Helicóptero desaparecido: é possível sobreviver 10 dias na mata?

Especialistas explicam desafios e condições em que pessoas podem ter chances mínimas de sobrevivência após queda de helicóptero na mata

Imagem mostra homens fardados em aeronave nas buscas por helicóptero desaparecido - Metrópoles

Divulgação/Força Aérea Brasileira

A possibilidade de sobrevivência após a queda de um helicóptero em mata fechada, depois de 10 dias, é bastante baixa, mas existe, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles. As condições físicas de cada um após o acidente, o conhecimento da mata por ao menos um dos integrantes do grupo e a capacidade de ter resiliência mental em meio às adversidades são alguns dos fatores decisivos.

É nesse desafio pela vida que podem estar empenhadas as quatro pessoas que desapareceram no último dia 31 de dezembro, entre o Vale do Paraíba e o litoral norte de São Paulo, durante um dia de tempo fechado na Serra do Mar. A Força Aérea Brasileira (FAB) encerrou nessa quarta-feira (10/1) o 10º dia de buscas, sem encontrar vestígios da aeronave, um pequeno helicóptero modelo Robson 44.

O tenente da Defesa Civil Estadual Ramatuel Diego Dantas Silvino trabalhou bastante tempo no Corpo de Bombeiros, é especializado em resgates e diz que são muito baixas as chances de sobrevivência após as quedas de aeronaves de asas rotativas, como helicópteros, em mata.

Apesar disso, não descarta a possibilidade de alguém estar vivo, principalmente se o piloto do helicóptero conseguiu fazer alguma manobra para causar menos destruição durante a queda. “É uma possibilidade baixa, mas existe”, diz.

Segundo o representante da Defesa Civil, se a pessoa não estiver gravemente ferida, com fratura ou hemorragia, por exemplo, o principal é tentar manter a calma e avaliar a situação na qual se encontra.

Procurar abrigo e água são os principais objetivos para quem sobreviveu à queda e luta para se manter vivo, afirma Ramatuel. “A desidratação ocasiona confusão mental e por aí vai. Encontrar água é uma primeira coisa a se pensar, assim como abrigo”, diz.

O abrigo pode evitar que o corpo perca muito calor durante a noite em meio à mata, bastante úmida, a ponto de dificultar a obtenção de fogo.

A alimentação também é algo difícil de se obter. Segundo o tenente, em alguns casos, há técnicas em que as pessoas esfregam um fruto em pequena área sensível do corpo e notam se há reação tóxica ou alérgica, antes de ingerir, como alternativa. “A segunda parte seria caçar, mas isso exigiria conhecimento, ferramentas. É bem difícil”, afirma. Vale também um adendo sobre as hostilidades em meio à mata. “Os insetos são grandes inimigos”, diz Ratamuel.

Procurar no que restou do helicóptero ferramentas ou peças que possam ser usadas para obtenção de recursos é algo a se fazer. Também vale achar material refletivo que possa facilitar a localização em uma clareira por parte de outras aeronaves que estejam empenhadas nas buscas. “É manter a mentalidade positiva, a cabeça organizada”, diz.

Já o deslocamento em meio à mata fechada é algo desafiador, o que pode explicar o fato, por exemplo, de que ninguém tenha saído da mata fechada, caso exista algum sobrevivente. “Sem ferramenta de navegação ou conhecimento prévio, é possível que a pessoa ande em círculos ou faça grandes curvas. Difícil dizer se já deveriam ter saído ou não. É uma questão de sorte”.

Economia de energia

Oficial da reserva do Exército e atleta de corrida de aventura, Rafael Campos é também diretor técnico de alguns dos principais eventos nacionais de esportes outdoor. Para ele, também existe a possibilidade de haver sobreviventes da queda do helicóptero. “Se não tiveram um ferimento grave na queda, como uma hemorragia, é possível, sim.”

Campos diz que em uma situação extrema como essa é preciso entrar no “modo econômico”, evitando ao máximo gastar energia. “Uma das alternativas é tentar ficar em segurança até ser encontrado”, afirma. “Se eu estivesse nessa condição de queda [da aeronave], com alguém ou algumas pessoas feridas, acreditaria muito [mais] na chance de ser encontrado do que em tentar ficar andando vagamente até algum local”, afirma.

Em todo caso, se estivessem bem fisicamente, os sobreviventes da queda do helicóptero poderiam até buscar alguma clareira ou as bordas de uma represa, como há em Paraibuna, para serem mais facilmente encontrados em buscas aéreas, segundo o especialista.

Segundo Campos, porém, é bastante baixa a velocidade de deslocamento em meio à Mata Atlântica, muito fechada na região onde o helicóptero possivelmente caiu. “Diria que é algo de 2 km/h, 1 km/h, andando devagar. E a dificuldade é saber se orientar, para onde ir. Você vai para um lado, mas não sabe se tem algo lá ou não”, diz.

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