vai lá no campo, também tem que ganhar o dele. O produtor fica nesta dependência do atravessador. Acho que os supermercados locais, todos eles, poderiam uma política melhor e de atenção aos produtos locais, nesta questão de compra, da agricultura familiar inclusive. Penso que deveriam cadastrar o produtor como sue fornecedor e comprar diretamente dele

ContilNet – Em entrevistas recente, inclusive a este ContilNet, o empresário Adem Araújo, da rede AraSuper, diz que isso não acontece porque o Acre não produz em grande escala. Com medo de os produtos faltarem em suas prateleiras, os grandes supermercados preferem comprar de fora. O que pode ser feito para que isso não mais aconteça?

Neném Junqueira – Temos escala, sim, em alguns produtos, como a melancia, por exemplo. Se você for ali na região da Baixa Verde, aqui em Rio Branco, vamos encontrar uma grande produção de frutas, de milho verde, de melancia. Muito do que é vendido nos supermercados locais sai dali. Há produtor que, aqui no Acre, tem 30 hectares de laranja plantada. É, por exemplo, um produtor lá de Capixaba. Só que este não tem dificuldade para vender. Mas eu penso assim: nós tínhamos que valorizarmos mais o produto da terra e com isso incentivar para que haja aumento da produção.  

ContilNet – O que senhor acha então que faltam campanhas do Governo neste sentido?

Neném Junqueira – Acho que falta da iniciativa privada, dos que compram muito, como os supermercados, mercearias atacadistas, todos que consomem muito, eles tinham que ter uma política melhor para aquisição dos produtos diretos do produtor local. Acho que deveria haver um olhar diferente para a agricultura familiar, quebrando barreiras como a burocracia de ter que ter firma, CNPJ, essas coisas. Acho que bastava cadastrar o produtor com o CPF dele ou sua inscrição estadual e valorizar o produto dele, que é nosso, é daqui.

ContilNet – Depois dessa sua passagem aqui pela Secretaria e a partir das visitas que o senhor tem feito, o que se pode pensar em relação ao futuro da agricultura, da pecuária, enfim, da produção no Acre? 

Neném Junqueira – Hoje, o que temos de área florestal aberta, 80% disso é pastagem. De toda a área florestal do Acre, nós temos 15% aberta. Desse total, você tira rios, igarapés e cidades, sobra apenas 13%. Desses 13%, 80% é pastagem. Do total, 50% é área degradada. São áreas que precisam de correção de solo, de mecanização. É aqui que a nossa agricultura está entrando. As áreas degradadas como aquelas daqui para Brasiléia, fazendas abertas há 40 anos atrás e que são áreas consolidadas já, são áreas em que está sendo feito agricultura. Nós temos muitas áreas para isso. A agricultura nossa, nessas áreas, chegava a 5% quando eu entrei na Secretaria. Hoje, acredito que já está bem maior a produção de agricultura nessas áreas. E tem como, neste Governo, até o final do ano, a gente dobrar para a safra de 2023.  Trabalhamos muito com o pequeno produtor, que não plantava porque não tinha condições, não tinha máquina, colheitadeira, não tinha plantadeira, não tinha nada. Nós atendemos muitos produtores neste sentido. Um exemplo: só ali no baixa Verde nós temos mil hectares de milho plantado com a nossa ajuda, mil hectares só de pequenos produtores.

ContilNet – E em relação ao seu futuro? O senhor vai continua no Governo ou vai sair paras ser candidato? Que cargo o senhor disputaria?

Neném Junqueira – Quando fui convidado a entrar para o Governo, eu vim à convite do governador Gladson Cameli com apoio do senador Márcio Bittar – aliás todo mundo sabe da relação que tenho com ele, de amizade e também politicamente; eu comecei na política apoiando a ele, o acompanhando. Tudo o que sei hoje na política, eu devo ao Márcio Bittar. Então eu vim para o Governo sobre este princípio e, desde o momento em que o governador reafirmou que era candidato à reeleição, nosso compromisso passou a ser este, com a reeleição do governador. Estamos empenhados e trabalhando para poder reelegê-lo.

Secretário diz que ‘Florestania’ atrasou economia do Acre/ Foto: Daniel Papa

ContilNet – E o senhor, particularmente, pensa em ser candidato a algum eletivo? Qual seria?

