BC volta a aumentar a taxa de juros no país e índice está prestes a chegar a 15% ao ano

Índice é o mesmo enfrentado em 2015, no auge da crise do governo da presidente Dilma Rousseff

Na quarta-feira (29), pela quarta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de juros da economia, elevando a Selic em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano.  Foi a primeira reunião do colegiado em 2025 e também a primeira desde a posse do economista Gabriel Galípolo, ex-diretor de Política Monetária do BC e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, na presidência da autarquia – Galípolo foi indicado ao posto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sucedeu a Roberto Campos Neto, que havia sido indicado por Jair Bolsonaro (PL).

BC volta a aumentar a taxa de juros no país e índice está prestes a chegar a 15% ao ano. Foto: Getty Images

De acordo com o mais recente do Relatório Focus, do BC, divulgada na segunda-feira (27/1), os analistas do mercado financeiro estimaram a Selic para o fim de 2025 em 15% ao ano, mesma projeção da semana anterior. Para 2026, a expectativa é que os juros fiquem em 12,25%.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central (BC) para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.

Quando o Copom aumenta os juros, como agora, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica. Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. Não é o que se deve esperar neste momento.

Em dezembro do ano passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou em 0,52%, o que representou uma alta de 0,13 ponto percentual em relação a novembro (0,39%). No acumulado de 2024, a inflação no país foi de 4,83%.

Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para o ano passado era de 3%. Como havia um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta seria cumprida se ficasse entre 1,75% e 4,75% – o que não ocorreu. Desde que o sistema de metas de inflação foi implantado no Brasil, em 1999, foi a oitava vez que o alvo para o IPCA não foi alcançado. Para 2025, a meta de inflação também é de 3%.

Os impactos da nova elevação da Selic atingem diversos setores da economia, com os efeitos distribuídos entre empresas e o cidadão comum – que sente no bolso e no dia a dia os efeitos do juro alto. Como a Selic é uma taxa de referência para o custo das linhas de crédito, a tendência é que, quando sobe, empréstimos e financiamentos se tornem mais caros.

O aumento dos juros leva bancos e outras instituições financeiras a cobrarem juros mais altos nesse tipo de operação. Em sentido contrário, quando a Selic cai, os juros do crédito ficam mais baratos.

Os efeitos da alta dos juros sobre o crédito, que atingem diretamente empréstimos e financiamentos, afetam, por tabela, o nível de consumo da população. Com o aumento dos custos de produtos e serviços, é natural que as pessoas comprem menos. Em contrapartida, quando há queda da Selic, o consumo tende a crescer.

Apesar do efeito positivo de conter a escalada da inflação, uma das consequências do aumento da taxa de juros é o esfriamento da atividade econômica – o que pode resultar em diminuição de contratações ou mesmo no corte de vagas por parte das empresas, afetando o emprego.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego no país foi de 6,1% em novembro do ano passado (último dado divulgado), o menor índice da série histórica iniciada em 2012. O resultado fechado de 2024 será divulgado na sexta-feira (31).

Índice é o mesmo enfrentado em 2015, no auge da crise do governo da presidente Dilma Rousseff . Foto: Reprodução

Além de possíveis reflexos em contratações e demissões, a Selic mais alta afeta as decisões de investimento das empresas. Os brasileiros que possuem investimentos no mercado também devem ser impactados pela decisão do Copom de subir os juros. O aumento da Selic beneficia os investimentos de renda fixa, cuja remuneração oferecida é baseada nos juros.

Entre esses investimentos, estão os títulos públicos do governo federal, os CDBs emitidos pelos bancos, letras de crédito e debêntures. Em períodos de juros elevados, todos esses papéis costumam ter uma rentabilidade maior. Por outro lado, quando a Selic cai, o retorno também tende a diminuir.

O Copom se reúne a cada 45 dias. No primeiro dia de reuniões, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas da economia no Brasil e no mundo, além do comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do comitê definem a taxa Selic.

O Copom tem mais sete reuniões programadas para este ano para definir a taxa básica de juros do país. O próximo encontro do colegiado com essa finalidade acontecerá nos dias 18 e 19 de março. Nessa quarta, o comitê sinalizou que deve elevar a taxa básica de juros em mais um ponto percentual. Com isso, chegará a 14,25% ao ano, o mesmo patamar de julho de 2015, durante a crise no governo Dilma Rousseff.

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