17 de junho de 2024

Namoro LGBT+: acreanos contam experiência de viver o amor em meio ao preconceito

A data do dia dos namorados é regada a romantismo e amor pleno, mas não para todos

O Dia dos Namorados é sempre um momento de celebrar os amores que se tem, e dividir com a pessoa amada um dia totalmente voltado para essa relação. Porém, em meio às flores, serenatas e chocolates, existem pessoas que têm esse direito cerceado.

O Brasil segue sendo, mesmo com muitos avanços dentro desta temática, o país que mais mata pessoas LGBTQIAP+ no mundo, pelo 14º ano consecutivo, em 2023, de acordo com levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a organização não governamental mais antiga da américa latina voltada à comunidade. 

Se este grupo de pessoas não tem liberdade sequer para viver de maneira plena, como teria a de amar?

Manoella Dantas tem 20 anos, e disse que aos 17 se entendeu como pansexual (sente atração por pessoas independente do gênero delas, de como se expressam para o mundo e de sua orientação sexual).

Ela diz que das primeiras vezes que sentiu algo por alguém, sempre vinha junto um sentimento de insegurança, o que dificultava para que ela se expressasse. “Era difícil pra mim partilhar sobre como eu me sentia. Demorei muito para demonstrar porque sentia medo de ser repreendida. Isso se repetiu por muito tempo devido ao ambiente e as pessoas que não demonstravam muito acolhimento nem respeito”, explica.

Ela diz que durante uma fase de sua vida não conseguia dividir e expressar seus sentimentos de maneira plena/Foto: Cedida

Sobre ser livre para poder demonstrar seus sentimentos da maneira como os sente, diz que, mesmo com todo o avanço social, ainda é algo complicado. “Exercer minha sexualidade sendo livre para sentir e demonstrar meus afetos é uma tarefa bem difícil. Me sinto, muitas vezes, encurralada pelas pressões que me são exercidas, pressões moralistas, sexistas, e preconceituosas em qualquer que seja o ambiente”.

Apesar dos entraves, Dantas diz que datas como esta, o dia dos namorados, devem sim ser celebradas, e que são momentos para ficarem marcados dentro de cada um. “Gosto dessas datas comemorativas porque gosto de fazer delas lembranças que levo pro resto da vida! Acho que é isso que importa pra mim, bons sentimentos e boas memórias”, enfatiza.

“Muitos espaços ainda não são seguros para nós LGBTQIA+, o risco e a insegurança continuam existindo. É sobre querer amar, mas ter medo de se machucar, deixa qualquer um em estado de agonia”, encerra ela.

Raelle Cristina tem 26, e pontuou que a sensação em volta do sentimento foi “agridoce”, ao mesmo tempo sentido uma liberdade, mas em contraponto com a sensação de estar fazendo algo ‘ilícito’.  “Não diria que medo, mas acho que o que eu mais senti foi um receio bem grande sobre tudo sabe? Por mais que eu não tivesse certeza do que viria a ser depois. E a reação foi incrível, me senti livre mas como se estivesse cometendo um crime”, contou.

Raelle explica que a relação com os pais, que são pastores, ainda é difícil/Foto:Cedida/Manoella Dantas

Astorige Carneiro tem 33 anos, e a cerca de 20 se reconhece dentro da comunidade, e conta que quando mais novo não via perspectiva e por isso evitava qualquer tipo de paixão.

“Eu demorei a me abrir para a possibilidade de sentir algo mais profundo por outro homem. Na minha época de adolescência, por exemplo, o casamento homoafetivo não era uma realidade, então eu pensava ‘pra que me apaixonar se a sociedade vai nos odiar?’ “, explica ele, que só aos 26 conseguiu amar e deixar ser amado.

Sobre sentir-se livre pra poder viver hoje a experiência de um casal, ele comenta tem essa liberdade, mas que estar seguro com as possibilidades em volta já representam o outro lado da moeda.

“Sei que tenho privilégios em um determinado recorte, mas mesmo isso não impede que eu e meu namorado sejamos alvos de violência homofóbica. Amar é realmente um ato de resistência”, pontua ele.

Victor a esquerda e Astorige a direita estão indo para o seu segundo dia dos namorados juntos/Foto: Cedida

Carneiro diz que apesar das inseguranças, já teve oportunidades de comemorar o dia dos namorados e que é uma oportunidade de celebrar o amor. “Meu namorado me fez uma surpresa no ano passado e me levou a um restaurante famoso aqui da cidade. Apenas os nossos pedidos foram atrasados, mesmo com o menu fechado para a data, questionamos o porquê do atraso, mas sem respostas”, questiona ele, pontuando que eram o único casal pertencente a comunidade LGBT+ no espaço.

Por fim, o relato de Cláudio (pseudônimo adotado por escolha do entrevistado), de 27 anos, conta que grande parte dos problemas envolvendo o julgamento pelo que ele sentia foram através de falas que recebia, de fora para dentro, oriundos de preconceitos externos.

“Boa parte da minha vida foi escutando o quanto isso era errado e pecaminoso (…) Eu acredito que os impedimentos foram muito mais meus do que dos outros”, reforça ele, sobre preconceitos que foram, de maneira direta ou indireta, repassados para ele.

O dia dos namorados deveria ser uma data repleta de amor, carinho e com todo o romantismo a que ela tem direito, entretanto, ainda é uma data que é cerceada e não comemorada de maneira plena por uma parcela da população. Como diria um cantor pop nacional: “Deus não fez o amor tão lindo pra ser proibido e se fosse, eu ainda te amava”.

PUBLICIDADE
logo-contil-1.png

Anuncie (Publicidade)

© 2023 ContilNet Notícias – Todos os direitos reservados. Desenvolvido e hospedado por TupaHost