Em música, acreano homenageia irmão que morreu após cair de penhasco na Bolívia

Não é fácil encarar o sentimento do luto que fica ao receber a notícia da morte de um ente querido, seja este um familiar, amigo ou qualquer outra pessoa que tenha deixado uma marca no mundo e que seja importante para alguém. No caso do artista acreano Filipe Cavalcante, que teve que lidar com a morte do irmão Renato da Silva Cavalcante que caiu de um penhasco em Cochabamba, na Bolívia, em 2010, a dor da ausência física do irmão o acompanha desde então.

Ausência”, inclusive, é o nome da nova musica do artista que está sendo lançada em todas as plataformas digitais nesta sexta-feira (11), acompanhado de um videoclipe. O single, escrito e performado por ele e que já acumula mais de 1 mil reproduções no Spotify em apenas 24 horas, descreve a breve – mas marcante – jornada do irmão músico e estudante de medicina de 20 anos que sonhava em conquistar o mundo.

Assim como Filipe, Renato da Silva Cavalcante – ou “Renatinho”, como era carinhosamente chamado –, nasceu em Boca do Acre (AM), e cresceu cheio de sonhos. Por almejarem melhores condições de vida e até mesmo certo vislumbre artístico, tendo em vista a influência musical que já imperava na família, os pais de ambos decidiram vir para Rio Branco (AC) com os filhos.

Após vivenciarem na pele a enchente de 1996 que deixou a capital debaixo d’água – inclusive o bairro Cidade Nova, onde moravam –, o pai foi para Cruzeiro do Sul, no interior do estado, para ser evangelista em uma obra da igreja. Na ocasião, todos foram juntos, fincando morada no município até então.

Renato da Silva Cavalcante, ou Renatinho, como era apelidado, morreu em 2010 após cair de um penhasco de 80 metros de altura na Bolívia. Ele cursava Medicina em uma universidade local. Foto: Arquivo pessoal.

SAXOFONE

Por influências da igreja Assembleia de Deus, os irmãos tiveram a oportunidade de integrar o time de músicos da orquestra. No entanto, apenas Renato deu prosseguimento, se especializando e se apaixonando pelo saxofone, instrumento de sopro.

Essa paixão, inclusive, é relatada na letra da canção. Para aliviar o vazio deixado pelo irmão, Filipe conta que tocar saxofone o transporta à infância e adolescência. “Quando a tua ausência bate, para que não maltrate vou para o quarto, faço arte, toxo sax e vou para Marte”, diz a composição.

Concomitante a esta paixão, Renato também sonhava em cursar Medicina. O pai, que não media esforços para ver os filhos trilhando seus caminhos e sendo pessoas bem-sucedidas na vida, montou um grupo de pais que também tinham interesse de mandar os filhos para cursar Medicina na Bolívia. Assim fizeram.

Cena do videoclipe “Ausência”, lançado nesta sexta (11). Na imagem, Filipe segura o saxofone, instrumento que o irmão tinha tanta paixão. Foto: Arquivo pessoal.

BOLÍVIA

Na Bolívia, Renato aliou medicina e música ao integrar uma banda chamada Chronos, composta por seis jovens artistas. Unidos pelo mesmo mantra, decidiram tentar carreira no país.

Com a repercussão após realizarem apresentações em bares e restaurantes, eles foram convidados para abrir os shows no aniversário de Cochabamba e, posteriormente, a fazer uma turnê pelo país, começando pela capital La Paz. Naquele momento, somente Filipe sabia da novidade, que o manteve em segredo para não preocupar os pais.

No ramo artístico, onde poucos se destacam de fato, cada conquista é significante – ainda mais para quem está começando. Com a euforia da turnê em solo boliviano, os jovens foram acampar na região de Iscay Pata, nas redondezas de uma pequena cidade chamada de Pairumani, para comemorar.

“Eles iriam gravar um clipe, e foram acampar em uma região muito bonita, rochosa, com águas cristalinas. Meu irmão bebeu demais e o acidente aconteceu – que ninguém sabe ao certo como foi. Estava chovendo muito e ele se distanciou dos meninos. Quando foi de manhã, ele já tinha caído de um penhasco de 80 metros de altura junto com um vocalista da banda que caiu por cima dele e amorteceu a queda. No meu irmão, deu traumatismo craniano grave”, relatou Filipe.

Clipe relata sentimento de saudade do irmão após partida precoce. Foto: Arquivo pessoal.

TRAGÉDIA

O acidente envolvendo Renatinho no dia 16 de julho de 2010, e a posterior morte em decorrência dos ferimentos, estampou os principais jornais do Acre e da Bolívia na época. A comoção perante àquela tragédia fez com que mais de 2 mil pessoas acompanhassem os rituais fúnebres daquele jovem que teve sua vida interrompida de uma forma tão inesperada.

“O Governo na época deu uma força muito grande para o translado, passagens e etc. O corpo dele foi velado em Cochabamba, em Rio Branco e em Cruzeiro do Sul. Naquele momento, eu jurei perante ao caixão dele que eu iria continuar o legado dele da música. Hoje eu vivo e respiro a música”, disse.

Confira abaixo o videoclipe da canção, lançada nesta sexta-feira (12):

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