Neném Junqueira – Penso que uma candidatura minha a um mandato de deputado, é algo que o governador Gladson Cameli, a meu ver, olha com bons olhos. Não há nada definido, mas acho que se você falar com ele, certamente ele aquiesce e tem até me incentivado a ser candidato toda às vezes em que nos entramos. Em 2018, o governador não conseguiu levar um  deputado federal de seu partido ou de seu grupo. E agora ele precisa levar rum federal e que vá ajudá-lo neste segundo mandato, trazendo recursos para que ele conclua as obras que estão sendo iniciadas. Alguém pode dizer: o secretário Neném Junqueira tem esse perfil  que o governador não conseguiu em 2018 para fazer um deputado federal seu e agora ele pode ter encontrado na minha pessoa esse perfil.          

ContilNet – E a princípio o senhor já está pensando num partido? Qual seria?

Neném Junqueira – A princípio, penso no União Brasil. Mas vai depender do governador. Se ele quiser me filiar no PP, estou à disposição. Sou um soldado do governador. Se for para ajudar ao governador, eu sou candidato, estou pronto Sodado bom não escolhe batalha: se ele falar, Neném, você vais ser candidato para me ajudar, eu estou pronto.

ContilNet – Vou insistir na pergunta: a deputado federal ou a estadual?

Neném Junqueira – Analisando bem, eu acho que a deputado federal, porque se encaixa melhor no projeto que defendemos. Eu, se for deputado, vou carregar essa bandeira, do Agronegócio, porque sou da área da produção. Venho de uma família em que sou a quinta geração de produtores rurais. 

ContilNet – O Acre já teve deputados federais e estaduais, como Rubem Branquinho, João  Tezza e Luiz Saraiva que se diziam parlamentares desta área, mas não foram longevos na política. Como explicar isso?

Neném Junqueira – Esses dois deputados estaduais  que  você falou, João Tezza e Luiz Saraiva, foram grandes advogados, amigos da minha família, mas, na verdade, eram parlamentares competentes mas não eram genuinamente do agronegócio, da pecuária. Eles eram advogados, profissionais liberais que viraram fazendeiros. Algo bem diferente de mim. Eu venho da pecuária mesmo e tenho o DNA do agronegócio. Na verdade, aqui no Acre nunca houve um candidato com 100% do DNA da pecuária ou da áreas rural. Todos que foram falados aí vieram de outros setores. Vamos citar nomes. Por exemplo: César Messias: foi inicialmente político que depois virou fazendeiro; Sérgio barros, erra servidor do Incra e depois virou fazendeiro. Por isso que digo que agora, se eu for candidato, a gente tem a  oportunidade de ter uma candidatura que tenha o DNA mesmo da zona rural. Desses que representaram o setor no parlamento – muito bem, por sinal – não eram de fato do meio rural. Tinha a área rural como atividade de final de semana, bem diferente da gente, que tem uma vida inteira dedicada a isso. Esses dois aí, o Tezza e o Saraiva, eram mesmo era advogados, bons advogados.

ContilNet – O senhor acha que, em havendo mandatos e apoio político para este setor, o acre possa vir um dia a, ao menos, ombrear-se economicamente à Rondônia?

Neném Junqueira – Penso que, com um mandato de deputado, a gente tem como contribuir e ajudar o setor, mas nçao devemos, jamais, nos comparar a Rondônia, que está muitos anos luz à nossa frente. Temos que ser realista: nos já ficamos para trás.

ContilNet – Mas, nós temos uma deputada, a senhora Mara Rocha, que diz ser parlamentar do agronegócio, e no entanto o que ela fez por este setor nesses três anos de Governo e de mandato dela?

Neném Junqueira – A deputada Mara é outra também que não é do agronegócio. Ela é jornalista  e pegou carona no agronegócio  Há outros também que defendem a bandeira do agronegócio, mas não são autênticos. Penso que, em tudo, quando você tem conhecimento de causa, fia mais fácil para defender, lutar pela categoria, pela classe. Eu acho que há muito a fazer por este setor.

ContilNet – Esta área da pecuária foi muito criminalizada  no passado, por conta da UDR (União Democrática Ruralista), por causa da tragédia do Chico Mendes, criando uma verdadeira dicotomia ideológica neste Estado entre o extrativismo e os fazendeiros. O senhor acha que ainda há espaço para essa divergência? Haveria espaço para que lideranças do extrativismo sentassem com um possível deputado com o DNA do agronegócio, como o senhor disse?

Neném Junqueira  – Acho que sim. Agora dar para sentar todo mundo. Estamos numa outra fase do Estado. Aquela época era mesmo muito acirrada a disputa entre seringueiros e fazendeiros, havia uma rivalidade  muito grande naquelas décadas de 70 até 80. Hoje, está mais tranquilo e dar para conversar, cada qual se entender e caminharmos juntos.  

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