Pesquisadores afirmam que Acre pode ser uma das regiões do Brasil mais afetadas por eventos climáticos extremos

Após 2010, dois ou mais eventos têm sido registrados com frequência no mesmo ano em um mesmo município, registrando praticamente o dobro de eventos por ano

Um artigo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac), com o título “Extremos Climáticos na Amazônia: Aumento das Secas e Inundações no Estado Brasileiro do Acre”, publicado na revista “Perspectives in Ecology and Conservation”, afirmou que o Acre pode ser uma das regiões brasileiras mais afetadas por eventos climáticos extremos. Os detalhes da pesquisa foram divulgados nesta segunda-feira (22).

O estudo foi realizado pela parceria entre o mestrado em Ciências Ambientais, do campus Floresta da Ufac, a Universidade Estadual do Ceará, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e o centro de pesquisas americano Woodwell Climate.

Na pesquisa, os especialistas analisaram estudos, decretos estaduais e municipais sobre alertas climáticos, divulgados entre 1987 e 2023. Eles quantificaram a frequência de inundações, secas, crises hídricas e incêndios florestais no Acre, identificando suas causas e impactos.

Foi constatado ainda que 60% das ocorrências no período analisado foram de incêndios florestais ou queimadas em áreas desmatadas, 33% foram inundações e 6%, crises hídricas.

Os locais mais atingidos são duas das áreas mais populosas do Estado: a capital Rio Branco e o município de Cruzeiro do Sul, onde se verificaram tendências e semelhanças. “As regiões que têm menos floresta são aquelas em que os eventos climáticos mais ocorrem, mas o prejuízo está por todos os lados”, comentou a pesquisadora da Ufac e co-autora do estudo, Sonaira Silva.

O ano da virada

Além disso, o estudo chegou à conclusão que o ano de 2010 foi o ponto de virada para essas ocorrências extremas. Os pesquisadores identificaram 254 eventos climáticos extremos nos últimos 36 anos, com uma tendência crescente na frequência e intensidade desde 2010.

CONFIRA: Pesquisa diz que ano de 2010 foi ‘ponto de virada’ para eventos climáticos extremos no Acre

Segundo o estudo, até 2004, os registros indicavam a ocorrência de, em média, um evento extremo por ano nas cidades acreanas. No entanto, após 2010, dois ou mais eventos têm sido registrados com frequência no mesmo ano em um mesmo município, registrando praticamente o dobro de eventos por ano. “Esse é o padrão que está se mostrando para o futuro; o ambiente não está conseguindo se regenerar depois de cada evento e, a cada ano, está mais frágil”, explica a autora.

As perdas econômicas em larga escala foram notáveis, com o Acre liderando todos os estados brasileiros em custo financeiro por evento entre 2000 e 2015, estimado em mais de 15 milhões de reais a cada crise, segundo dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do Brasil.

Eventos climáticos extremos recentes no Acre

Em meados de março de 2023, o Rio Acre registrou uma elevação no nível das águas na capital que deixou mais de 13 mil pessoas atingidas pela enchente. O rio, que chegou próximo da cota histórica de 18,40 metros, atingiu diversos bairros e centenas de famílias perderam muitos móveis, e algumas delas chegaram a perder a própria casa em decorrência da enchente.

A enchente aconteceu em meados de março de 2023/Foto: Juan Diaz/Contilnet

Após o período de alto nível das águas, o Rio Acre voltou a secar no período de estiagem, que compreende os meses de julho a dezembro. Em 2023, o Acre e outros estados da Amazônia passam por uma seca severa e, por isso, o Governo Federal reconheceu situação de emergência decretada pelo governo do Acre, em decorrência da seca e possibilidade de desabastecimento de água para a população. Além da seca, o El Niño tem intensificado o calor extremo registrado no Acre.

Rio Acre na capital Rio Branco/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Em 2023, apesar da redução no número de focos de queimadas em alguns meses, se comparado ao mesmo período do ano anterior, o Acre ainda registrou altos números de focos de incêndios florestais.

Nos 15 primeiros dias de novembro de 2022, o estado registrou 896 focos de incêndio. Sena Madureira teve 155 focos, já Xapuri registrou 129, seguido de Brasiléia, com 112 focos de incêndio.

Em 2023, até o dia 14 de novembro foram notificados 105 focos de queimadas. Sena Madureira, ocupando o primeiro lugar, registrou 21 focos, seguida de Brasiléia, com 17, e de Assis Brasil, com 11 focos.

A redução na primeira quinzena de novembro também se apresenta quando comparada ao mesmo período, em outubro deste ano, quando foram registrados 1134 focos de incêndios. A queda chega a mais de 90%.

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