Pode ser só mais uma. Pode ser a primeira “à vera”. Também pode ser a última. Ou pode ser a Copa do Mundo de Neymar. Ele chega ao Catar em grande fase no Paris Saint-Germain, rodeado de jogadores em ascensão e respaldado por uma das seleções favoritas ao título.
Esta é a primeira reportagem da série “O Cara da Copa”, sobre os três craques considerados pelo ge como os principais candidatos ao posto de melhor jogador do Mundial. Os outros são Messi e Benzema.
O Brasil de Neymar estreia no dia 24 de novembro, contra a Sérvia, às 16h (de Brasília).
INÍCIO EMPOLGANTE
Não é exagero dizer que Neymar teve nesta temporada o seu melhor início de toda a carreira. Nos 10 primeiros jogos oficiais pelo Paris Saint-Germain, marcou 10 gols e deu sete assistências.
Sem lesões nos últimos meses, participou de 90% dos jogos do PSG até agora (perdeu dois por suspensões).
Com 15 gols e 11 assistências, ele tem média acima de uma contribuição para gol por partida. Esse é um dos melhores anos desde que chegou à Europa, até este ponto da temporada.
O craque brasileiro é o maior garçom do Campeonato Francês e o artilheiro, ao lado de Mbappé. O Paris Saint-Germain lidera a Ligue 1, avançou na Liga dos Campeões e ainda está invicto na temporada.
— É com certeza um começo de temporada mágico. Falo como amigo, como um jogador próximo, que vive o dia a dia. Mentalmente, os treinos, tudo que ele está fazendo, extracampo. É uma temporada em que está muito focado. Sabe que é uma temporada importante, dentro de campo ele está fazendo valer tudo o que ele está fazendo de diferente — contou o zagueiro Marquinhos, ao ge.
Nem tudo foram flores. A desavença com Mbappé sobre cobranças de pênalti e, no geral, a polêmica sobre suposta má relação com o atacante francês repercutiram nos últimos meses.
Neymar se dedicou nas férias. Trabalhou duas semanas em Mangaratiba antes de se reapresentar ao PSG (com uma semana de antecedência). A confiança mostrada na pré-temporada se concretizou. A bola está entrando de tudo o que é jeito. Falta só na Copa do Mundo.
“CEREJA DO BOLO”
É assim que Zico, por exemplo, vê Neymar na seleção brasileira. A realidade hoje é que o Brasil não é mais dependente dele.
Não que o craque tenha perdido protagonismo na equipe. Ele foi o artilheiro da Seleção nas eliminatórias sul-americanas, com oito gols em 10 jogos. Fez uma Copa América consistente em 2021.
Neymar está a dois gols de igualar a marca de Pelé (77) como maior artilheiro do Brasil, nas contas da Fifa.
O ciclo para a Copa de 2022 ficou marcado pela ascensão de vários nomes para o ataque. Vini Jr, Raphinha, Antony, Rodrygo… Jovens que têm Neymar como principal referência, não só dentro de campo. Além disso, o técnico Tite soube organizar o time sem ele.
— Gostaria que vocês tivessem uma câmera escondida para ver como ele age no dia a dia. E como ele dá confiança aos garotos e os encoraja. Essa combinação com jogadores mais jovens, mas que são recebidos bem e se sentem à vontade, dá uma química legal — comentou Tite, sobre a liderança de Neymar sobre atletas mais jovens.
Na reta final de preparação, o Brasil venceu sete dos oito jogos que disputou em 2022. Chega à Copa do Mundo como líder do ranking da Fifa. E é a seleção do top 10 com o melhor ataque no ano: 27 gols.
Neymar disputou 31 dos 50 (62%) jogos oficiais da seleção brasileira no atual ciclo. Marcou 18 gols e deu 20 assistências. O aproveitamento com ele em campo foi de 84,9%. Sem ele, foi de 77,1% em 19 partidas.
Ele ficou fora da Copa América de 2019 por causa de uma lesão no tornozelo direito. Apesar desse desfalque, o Brasil foi campeão em casa.
A trajetória do atacante na Seleção é marcada por contusões em momentos-chave. Em 2018, ele sofreu uma fratura no pé direito, ficou três meses afastado e só voltou a jogar às vésperas da Copa. Neymar deixou a Rússia sob críticas e, ao mesmo tempo, foi quem mais sofreu faltas: 26 em cinco jogos. O Brasil caiu nas quartas de final para a Bélgica.
Ele tem no currículo 10 jogos pela Seleção em Copas: seis vitórias, três empates e uma derrota, com seis gols e duas assistências.
Duas lesões ocorreram antes do Mundial de 2014: uma no tornozelo direito e outra no pé esquerdo. A pior foi durante o torneio: fratura na terceira vértebra lombar, nas quartas de final contra a Colômbia. Por isso, não disputou a semifinal do 7 a 1 para a Alemanha.
Neymar chega 100% fisicamente em 2022, na busca por redenção.
VOLTA POR CIMA
Culminar o brilho dos últimos meses pelo Paris Saint-Germain com uma grande atuação na Copa do Mundo pela seleção brasileira coroaria sua reabilitação depois de um ano difícil.
A temporada passada (2021/22), seu quinto ano no PSG, foi aquela com o menor número de gols (13) desde que chegou à Europa. O brasileiro sofreu com lesões, suspensões e a irregularidade da equipe.
— Já escutei muita coisa na minha carreira, e escuto até hoje. Olho e digo que é sem sentido. Impossível ter alcançado os números na minha carreira hoje, sem ter me cuidado, sem ter treinado, sem ter batalhado para conquistar isso tudo. Não é à toa. As críticas injustas nesse sentido me magoam muito, porque ninguém conhece a realidade que eu passo — afirmou Neymar, em entrevista ao ge.
O pior problema foi a grave lesão nos ligamentos do tornozelo esquerdo, em novembro de 2021. Neymar perdeu 13 jogos — 26% do total do PSG na temporada — por causa dessa contusão.
O desempenho abaixo das expectativas fez com que ele ficasse fora da lista de finalistas para a Bola de Ouro de 2022. Neymar tampouco foi relacionado para o top 3 do The Best de 2021.
Sua volta à ação se deu perto do confronto com o Real Madrid, pelas oitavas da Champions, e o Paris Saint-Germain acabou eliminado. O camisa 10 passou em branco no torneio pela primeira vez na carreira.
Depois disso, o atacante ficou 14 jogos sem se machucar, teve papel importante na reta final do Campeonato Francês e ajudou a equipe a conquistar o título. Ao fim, desabafou:“Vaias? Vão ficar cansados”.
De acordo com a imprensa francesa e jornais da Espanha, Neymar foi dado como “negociável” pelo clube durante a última janela de transferências de verão. Ele disse em julho que não havia sido procurado e que queria permanecer.
Neymar ficou. Deu duro nas férias, começou focado e está jogando muito, sem lesões. Agora, pode completar a volta por cima na Copa.