26 de abril de 2024

Médico acreano fala sobre ‘hepatite misteriosa’ que afeta crianças e cenário no estado

No dia 5 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi informada pela primeira vez sobre 10 casos de hepatite aguda grave de causa desconhecida em crianças pequenas, sem doenças prévias, na Escócia. A situação intrigou autoridades sanitárias e a doença, chamada popularmente de ‘hepatite misteriosa’ logo se espalhou, chegando a 20 países, inclusive o Brasil, onde , pelo menos 21 casos são investigados.

A principal característica em comum a todos os pacientes é que eles não apresentam infecção por nenhum dos cinco vírus causadores de hepatite nem tiveram exposição em comum a algum agente tóxico capaz de desencadear a doença.

Ao ContilNet, a Secretaria de Estado de Saúde disse que ainda não há nenhum caso suspeito no Acre, mas o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) informou que já está elaborando uma nota técnica para comunicar o risco aos municípios.

O médico infectologista Jenilson Leite lembrou que no Acre e na Região Amazônica, “temos um grande volume de pessoas com hepatites B e C, que se transmitem pelo sangue ou derivados do sangue, que podem ser transmitidas pelo uso de alicates, dentistas, seringas, cortes, transfusões, tudo isso pode fazer com que possas ser transmitido de uma pessoa para outra”, disse.

Sobre a hepatite misteriosa, que afeta crianças, geralmente, com idades de 11 meses a 5 anos, o médico disse que no Acre há grande incidência da hepatite A, “que é a mais comum entre as crianças, que causa quadro diarreico, e quando você percebe, a criança está com a barriga inchada, e a região do fígado, aqui do lado direito, abaixo da costela, começa a ficar dolorido, e aí vem a vontade de vomitar, pele amarela, olhos amarelos, urina mais escura e, quando muito forte, até as fezes ficam branca. Então esse é o quadro clássico, e estamos vendo agora neste mundo pós-coronavírus, essa hepatite aí de origem não identificada, assustando gestores, pais”.

O médico disse ainda o que fazer se a criança apresentar algum sintoma. “É uma hepatite que a causa não está clara, mas vem afetando crianças, e é importante médicos, enfermeiros, pais e mães, fiquem atentos, se sua criança começar com quadro de vômito, diarreia, febre, dor abdominal, urina mais amarelada, leve ela ao médico para ser investigado direitinho, para vermos se tem alguma relação com isso que está ocorrendo no mundo ou é um quadro clássico de alguma doença que já conhecemos”, explicou.

Jenilson Leite destacou que mesmo não havendo motivo para grandes alardes, a situação merece sim uma atenção especial. “Aqui existe na nossa região Amazônica existem diversas doenças que levam à inflamação do fígado, inclusive até alguns medicamentos causam a inflamação do fígado. Então deixo este alerta e orientações. Não é uma coisa que tenhamos que ficar em situação pavorosa, mas é algo que temos que ficar alerta, pois hoje em dia os vírus circulam muito mais rápido de um país a outro com as viagens de avião, você lembra que o coronavírus começou lá na China e já afetou todos os municípios acreanos, então as doenças estão circulando tão rápido quanto os homens, pois são eles que levam os vírus de um lado para outro, sempre foi assim”, pontuou.

SINTOMAS DA HEPATITE MISTERIOSA

Os principais sintomas registrados em hospitais de todo o mundo são icterícia (pele e parte branca dos olhos amareladas), que se dá pela incapacidade do fígado no processamento ideal de glóbulos vermelhos do sangue, e manifestações gastrointestinais, como dor abdominal, vômito, diarreia e náusea.

Outros sinais de doença aguda do fígado podem incluir febre; cansaço; perda de apetite; dor abdominal; urina escura; fezes de cor clara; dor nas articulações.

POSSÍVEIS CAUSAS

As investigações epidemiológicas e laboratoriais sugerem que pode haver uma relação entre a hepatite e a infecção pelo adenovírus 41F, causador de gastroenterite em crianças, mas sem histórico de provocar lesões no fígado, segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos.

Ocorre que nem todos os pacientes que desenvolveram a doença tiveram exame positivo para o adenovírus 41F. Alguns tinham sido infectados pelo coronavírus, causador da Covid-19.

“Neste momento, a causa das doenças relatadas nessas crianças ainda é desconhecida. Embora o adenovírus tenha sido detectado em algumas crianças, não sabemos se é a causa da doença. Não sabemos e estamos investigando o papel de outros fatores nessa doença, como a exposição a toxinas ou outras infecções que as crianças possam ter”, informa o CDC.

A Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) no continente americano, esclarece que algumas infecções graves por adenovírus provocaram hepatite em pacientes imunocomprometidos ou transplantados, por exemplo.

“No entanto, essas crianças não correspondem a essa descrição – elas eram previamente saudáveis.”

A OMS ressalta que existem mais de 50 tipos de adenovírus que podem causar doenças em humanos e que o 41 geralmente provoca diarreia, vômito e febre, muitas vezes acompanhados de sintomas respiratórios.

“Fatores como aumento da suscetibilidade entre crianças pequenas após um nível mais baixo de circulação de adenovírus durante a pandemia de Covid-19, o potencial surgimento de um novo adenovírus, bem como a coinfecção por Sars-CoV-2, precisam ser mais investigados.”

A organização reforça que não há evidências que suportem a relação com as vacinas contra a Covid-19.

As hipóteses relacionadas aos efeitos colaterais das vacinas Covid-19 não são suportadas atualmente, pois a grande maioria das crianças afetadas não recebeu a vacinação contra a Covid-19.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

A entidade avalia que não há informações suficientes para definir se há um surto. Por essa razão, considera o risco global baixo.

“É possível que estejamos tomando conhecimento de uma situação que existia antes, mas que passou despercebida porque eram poucos os casos”, acrescenta.

COMO PROTEGER CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O desconhecimento que ainda existe acerca desse tipo de hepatite faz com que medidas de controle eficazes não possam ser estabelecidas, segundo o ECDC.

“A exposição fecal-oral a vírus como adenovírus é mais provável em crianças pequenas. Recomendamos, portanto, reforçar as boas práticas gerais de higiene (incluindo a higiene cuidadosa das mãos, a limpeza e a desinfecção de superfícies) em ambientes frequentados por crianças pequenas”, afirma o órgão.

A Opas sugere também medidas que protejam da infecção pelo adenovírus. O uso de máscara é uma delas, além da etiqueta respiratória (cobrir a boca ao tossir ou espirrar).

Como é algo ainda raro, o mais indicado por especialistas é que os pais observem os sintomas da doença e, ao suspeitarem de hepatite, procurem um serviço de saúde. (Fonte: R7).

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